Top 50 da CENA – Um pódio todo para a Luiza Lian, em retrospecto necessário. Ainda que tivéssemos novas do FBC. E umas canções do futuro

Estamos aqui. Talvez por todos os motivos errados, mas estamos aqui hipnotizado pelo novo álbum de Luiza Lian. E por isso é dela o pódio todinho desta semana. E isso porque ainda teve uma pedrada do sempre interessante FBC, que pegou o quarto lugar. E tem outras coisas mais, tipo a Nina Maia. Bem, hora de filosofar um pouco.

Foram cinco anos de construção para o novo álbum, “7 Estrelas | quem arrancou o céu?”. Sendo assim, é até injusto ensaiar uma ideia sobre o trabalho poucos dias após seu lançamento. Tem muito para ser absorvido e observado no mais recente disco da cantora paulistana Luiza Lian. De cara, salta a produção ousadíssima, com pilhas de distorção nas bases e vozes – parece que ela mergulhou fundo em ousadias do hip hop, trap e funk. Inspirada nessa técnica, ela se multiplica em muitas vozes para cantar os fragmentos de nosso tempo. De 2018 até aqui foram muitas dores, nem todas curadas – se estivessem, o Estado não se sentiria no direito de chancelar chacinas. Soma-se aí Pandemia, Bolsonaro e o celular enquanto uma prisão do tempo e da nossa cognição e imaginação. As letras falam disso. Outra afirmação do disco é a potência da música como veículo de transporte (“A Minha Música É”), de desejo (“Homenagem”) e política (“Forca”). Se for para pensar em um resumo rápido, soam melhor as palavras da própria Luiza: “O transcender dessa nova ilusão para reconexão da matéria, da natureza e aí sim do transcendente, do infinito, do mistério, do verdadeiro indivisível, irreproduzível, inexplicável”. Do mágico virtual para o real mágico. É por aí.  

Dos muitos bons momentos de “O Amor, o Perdão e a Tecnologia Irão Nos Levar para Outro Planeta”, o mais recente lançamento do figura FBC, se destaca a brisa boa de “O Que Te Faz Ir para Outro Planeta?”, música que tem na sua letra o título do álbum. Sem um momento para versar, FBC se entrega ao beat e ao clima da música para alcançar quase um gospel que vai crescendo aos poucos até chegar em vocal de notas bem altas, quase gritadas. Construção ousada. Ficou massa demais. 

Procurando uma nova grande voz para chamar de sua? Nina Maia, cantora e compositora talentosa da nova safra da CENA, pode ser essa opção. Com referências que passam por Billie Eilish e Marisa Monte, uma conversa de estilos e gerações, Nina impressiona pelas texturas oferecidas aqui na voz e também no arranjo da música, sem medo de quebrar expectativas. “Sinto que a letra reflete a dualidade da luz e da sombra, foi o que eu quis deixar como mensagem”, escreve Nina. Que música! (Ela sai nesta meia-noite, com vídeo bonitaço. Traremos aqui para a playlist nos primeiros momentos da quinta-feira)

Viemos do futuro para contar que é belíssimo o novo single do cantor mineiro Gui Hargreaves, que sai na sexta-feira. “Somewhere to Start” marca o começo da divulgação do que será o álbum “Silent News”, todo em inglês. A escolha pela língua estrangeira é explicada pela presença de nomes como Erlend Oye, do Kings of Convenience, e os italianos da banda La Comitiva, além de Pier David Carone e Marco Castello. “O som do projeto faz uma ponte entre as influências de violões hispânicos e latinos com indie pop”, explica Gui.  Normal, Gui Hargreaves faz uma música universal, extrapolando a CENA. Ou a levando para outros lugares. Outra que chega mais tarde na playlist. Mas chega.

Sambinha psicodélico do disco novo dos ótimos cronistas do cotidiano Garotas Suecas. Ou seria uma jovem guarda em batucada que complementa a outra bem boa, mas numa outra linha, “Não Está Tudo Bem”, faixa que vem depois em “1 2 3 4”, o álbum. E desta vez cantada pela Irina. Classe.

Nestes dias para trás foi o tal do “Dia do Rock”, uma data que só existe no Brasil e que parece cada ano contribuir em deixar o gênero mais reacionário ou saudosista, se quiser uma palavra mais leve. Ajudou a cair nossa ficha do quanto o álbum “Jesus Ñ Voltará”, do cearense Mateus Fazeno Rock, é a antítese desse processo. Se há um desejo que o rock volte aos seus bons momentos, seja lá o que isso signifique, Mateus mostra que ainda há muito a ser explorado no estilo. Com voz única no timbre e na forma de escrever o texto, o músico aproveita o melhor da ideia do rock, pelo menos a de sua essência: a subversão do estabelecido. Guitarras pesadas conversam com funk, trap e o que mais couber na mistura. Se esse argumento não te interessar, acredite: “Pode Ser Easy” poderia ser o hit do ano se tocasse massivamente em rádios. O rock está por aí. É só ir fazeno. 

Quem deu essa dica para a gente foi a semibrever e semiloader Dora Guerra. Jasmim é uma holandesa-brasileira (mineira, nas palavras de Dora). Seu som fica entre um folk, um indie… cinemático, sabe? Nascida em Roterdã, Jasmin conta que no álbum quis deixar evidente seu gosto por Clube da Esquina por aqui e pega a deixa de Milton e cia para colocar seus molhos holandeses. Deu bom, viu?    

Fábio Kalunga foi dos nomes históricos do underground carioca. Partiu jovem de tudo em 2017. Líder da banda Cabeça, Fábio também foi um dos seletores em BNegão & Seletores de Frequência. Paulada que não chega a ter dois minutos, “Salve Kalunga” é uma celebração a todas as amizades abençoadas por punk e skate.  

11 – The Mönic – “Atear” (5)
12 – Ema Stoned -“Vale da Lua” (6)
13 – Lirinha – “No Fim do Mundo” (7)
14 – João Donato – “Flor de Maracujá” (8)
15 – Ava Rocha – “Disfarce” (12)
16 – Terraplana – “Conversas – Ao Vivo” (13)
17 – Holger – “Vida Orgânica” (14)
18 – Zudizilla – “Tempo Ruim” com Don L (15)
19 – Terno Rei – “Mercado” (16)
20 –  Sain – “Aquelas Coisas Mais pra Frente” (17) 
21 – Letrux – “As Feras, Essas Queridas” (18)
22 – Garotas Suecas – “Gentrificação” (19)
23 – Wilson das Neves e Rodrigo Amarante – “O Que É Carnaval” (20)
24 – Jadsa e YMA – “Mete Dance” (21)
25 – ÀIYÉ – “OXUMARÉ (Viridiana Remix)” (22)
26 – Raffa Moreira – “Beleza Exótica” (com Matuê e Jay Kay) (23)
27 – Rico Dalasam – “Espero Ainda” (24) 
28 – Troá! – “Que Pena” (26)
29 – Marcelo D2 – “Tempo de Opinião” (com Metá Metá) (27)
30 – Coruja BC1 – “Versão Brasileira” (com FEBEM e MC Luanna) (28)
31 – Luisão Pereira – “Licença” (com Luíza Nery) (29)
32 – dadá Joãozinho, Alceu e Bebé – “Cuidado!” (30)
33 – Xis – “Isnaipa” (31)
34 – Ítallo – “Tarde no Walkiria” (32)
35 – Clarice Falcão – “Chorar na Boate” (33)
36 – Ruadois – “Sprint” (34)
37 – Dj RaMeMes – “Vamo Fuder” (35)
38 – Zé Ibarra – “Vou Me Embora” (36)
39 – Rincon Sapiência – “XONA” (37)
40 – TUM – “DTF” (38)
41 – L’homme Statue – “Espírito Livre” (39)
42 –  ÀTTØØXXÁ – “Dejavú” (com Liniker) (40)
43 – Mahmundi – “Meu Amor – Reprise” (41)
44 – BIKE – “Além-Ambiente” (42)
45 – Majur – “Tudo ou Nada” (43)
46 – Jards Macalé e Maria Bethânia – “Mistérios do Nosso Amor” (44)
47 – Marina Sena – “Meu Paraíso Sou Eu” (45)  
48 – Julia Mestre – “do do u”  (46)
49 – Aláfia – “Cadê Meu Pai?” (47)
50 – Os Tincoãs – “Oiá Pepê Oia Bá”  (48)

* Na vinheta do Top 50, a cantora Luiza Lian, sob foto de Larissa Zaidan.
** Este ranking é pensado e editado por Lúcio Ribeiro e Vinícius Felix.

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