Top 50 da CENA – Sant bota o rap no topo. Pabllo vem descontrolada em segundo. Tim Bernardes traz a Rita Lee para o pódio

Agora não dá mais para reclamar que a música brasileira anda devagar em 2023. O rapper Sant lançou sua primeira do ano com pique de clássico do rap, Pabllo prepara um novo álbum que promete ser um dos grandes lançamentos do ano e muitas outras coisas interessantes não param de rolar. De uma modinha perdida de Rita Lee até encontros emocionantes promovidos pelo pianista Jonathan Feer. Do jazz ao “chão, chão, chão” – um pouquinho de tudo, pois tudo conversa.  

Já elogiamos muito por aqui o rapper Sant, cria da zona norte do Rio de Janeiro. Ele e seu rap dos novos bandidos é das coisas mais quentes e viciantes do momento. Sua primeira música de 2023 faz reverência a Gal e Djavan no sample e tem uma construção narrativa que levanta cenas dignas de um bom filme de ação. Ao mesmo tempo puxa uma sagaz reflexão sobre a relação do desamparo social com a violência  – “Com qual balança equilibra o pesar? E são quantas penas para fazer valer? Se qualquer coisa que der pra ganhar vai ser muito mais do que eu tenho a perder” é uma sequência de versos que nasce clássica. Vale sacar o vídeo com direção de outro sempre magistral, João Wainer. 

A ansiedade está forte para o novo álbum da Pabllo Vittar. Quem lê a Popload há um tempo sabe que “Batidão Tropical”, seu disco anterior, falou alto com a gente – especialmente pela visão de puxar a conversa com o pop global a partir do Brasil e não o contrário, que é o mais comum. E, pelo que a gente sabe até agora, isso se mantém em “Noitada” – a imersão de Pabllo pelos sons da noite, um mergulho na pista, indo de funk, hyperpop e pagodão. “Descontrolada” já frita nos timbres, na vozes e na pegada da letra – “Vai dar PT”, avisa Mc Carol, apelando para os múltiplos sentidos dessa frase. Liberdade é o canto pós-pandemia dentro de uma agitada nova vida noturna. Ao longo da semana falaremos mais disso. 

A gente não sabia que precisava tanto escutar o Tim Bernardes cantando um lado B da Rita Lee até escutar o Tim cantando esse lado B da Rita Lee. “Modinha” é uma música muito especial que estava meio de canto no álbum “Babilônia”. Tim pegou a peça, tirou algum pó, lixou arestas e lustrou até o brilho cegar. Uma cançao sobre buscar alguma paz. E ele postou essa justamente no aniversário de São Paulo. Todo paulistano entendeu o recado.  

Talvez o nome Danilo Cutrim não te ligue à pessoa imediatamente. É bem verdade que nem o próprio Danilo curtia muito o próprio nome – esse gosto é coisa recente. E tem a ver com o início de sua carreira solo. Você deve conhecer Danilo através de suas bandas famosas – Forfun e BRAZA – e agora ele se reapresenta, um tanto para nós e um tanto para si mesmo. “Azul” é um álbum formado por encontros ao longo de dois anos. Como ele diz, um álbum orgânico, feito sem pressa, artesanal. E sua sonoridade final tem o tom de sua feitura, um refresco musical para verões quentes. 

“Regra 34” é o nome do premiado filme de Julia Murat, onde uma jovem advogada também trabalha como cam-girl, abrindo uma ampla discussão sobre violência e erotismo. Na trilha, cuidada junto com Lucas Marcier, Maria Beraldo apresenta inéditas como “Truco”, que faz uma sinopse melhor do filme do que nossa breve tentativa. Observe a letra. Vá ver o filme nos cinemas. 

No excelente “Liberdade”, novo álbum do pianista Jonathan Ferr, uma série de vocalistas dá a letra para as melodias de Ferr, até aqui um compositor na maior parte do tempo de temas instrumentais. Nessa dupla carga de emoção, “Preterida” é sem dúvida o maior momento do álbum. A dupla Luna Falcão e Melly deixam transbordar as emoções que doem quando a pessoa decide ser fiel a si mesma. Um defeito? Nenhum, mas a parte final da música, que ganha um beat, poderia ser mais longa, vai. Queremos um extended mix. 

Nenhum outro lançamento recente causou mais que o novo do Mu540. Comoção dos fãs que tentaram colar na apresentação de lançamento do DJ até da meia dúzia de haters desavisados. “Repete comigo: funk é música eletrônica”, fica o recado que viralizou também. E Mu540 cumpre a sua promessa de sempre trazer impacto no seu som – ou quando poderíamos um proibidaço que teria uma base sonora tão nostálgica? Para entortar sua mente. Toca alto, DJ.   

E, por falar em proibidaço, uma sacanagem todas as plataformas de música ainda manterem fora do ar a nova da Jup do Bairro. Se foi a letra (“Jup-me, agora lambe-me, faz um boquete, vai. Quero sexo”) ou a base de “Satisfaction” do produtor e DJ italiano Benny Benassi, que fizeram a faixa sair do ar, não sabemos. Quem não ouviu ainda agora só ao vivo, pelo visto. 

Betina chega com tudo nesta música que já pede para que você tire o dedo da tela e aproveite o presente. Se tem pedido mais certeiro que esse no ansioso 2023, desconhecemos. É sobre diminuir o ritmo, permitir a chegada do outro, como chega bem o feat. da Luiza Lian. Sobre sentir. Voltar a ser feliz. Vibes.

Alguém comentou no YouTube do Terraplana, banda curitibana formada por Stephani Heuczuk (voz e baixo), Vinícius Lourenço (voz e guitarra), Cassiano Kruchelski (voz e guitarra) e Wendeu Silverio (bateria), uma das últimas contratações do cast do selo Balaclava: “Bora ficar triste (porém feliz)”. Não achamos que possa existir jeito melhor de descrever o som dessa turma. Ficamos feliz de sentir essa tristezinha. 

11 – Karen Jonz e CSS – “Coocoocrazy (com CSS) (5) 
12 – 2DE1 – “Sin Perder La Ternura Jamás” (6)
13 – Sara Não Tem Nome – “Agora” (8)
14 – Lucas Santtana – “O Paraíso” (9)
15 – ÀIYÉ – “Onda” (10)
16 – Letrux – “Esse Filme Que Passou Foi Bom” (11)
17 – Marcelo D2 – “POVO . DE . FÉ” (12)
18 – Lurdez da Luz – “Devastada” (13)
19 – Kamau – “DoisTrês” (14)
20 – Anelis Assumpção – “Rasta” (com Mahmundi) (16) 
21 – Funmilayo Afrobeat Orquestra – “Wikipreta” (com Monna Brutal) (17)
22 – TUM – “Polychrome” (18)
23 – JP – “Arroz de Polvo (com Holger)” (19)
24 – Wry – “Carta às Moscas” (20)
25 – Tássia Reis – “Rude” (21)
26 – Der Baum – “I Got a Soul” (22)
27 – Marina Gasolina – “Looking Through The K-Hole” (23)
28 – Luedji Luna – “Blue” (24)
29 – Assucena – “Menino Pele Cor de Jambo” (25) 
30 – Rincon Sapiência – “MAGIA” (com Menor MC) (26) 
31 – Rashid – “Linha de Frente” (com Amiri e Don L) (27) 
32 – Cidade Dormitório – “Aribé I” (28)
33 – BK – “Continuação de um Sonho” (29)
34 – Mundhumano – “Guerreiras Urbanas” (com Conceição e Flávia Carolina) (30)
35 – Sulamericana – “Dia Bom” (31)
36 – Gal Costa  – “Baby” (32)
37 – Dozaj – “Parede Alta Vista Curta” (33)
38 – Tuyo – “Sonho Antigo” (34)
39 – Russo Passapusso, Antônio Carlos e Jocafi – “Aperta o Pé” (35)
40 – Sci Fi – “Sixteen” (36)
41 – Planet Hemp – “Taca Fogo” (37)
42 – VHOOR – “Balinha da Alegria” (38)
43 – Pato Fu – “A Besta” (39)
44 – Lucas Santtana – “Vamos Ficar na Terra” (40)
45 –  Trupe Chá de Boldo- “Ouça Onça” (41)
46 – Gab Ferreira – “Laughing” (42)
47 – Joy Sales – “Signos Fincados” (43)
48 – Far from Alaska – “Olha (com Lenine)” (44)
49 – Djonga – “Até Sua Alma (com Tasha e Tracie) (45)
50 – Janu – “Vey”(48)

***
* Entre parênteses está a colocação da música na semana anterior. Ou aviso de nova entrada no Top 50.
** Na vinheta do Top 50, o rapper carioca Sant.
*** Este ranking é pensado e editado por Lúcio Ribeiro e Vinícius Felix.

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