Top 50 da CENA – Olha a Bebé de novo, nas alturas. Na boa companhia de Max B.O. e Edgar

Bebé again. A mina arrasa demais. E dá o tom de mais uma semana na nossa curadoria do melhor da música brasileira. Com direito a versões de músicas populares, uma ida à universidade favela e uma parceria que cruza fronteiras. Impossível não achar possível.

Ela conseguiu de novo. Sim, vamos repetir o mote que usamos com Billie Eilish nesta semana. Mas o papo aqui é Bebé, jovem revelação da música brasileira que chega agora ao seu segundo álbum de estúdio, “Salve-Se”. Uma das missões do trabalho, de acordo com a própria Bebé, é criar um ponte de comunicação direta com a turma de sua idade – por isso, uma atenção ao que há de mais dançante entre R&B, funk e trap – inclusive com altos speed-flows da Bebé. Além dos ritmos, a opção das letras é mandar a real direta e reta, sem muito floreio. Quando é sobre dor e saudade, você vai entender de prima. Recado dado, Bebé.

Craque do freestyle, Max B.O. também resolve muito bem no registro que vai para o disco. “Estrada Aberta” é seu terceiro trabalho de estúdio e brilha em buscar algo da essência do gênero. “A sonoridade está especialmente conectada com a raiz do rap, voz e batida”, caneta Max. Nessa volta ao básico e a essência impressiona o quanto cada música fala logo ao coração de cada ouvinte. Direto e reto. 

Por falar em reconexão, Edgar também resolveu em seu sétimo álbum buscar um retorno ao ínicio. “Universidade Favela” foi gravado após o compositor voltar a morar na Favela do Coqueiro durante a pandemia – o que combinou com uma sensação do compositor paulista de que tinha perdido a “comunicação com o seu cerne”, como disse em entrevista à Apple Music. Nessa busca, Edgar não abriu mão do seu flow já clássico e marcante, nem das rimas que vão parar em lugares completamente inesperados. Incisivo, marcante e único. Quando se fala em universidade, Edgar é mais professor que aluno.  

Em “Jeneci Por Jeneci”, ficamos sabendo como a sanfona entrou na vida de Jeneci. É um interlúdio que vale por uma biografia. É tudo forró. E isso explica a opção do compositor em fazer seu primeiro álbum como intérprete de hits populares de diferentes épocas. Tem Pabllo Vittar, tem Marilia Mendonça e tem Leandro e Leonardo, com uma favorita dos indies – o Terno toca bastante essa por aí – “Um Sonhador”.  

Esta mereceu entrada dupla, uma lááá na lista de lançamentos estrangeiros e outra aqui na nossa nacional. O encontro de Esperanza Spalding & Milton Nascimento no álbum “Milton + Esperanza”, previsto para Agosto, será o último disco de Milton, conforme o próprio músico anunciou em seu Instagram. O disquinho trará releitura de clássicos, como é o caso deste single “Outubro”, mas também inéditas, tipo “Um Vento Passou”, composição de Milton com Márcio Borges, seu primeiro parceiro. É o fim de um ciclo.

Na praia de Flora, a temperatura sobe ao entardecer em “Eu Tenho Sal”. Se aqui a gente fica com meias palavras, invista nos versos certeiros dela para entender a conversa toda. “Eu conto ou tu conta que eu quero você”, ela canta em uma melodia arrastada, quase preguiçosa? Mas é desleixo? Pelo contrário – é esse calor, sabe? 

Em vez de avançarmos com políticas sérias para tratar de maconha no Brasil, a situação parece se apertar. A luta do Planet Hemp nunca foi tão importante. E ficou bonito o novo vídeo da banda gravado na fazenda Sofia Langenbach, que graças a uma ordem judicial produz medicamentos à base de maconha desde 2020. “São 10 mil famílias beneficiadas com medicamentos produzidos pela APEPI”, informa uma mensagem ao final. Detalhe para a duração do vídeo: 4m20s. “Jardineiro não é traficante, ouça, repita”. 

“Boca Cheia de Frutas” é o primeiro álbum de inéditas de João Bosco desde que Aldir Blanc, seu mais fiel parceiro, foi vitimado pela Covid-19, perda que recentemente completou 4 anos. Mas Aldir está presente no novo trabalho de João e com uma inédita. “E aí?” é composição atribuída a Bosco e Blanc que João simplesmente não se lembrava de ter musicado. Acontece que a parceria foi oficializada e tudo quando publicada todas as letras de Aldir. Problema a ser resolvido: aqui finalmente a letra ganha música – e uma música lotada de pequenos acenos ao velho amigo. Dos assobios à citação de “Tive Sim”, de Cartola, a predileta do Aldir em rodas de violão. Que presente é “E aí?”.  Outro destaque do disco: “SobreTom”, um tema instrumental que reverencia Tom Jobim. É impressionante o trabalho de João aqui. Parece mesmo algo escrito pelo maestro soberano.

Nos primórdios do Top 50, lá em 2020, a gente anotou o Pluma como novidade que chamava atenção. Naquela altura, eram só alguns singles daquele time que nasceu de um TCC. E na época, já era gritante a qualidade da turma em tirar um BAITA som no estúdio, talvez resultado justamente do curso em produção. Quatro anos depois estamos aqui prestes a ouvir o primeiro disco de estúdio de Diego Vargas, Guilherme Cunha, Lucas Teixeira e Marina Reis. “Corrida!”, primeira prévia, deixou a gente ansioso! Música apaixonante com suas diferentes caras e andamentos em deliciosos cinco minutos de duração. Para que pressa na corrida, não é?

Para dar mais um brilho no excelente “Jesus Ñ Voltará”, Mateus Fazeno Rock adicionou a track “Madrugada” em uma versão de luxo do álbum lançado no ano passado. A nova versão do disco marca o início do contrato de Mateus com a Deckdisc – nada mais justo, a nossa maior gravadora independente cuidando de um dos nossos maiores artistas independentes. Que venham bons discos!

11 – Moreno Veloso – “A Donzela Se Casou (com Maria Bethânia, Caetano Veloso, Tom Veloso e Zeca Veloso)” (4)
12 – Barro – “Vira-lata Caramelo” (6)
13 – Duquesa – “Milionário e José Rico” (7)
14 – Julia Branco – “Baby Blue” (12)
15 – Don L – “Bem Alto” (13)
16 – Flora Matos – “Inventei o Seu Jeito de Amar” (14)
17 – Anitta – “Grip” (15)
18 – Céu – “Cremosa” (16)
19 – Trago – “Sou Eu Que Vou Trabalhar” (17)
20 – Luiza Brina – “Oração 2 (com Silvana Estrada)” (18)
21 – O Grilo – “Manual Prático do Tédio” (19)
22 – Duda Beat – “q prazer” (20)
23 – Cátia de França – “Fênix” (21)
24 – Rodrigo Mancusi – “Veneno” (22)
25 – Papisa – “Fronteira” (23)
26 – Varanda – “Vá e Não Volte” (24)
27 – Taxidermia – “Clarão Azul” (25)
28 – Mirela Hazin – “Delírio” (26)
29 – Inocentes – “São Paulo (Acústico)” (27)
30 – Bruno Berle – “Te Amar Eterno” (28)
31 – Fresno – “Quando o Pesadelo Acabar” (29)
32 – Pabllo Vittar – “Pra Te Esquecer” (30)
33 – Tuyo – “Devagar” (31)
34 – Irmãs de Pau – “Megatron” (32)
35 – FBC – “Atmosfera” – Ao Vivo (33)
36 – Tom Zé – “Jesus Floresta Amazônica” (34)
37 – Haroldo Bontempo – “Risada (com João Donato)” (35)
38 – Jota Ghetto – “Michael B. Jordan na Fila do CAT” (38)
39 – Deize Tigrona – “25 de Abril (com Boogarins)” (39)
40 – Jujuliete –  “Dominatrix” (40)
41 – Apeles – “In God’s Hands” (41)
42 – Amaro Freitas – “Viva Naná” (42)
43 – Sofia Freire – “Autofagia” (43)
44 – Kamau – “Documentário” (44)
45 – Josyara – “Ralé/Mimar Você” (45)
46 – Maria Maud – “02.02” (46)
47 – Madre – “Sirenes” (47)
48 – Raidol – “Imensidão” (48)
49 – Rodrigo Campos – “Gamei” (49)
50 – Dead Fish – “11 de Setembro” (50)

***
* Entre parênteses está a colocação da música na semana anterior. Ou aviso de nova entrada no Top 50.
** Na vinheta do Top 50, a cantora paulista Bebé, em foto de Wallace Domingues.
*** Este ranking é pensado e editado por Lúcio Ribeiro e Vinícius Felix.

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