O Carnaval está aí batendo na nossa porta, mas é em preto-e-branco e o indie do Terno Rei que passamos a semana. Eles voltaram e é uma maravilha saber que vamos curtir um disco novo da banda em pleno Popload Festival. Quem quiser ser mais alternativo ainda, a opção é se esbaldar com a turma do Vera Fischer Era Clubber – melhor nome de banda do ano, já pode mandar o troféu. O Rio de Janeiro também é darkzeira quando quer.
Olha que novidade deliciosa. Quando o Terno Rei subir no palco do Popload Festival, lá no dia 31 de maio no Ibirapuera, já estaremos bem habituados com um disco novinho de uma das bandas indies mais queridas da CENA. Ale Sater, Bruno Paschoal, Greg Maya e Luis Cardoso chegam ao quinto disco de inéditas – mantendo a média de um álbum novo a cada três anos mais ou menos. “Nada Igual” e “Viver de Amor” são os primeiros singles e trazem dois lados conhecidos do grupo, porém turbinados. “Nada Igual” representa as mais velozes, intensas e nostálgicas. Já “Viver de Amor” é a lentinha da vez, lembra Wilco e não deixa de ser também bem intensa, como entrega os versos “Pra viver de amor/ Vou morrer de amor”. A voz dobrada de Ale Sater, por exemplo, dá um grave todo novo à sonoridade. E o vídeo da música é uma belezinha só, uma mistura de “Intriga Internacional” com “Cães de Aluguel”.
Tem uma cena na antiiiiiga novela “O Clone” onde Vera Fischer, a atriz, salva uma festa de virar um barraco completo com uma sugestão: “Vocês querem ouvir uma música bacana? Toca um techno aí!”. Era a senha. Se foi isso que inspirou a turma de Niterói do Vera Fischer Era Clubber ainda não sabemos. Mas combinaria bem com o humor peculiar do quarteto e seu electro-punk-experimental-trash-pop de teclados góticos, baixo pesado e uma bateria eletrônica sem medo de transitar entre o funk e o industrial. O vocal é spoken word. Crystal Duarte recita letras que pegam na veia um linguajar do agora, ideia e palavras que ainda não foram flagrados nem pelas redes sociais. É o agora do jovem em prosa e verso e muita ironia e deboche. Pesquise por “vera fischer era clubber” no YouTube e tudo que encontrará são alguns vídeos postados no perfil donniedarko73 da banda tocando em plena rua no Rio de Janeiro, no festival Novas Frequências. É um Rio que não tá na TV. Soturno. Não vamos falar que parece São Paulo para não ofender. A plateia canta tudo, um monte de músicas que ainda não foram nem sequer lançadas – “Fantasmas” é o primeiro single da vida deles. A primeira aposta da Palatável Records, da curadora-agitadora Natália Lebeis, promete bem.
O que o artista deixa de mostrar é tão parte da obra quanto aquilo que vemos. Daí que é um barato uma hora ter acesso ao que poderia ser ou ao processo do resultado final. É isso que o fino Apeles quer mostrar no triplo “2015-2022: The Complete Demos and Early Recordings”, que vai reunir demos e mixagens alternativas dos três álbuns solos do especialíssimo músico Eduardo Praça até aqui. “Mandrião (Vida e Obra)” é a primeira mostra da novidade. Uma elegante reflexão sobre coragem: “Sinto lhe dizer: o medo é filho dos tolos”. E embora carregue o subtítulo “Demo 2” soa completamente pronta. Por que será que ela não coube em “Estásis”?
Fortificando suas boas conexões dentro do continente, Larissa Conforto, aka ÀIYÉ, soltou um single em parceria com o colombiano Juan De Vitrola. A faixa é puro creme, uma canção apaixonada, mas uma paixão com gostinho amargo – o lance já acabou, só existe em lembranças espalhadas por objetos pela casa. Que dor. O telefone toca, mas a outra pessoa se recusa a atender.
A dupla de compositores Ronaldo Bastos e César Lacerda conseguiu tirar Nina Becker de seu longo hiato musical para cantar uma marchinha da dupla. Coisas que só o Carnaval é capaz de fazer. Na deliciosa brincadeira arranjada pelos craques Guto Wirtti e Marcelo Costa, um clássico imediato para tocar em matinês ou em casa antes de ir para a rua.
1997 é o ano de nascimento de Dadá Joãozinho. Agora também é o nome do novo EP do cantor, produtor musical e multiinstrumentista de Niterói. Em “1997”, Dadá amplia as várias facetas já apresentadas no excelente “Tds Bem Global” (2023). Reaparecem seu gosto por recortes e edição intensa, mas também tem espaço para o primeiro take, o violão – uma abordagem quase lo-fi. “De Qualquer Forma É Grande (Subindo em Árvore)”, por exemplo, se aproxima de um fluxo de consciência amalucado. Já em “Olha para Mim”, parceria com a banda Raça, ele soa rádio-rock como nunca antes. Todos os caminhos são possíveis para Dadá. “As Coisas”, que traz a voz da carioca Jadidi, é uma proposta do que pode ser uma MPB radiofônica sem precisar ser óbvia.
Em “Ainda Estou Aqui”, um dos momentos mais emocionantes, sem dúvida, é se deparar com Eunice Paiva interpretada por Fernanda Montenegro. A atriz representa Eunice já mais velha e com Alzheimer. As memórias de uma vida tão intensa se foram, e o que sobra? Essa pergunta que o Terraplana faz na bilíngue “Hear a Whisper”. “Dentro da alma/ Lembra quem sou eu?” diz um dos versos da parceria da banda curitibana com a cantora Winter, também curitibana, mas radicada em Nova York. Tem uma conexão estranha/legal desta música nova com Joy Division e a cena de música nova do Rio que não sei se sabemos explicar. Ainda. Parece que a banda do Paraná está olhando para outros sons, não só para o “shoe”. Talvez essa compreensão da bem-vinda expansão sonora da Terraplana fique um pouco mais para a frente. O segundo álbum deles leva o nome de “Natural” e está previsto para ser lançado em 11 de março.
O riff de guitarra é quase emo, poderia ser também de uma música tristinha do Charlie Brown, mas o resto é puro Wesley Safadão. Essa é a mistura proposta por Getúlio Abelha no forró maluco e bem-humorado de “Toda Semana”, uma ficção daquelas imaginadas alta noite no banheiro de um botequinho sujo. “O forró mais cruel que eu fui foi hoje”, diz o artista piauiense/cearense em um dos versos da música. Se tocasse forró no mundo de “Blade Runner”, seria mais ou menos assim como Getúlio o desenha.
Siba conta que “Máquina de Fazer Festa” é a música que marca de certa forma a volta do Fuloresta, seu grupo que fez história – Ronaldo Sousa, Mestre Nico Ganzá Rafael dos Santos, Galego do Trombone, João Minuto, Deyvid Fagner, Leandro Gervázio e Antônio Loureiro. Isso porque, de acordo com o próprio Siba, o grupo “nunca foi nem tá voltando para canto nenhum”. Outro lance que rolou para Siba foi uma espécie de fé renovada na ciranda ao ver surgirem novos jovens mestres na área. Resistência cultural.
Pouco depois de estourar com “Menina Veneno”, Ritchie estrelou um dueto com o sempre antenado Caetano em “Shy Moon”, lançada no roqueiro “Velô”, álbum de 1984. O inglês mais brasileiro do mundo completa 50 anos de carreira em 2025 e resolveu regravar a música em seu arranjo de palco – uma valsa! E aí conseguiu tirar Caetano de mais uma de suas fracassadas tentativas de férias radicais. A gente achou que ficou meio metal melódico essa nova gravação. Caberia em um disco do Angra? Alguém confirma nosso delírio?
11 – Gabriel Ventura – “Fogos” (6)
12 – Jovens Ateus – “Passos Lentos” (8)
13 – Josyara – “Ensacado” (com Pitty) (9)
14 – Cajupitanga e Arthus Fochi – “Dia Santo” (10)
15 – Nyron Higor – “São Só Palavras” (11)
16 – Marcelo D2 – “A Maldição do Samba” (12)
17 – BK – “Só Quero Ver” (com Evinha) (13)
18 – Celacanto – “Cedo” (14)
19 – Jamés Ventura – “Noites de SP” (15)
20 – Superafim – “Sorry” (16)
21 – Sophia Chablau e Felipe Vaqueiro – “Nova Era” (17)
22 – Heal Mura – “Wu Wei” (18)
23 – BK – “Só Eu Sei” com Djavan e Nansy Silvvz (19)
24 – Tátio – “Longe De Mim” com Zeca Baleiro (20)
25 – Jéssica Linhares – “Samba do Sonhador” (21)
26 – Julia Mestre – “Sou Fera” (22)
27 – Rei Lacoste – “Sem Paz” (23)
28 – Cícero – “Tempo de Pipa” (24)
29 – Menores Atos – “Pronto pra Sumir” (25)
30 – Panteras Venenosas – “Ai Que Saudade” (26)
31 – Igor de Carvalho – “Pra Te Esquecer” (27)
32 – BaianaSystem – “A Laje” (29)
33 – Maré Tardia – “Já Sei Bem” (30)
34 – Bem Gil – “Sobe a Maré” (com Domênico Lancellotti) (31)
35 – Thiago França e Rodrigo Brandão – “Young Lion” com Sthe Araújo e Edgar (32)
36 – Tasha & Tracie, Emcee Lê – “Randandan” com Delli Beatz (33)
37 – B.art – “Nêgo/Correnteza” (34)
38 – João Gomes e Gilberto Gil – “Palco” (35)
39 – Vitor Milagres – “Um Barato” (36)
40 – Bruno Berle – “Te Amar Eterno” (37)
41 – Negro Leo – “Me Ensina a Te Castigar” (38)
42 – Tássia Reis – “Sol Maior” (39)
43 – Maria Beraldo – “Colinho” (40)
44 – Thalin, VCR Slim e Cravinhos… – “Todo Tempo do Mundo” (41)
45 – Supervão – “Androids” (42)
46 – Liniker – “Me Ajude a Salvar os Domingos” (43)
47 – Paira – “O Fio” (44)
48 – Dora Morelenbaum – “Venha Comigo” (45)
49 – Amaro Freitas – “Viva Naná” (46)
50 – Hoovaranas – “Fuga” (49)
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* Entre parênteses está a colocação da música na semana anterior. Ou aviso de nova entrada no Top 50.
** Na vinheta do Top 50, a banda paulistana Terno Rei, em foto de Fernando Mendes.
*** Este ranking é pensado e editado por Lúcio Ribeiro e Vinícius Felix.