Top 50 da CENA – Luiza Lian está aqui em primeiro. Zudizilla emplaca as outras duas do pódio

Estamos aqui, em outra semaninha boa, acreditando piamente e mais do que nunca que a nossa música é a mais pesada do mundo. No ranking de hoje, muita ideia forte, de presença e luta. Pronto para o lado A, sabendo das delícias dos lados B. 

“Eu Estou Aqui” não é uma frase qualquer. Especialmente após 2018 ou após 2020, entenda como bem quiser. Luiza Lian passou quatro anos “sumida”, após o lançamento do seu terceiro álbum, “Azul Moderno”, em 2018. O que uma artista intensa como Luiza, de uma sugestão artística tão firme e bela, guarda para dizer após um período tão longo de horror? Ela volta firme: “Pode ser que eu esteja aqui por todos os motivos errados”. Mas está aqui! Em aspas ela explica mais um pouco a presença e o espaço que moram na afirmação. “É o momento de dizer ‘Eu existo’, apesar de o mundo estar acabando, apesar de as pessoas estarem perdidas em seus espelhos. A gente ainda está aqui, a gente ainda vive e ainda morre, o mistério segue sendo um mistério, vida e morte com sua dádiva e desorientação.” Um breve manifesto que adianta “7 Estrelas | Quem Arrancou o Céu?”, seu quarto álbum previsto para 28 de julho. Estamos aqui aguardando ansiosamente, Luli.    

 Em “Zulu: Quarta Parede, Vol. 3”, o rapper Zudizilla encerra sua trilogia Zulu se aproximando como nunca do fã. É como se de fato ele quebrasse a quarta parede estabelecida em alguma medida até aqui. O ouvinte agora observa Zud de perto, em casa, com o filho no colo. Dessa nova perspectiva, cada vontade, sonho e palavra, se amplifica. Viramos confidentes de Zud. Entre várias participações especiais, destaques para o peso oferecido por Galo de Luta e Don L no par de faixas “Tempo”/”Tempo Ruim”. Ao juntar o líder do movimento dos entregadores antifascistas, que também é rapper, com um rapper que versa que é “mais guerrilheiro que MC”, Zud mostra que não é só bom escritor dos próprios versos, mas um sábio leitor e construtor de novas realidades coletivas. Só ideias certas, em outras palavras.   

O conceito de lado B é uma construção e tanto do pop. Mais do que o segundo lado do vinil ou a música que ficava “atrás” do single em um compacto simples, com o tempo virou sinônimo de banda desconhecida, de hit perdido e tantas outras coisas, até programa na MTV. Com o relativo assassinato da mídia física, o lado B persiste por fidelidade conceitual de alguns artistas. Por isso o Terno Rei batiza o seu EP de sobras do álbum “Gêmeos” de “B-Sides Gêmeos”. E a ideia funciona tão bem que um certo chavão cabe perfeitamente aqui: são lados B que poderiam muito bem ser lados A. E o fã vai se deliciar imaginando a posição “certa” delas no álbum original – o que sempre alimenta teses e longos papos de bar. 

“Eu me desenvolvo e evoluo com meu filho, eu me desenvolvo e evoluo com meu pai”, versaram Sain e Marcelo D2 há duas décadas. Ainda criança na época, talvez mal soubesse Sain do peso desses versos. Que se provam proféticos da realidade atual, quando filho e pai lançam álbuns novos quase em conjunto combinando seu melhor momento artístico. D2 soltou recentemente o excelente “IBORU” e Sain não faz por menos no colorido e urbano “KTT ZOO”  

Girafa era o apelido de Letícia Novaes na infância/adolescência por conta da altura. No começo, ela odiou, lógico. Depois começou a ver beleza no apelido. “Letrux Como Mulher Girafa”, seu novo disco, lançado na sexta, é seu momento de ressignificar e representar a tirada com seu corpo esguio. É Letrux enquanto bicho. E não somos todos animais, afinal? Em alguma coisa, a temática do terceiro álbum da carreira solo de Letícia encontra o Caetano Veloso de “Bicho”, álbum de 1977, onde o cantor coloca no centro das canções menos a mente e mais tripas e coração. Uma mudança no sentido de observar que a cultura ocidental separa por demais mente do resto do corpo e tende a ouvir demais a cabeça, como se ela fosse dona de alguma razão maior. Bobagem e cegueira. Essa reconfiguração e novo olhar acontecem com Letrux aqui. Dessa forma, sentimentos, fracassos e o próprio conceito de amor soam diferentes, mais bem resolvidos. Não é um clima pacífico – afinal, se não há pecado, não há de ter perdão. Mas tem bem menos climão, digamos. O verso “Embora não pareça, foi com amor que eu te destrinchei” resume melhor a ópera do que poderíamos tentar. Brilham também os interlúdios do álbum. São pedaços de músicas que ficaram pelo caminho. Na visão de Letícia, comunicar a trajetória ajuda na compreensão do todo. Ao mesmo tempo, essas metacanções expõem um lado pouco visto do processo  da arte – mesmo com o excesso de exposição, “falhas” não costumam entrar na edição da vida online, por exemplo. Ao colocar os erros em jogo, o próprio conceito de erro fica à deriva. O que não pode ser chamado de canção?   

Talvez aconteça na sua cidade. Aquele bairro que é baratinho e tal, que começa a ficar descolado, abre um restaurante legal, artista começa a morar lá. Em menos de cinco anos, ninguém mais que morava lá aguenta pagar o aluguel. Gentrificação. E sobe prédio, torre, condomínio e tudo mais. Esse é o assunto da nova música do tradicional grupo indie paulistano Garotas Suecas. A faixa fará parte de “1 2 3 4”,  quarto álbum da turma, que tem previsão de lançamento para o dia 19 de julho. O som chega na voz de  Irina Bertolucci, que é acompanhada por Fernando Perdido (Baixo e Voz), Nico Paoliello (Bateria e Voz) e Tomaz Paoliello (Guitarra e Voz). A letra é de Tomaz.  

Em “Senzala e Favela”, álbum póstumo do baterista Wilson Das Neves, é Rodrigo Amarante que dá voz e violão para a bonita canção “O Que É Carnaval”, parceria de Das Neves com Cláudio Jorge. Não estranhe o encontro de diferentes gerações. Wilson e Rodrigo conviveram nos tempos da Orquestra Imperial. Os relatos são de que seu Wilson adorava andar com a turma mais jovem. No Instagram, o percussionista Stephane San Juan até lembrou uma tirada do baterista: “Aprendo muito com vocês, até o que não fazer”. Ô, sorte, seu Wilson. 

E nossa duplinha favorita do momento, a união Jadsa e YMA, que nada tem a ver com aquele espírito meio maleta dos famosos encontros de festivais, resolveu apresentar um vídeo do seu novo trabalho. Uma superprodução indie meio bizarra com dois multiversos diferentes que se conectam por conta de um sonífero verde. Maluco e delicioso. 

“OXUMARÉ”, da ÀIYÉ, está no Top 50 há muitas e muitas semanas. Parte de um dos nosso álbuns favoritos do ano, “Transes”, a música ganhou um remix fritado da Viridiana, que reparte a canção, acelera, desacelera, tira os beats do lugar e encontra algo novo. Por falar em encontro, fica a dica: tem ÀIYÉ no fim deste mês lá no Bar Alto. Hablamos.  

11 – Raffa Moreira – “Beleza Exótica” (com Matuê e Jay Kay) (6)
12 – Rico Dalasam – “Espero Ainda” (7)
13 – FBC – “Químico Amor” (8) 
14 – Holger – “Remota” (9)
15 – Troá! – “Que Pena” (10)
16 – Marcelo D2 – “Tempo de Opinião” (com Metá Metá) (11)
17 – Ava Rocha – “Beijando Todos Vocês” (12)
18 – Tuyo – “Zero Coragem (Acústico)” (13)
19 – Coruja BC1 – “Versão Brasileira” (com FEBEM e MC Luanna) (14)
20 – Mãeana – “Meu Pedaço de Pecado” (15) 
21 – Luisão Pereira – “Licença” (com Luíza Nery) (16)
22 – dadá Joãozinho, Alceu e Bebé – “Cuidado!” (17)
23 – Xis – “Isnaipa” (18)
24 – Tasha e Tracie com Kyan e Rapper Gregory – “Dia de Baile” (19)
25 – Ítallo – “Tarde no Walkiria” (20)
26 – Clarice Falcão – “Chorar na Boate” (21)
27 – Ruadois – “Sprint” (22)
28 – Anttónia – “Me Leva” (com Giovani Cidreira) (24)
29 – Dj RaMeMes – “Vamo Fuder” (25)
30 – Zé Ibarra – “Vou Me Embora” (26)
31 – Rincon Sapiência – “XONA” (27)
32 – TUM – “DTF” (28)
33 – L’homme Statue – “Espírito Livre” (29)
34 –  ÀTTØØXXÁ – “Dejavú” (com Liniker) (30)
35 – Mahmundi – “Meu Amor – Reprise” (33)
36 – BIKE – “Além-Ambiente” (34)
37 – Majur – “Tudo ou Nada” (36)
38 – Jards Macalé e Maria Bethânia – “Mistérios do Nosso Amor” (37)
39 – Marina Sena – “Meu Paraíso Sou Eu” (38)  
40 – Mateus Fazeno Rock – “Indigno Love” (com Brisa Flow) (39) 
41 – Lirinha – “O Campo É o Corpo” (40)
42 – Julia Mestre – “do do u”  (42)
43 – Aláfia – “Cadê Meu Pai?” (43)
44 – Os Tincoãs – “Oiá Pepê Oia Bá”  (44)
45 – Iara Rennó – “Iemanjá” (45)
46 – Juliano Gauche – “Ondas Que Acordam” (46)
47 – Rei Lacoste – “Pareando” (com Dunna) (47)
48 – Sant – “SSA” (com Luedji Luna e VANDAL) (48) 
49 – Gab Ferreira – “Forbidden Fruit” (49)
50 – Jambu – “Caso Sério” (50)

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* Na vinheta do Top 50, a cantora Luiza Lian, em foto de Leon Gurfein.
** Este ranking é pensado e editado por Lúcio Ribeiro e Vinícius Felix.



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