Dos Estados Unidos até a Coréia do Sul damos uma pequena volta ao mundo para contar o melhor da música gringa. Escalas em Porto Rico, Ibiza e uma longa estadia em Manchester. Imagina o motivo? Detalhe: nos três primeiros lugares, a gente não ousou escolher uma ordem de ranking. Tá loko!
Não vamos fazer disso uma crise de gerações, mas é engraçado ouvir da boca de Ellis Durand, baixista do Wet Leg, que suas inspirações de moleque são Arctic Monkeys, Strokes e os Maccabees. Foi o que ele disse na entrevista que fizemos com a banda, conversa do Fernando com dois dos boys. Os grupos clássicos deles são as bandas que vimos nascer. Por isso, ouvidos mais calejados vão encontrar muito Franz Ferdinand, LCD Soundsystem, Bloc Party aqui no incrível “Moisturizer”, segundo álbum do Wet Leg – ainda que eles se inspirem em coisas mais antigas também: Hole e My Blood Valentine, com certeza. Sensação do verão de 2022, o duo formado por Rhian Teasdale e Hester Chambers se tornou um quinteto neste disco com a chegada de Josh Mobaraki (guitarrista), Ellis Durand (baixista) e Henry Holmes (bateria) – integrantes das apresentações ao vivo desde o começo, é a estreia deles como “criativos” no grupo. Gostamos bastante de tudo que anda vindo desta banda. Principalmente desta música.
Uma das cenas mais fortes do desmanche do Oasis lá em 2009 é um Liam derrotado observando Noel cantar o encerramento de “Slide Away” (“Don’t know, don’t care/ All I know is you can take me there”) na tensa apresentação durante um iTunes Festival. Corta para 2025, retorno da banda, e “Slide Away” vira um ponto alto do show por conta dessa carga emocional, fora ser um hit. As vozes juntas novamente no mesmo encerramento da música é histórico. Espertamente, uma versão oficial da gravação no primeiro show em Cardiff foi lançada como single. Uma benção no mar de pirataria de qualidade questionável. Fica a pergunta: mais coisas da turnê serão lançadas assim? Vem.
Semana passada falamos que o Hot Chip prepara um greatest hits, agora é a vez do Metronomy, duas bandas da mesma época e com um certo diálogo revisitando o passado. A diferença é que enquanto o Hot Chip entregou uma inédita, a coleta do Metronomy vem com um presente: gravações inéditas da banda na BBC. Com o streaming, coletânea sem bônus saboroso é um troço meio inútil, né? Tudo já está lá, uai. Fora esta que “The Look” é histórica.
Pelo visto Jeff Tweedy fez valer os escritos de seu livro “Como Escrever uma Canção”, seu tratado sobre criatividade lançado por aqui pela Edições Sesc São Paulo. O homem vem aí com um álbum solo triplo! “Twilight Override” está previsto para setembro. Por ser um disco com 30 músicas, é tranquilo sua prévia ser um EP com quatro canções. Aliás, apesar da nossa brincadeira ali no começo, Tweedy parece mesmo obcecado com o tópico da criatividade. “[Criação] Contribui muito para reprimir o impulso de destruir. A criatividade devora a escuridão”, canetou no texto de apresentação do álbum, onde também deu uma cutucada em Donald Trump (“O crepúsculo de um império parece ser um bom ponto de partida…”). “Out in the Dark” vem do mote de imaginar um mundo sem lua, onde a escuridão que só com muita fé e imaginação para ir adiante. Uma descrição poética da realidade, não? Outro ponto: a sonoridade e a carreira solo de Tweedy é tão ligada a sua banda que o material audiovisual foi postado no perfil do Wilco mesmo e está tudo certo.
Viram a residência do Bad Bunny em Porto Rico? Uma série de 30 shows no país. É papo de movimentação na economia local na casa de R$1 bilhão. Deixa o Eduardo Paes ficar sabendo disso: vai colocar 30 noites de Coldplay em Copacabana. Em fevereiro, Bad Bunny desembarca no Allianz Parque, mas serão só duas noites, para alívio de todos os palmeirenses interessados em jogar em casa no Paulistão do ano que vem ou algo assim. Ah, de quebra, Bad Bunny lançou uma inédita celebrando o bom momento e a faixa é quente. Sua obsessão por “tirar mais fotos” aqui é menos sentimental e mais na linha do “pero aún guardo tus foto que me envíaste ‘esnúa’ ”. Calma, rapaz.
Rebecca Solnit popularizou o termo “mansplaining” no artigo “Os Homens Explicam Tudo para Mim”, uma captura do fenômeno dos homens serem intolerantes ao conhecimento feminino, sempre questionando, sempre querendo “ensiná-las” sem terem sido solicitados. Acontece em todo lugar, mas as mulheres que amam música devem ter uma lista de machos explicando para elas as coisas que elas já sabem de cor sobre sua banda favorita. Carinhas que ainda não entenderam, assistam “Barbie”, da Greta Gerwig. Lá tem uma cena explicando melhor. David Byrne se inspirou no artigo da Solnit para falar sobre como geralmente ele pede ajuda das amigas para entender filmes, poesia e outras coisas mais. Olha aí um exemplo a ser seguido.
Quem encerra o dia com uma dosagem de rede social no celular conhece o sentimento: exaustão mental, excesso de informação, vazio emocional, frustração, depressão, ansiedade e outras coisas mais. Sobre essa ressaca pixelada que escreve Au/Ra, artista nascida em Ibiza, mas tão nômade que logo se virava em catalão, alemão e inglês. Seu som se encaixa no bizarro termo alt-pop. Bizarro naquelas, né? De fato, é grudento e esquisitinho de um jeito muito seu. Bom pra nós.
Conhecem o trio Automatic? Izzy Glaudini, Halle Saxon e Lola Dompé fazem um pós-punk muito do interessante numa formação sem guitarra. Baixo, bateria e sintetizadores deixam tudo soando bem diferente do habitual. Elas estão na preparação do terceiro álbum e anteciparam o que vem por aí com este single “Is It Now?”. Nas palavras da banda, é a tentativa delas em responder uma pergunta que assombra geral: como seguir OK em um mundo em colapso? A resposta delas é não se vitimizar pelos tempos. Ainda é possível tomar as rédeas da vida, mesmo nas coisas mais simples.
Mina Tindle é uma artista francesa com alguma estrada. Casada com Bryce Dessner, do National, talvez seja conhecida dos fãs por ter contribuído em álbuns da banda. Por sua vez, Bruce já foi seu produtor. Provavelmente preparando um novo álbum, a artista sacou uma bonita parceria com Sufjan Stevens, um cara que sempre merece nossa atenção.
As melhores do k-pop voltaram. Após lançarem seus álbuns solos, Jisoo, Jennie, Rosé e Lisa retomam o BLACKPINK com uma inédita que tem a mão do arroz-de-festa Diplo. E aí obviamente que ele temperou o pop para uma linha mais da música eletrônica, subvertendo algumas convenções. Acelerada, o famoso drop da música não “detona” a faixa, mas antecipa um trecho mais leve antes do refrão, ancorado por uns sopros alegrinhos e fervidos em sintetizador. Essa quebra de expectativa é o charme.
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* Na vinheta do Top 10, Rhian Teasdale, da Wet Leg, usando uma camiseta zoeira do Oasis.
** Este ranking é pensado e editado por Lúcio Ribeiro e Vinícius Felix.