Top 10 Gringo – O “jeitinho Bjork” outra vez em primeiro. E as dores de Rina Sawayama e Weyes Blood completando o pódio da semana

Quantos álbuns novos ultimamente. Se tem dias que o mar está para singles, estes últimos serviram para pescarmos novidades entre muitos e muitos discos editados na semana. Tantos que vamos precisar de mais tempo para absorver tudo até a próxima sexta, que promete vir tão recheada quanto em questão de lançamentos. Em todo caso, o primeiro lugar é justamente de um single, um incrível single que antecipa um dos álbuns que estamos mais ansiosos para ouvir neste ano. Embora saibamos o que vamos encontrar, vindo de quem vem. Irônico, você não acha? 

“Ovule” não é tão experimental (e esquisita) quanto “Atopos”, primeiro single do novo álbum da esquisita Björk, “Fossora”. Nem por isso, é uma faixa menos especial – dando o tom de que vem por aí mais um grandioso álbum da artista islandesa, logo mais estará por aqui aprontando seus shows-artsy no Primavera Sound. Outra sorte nossa é que a Björk sempre escreve um pouquinho sobre suas músicas e isso orienta um pouco nossas ideias. Desta vez, ela explicou “Ovule” assim: “É minha definição de amor, uma meditação sobre nós como amantes andando por este mundo”. Ela desenhou até um diagrama que mostra como enxerga um relacionamento, com um topo idealizado, um recheio “real” e uma base de sombras – e considera que a manutenção do amor é entender esse caminhar no real lidando com cuidado com a idealização e o nosso lado sombrio. Não entendeu? Ela termina seu escrito com um simpático “Espero que isso faça sentido”. Faz?

Quem se encantou com a mistura de new metal com Britney Spears do álbum de estreia da Rina Sawayama talvez fique meio perdido com o excesso de polidez do seu segundo disco. Mas “Hold the Girl” é tão vasto quanto a estreia da compositora, que lançou uma carta de amor a si própria e ao pop. Basta notar o abraço caloroso que ela dá na Madonna em “Hold the Girl” e na Shania Twain e no Michael Jackson nesta “This Hell”.

Uma cura para nossa solidão é perceber que todo mundo se sente meio só também. Já trocou uma ideia com seus amigos para descobrir se eles também estão se sentindo angustiados e sozinhos? Essa percepção tem um duplo caminho, oferece uma imensidão da dificuldade de superar essas dores, mas dá a possibilidade justamente de encontrar um caminho de compaixão. Um pouquinho que possa ser feito por dia. Foi essa coisa toda aí de cima que inspirou esta bela balada à la Joni Mitchell da americana Weyes Blood.. Seu novo álbum, que sai em 18 de novembro, chamado “And in the Darkness, Hearts Aglow”, promete. 

A gente cantou esta bola: o Suede não é só uma bandinha da velha guarda do britpop, e sim e ainda uma das mais legais hoje, acredite. E o novo álbum de Brett Anderson e cia confirma a tese que a gente lançou a partir do singles que foram saindo. Um pós-punk de primeira, do vocal falado à contra-melodia belíssima do baixo, em um hino que também fala dos desencontros entre duas pessoas e seus ideais. Ouça “Autofiction”, o disco, de cabo a rabo. 

Marcus Mumford, líder do familiar grupo inglês Mumford & Sons, apareceu agora com seu projeto construído durante o lockdown da pandemia, batizado de “Self-titled” – “autointitulado”, em português. A construção solitária passa pela temática das duas principais músicas do álbum, “Cannibal” e “Grace”, canções que abordam o abuso sexual que Marcus sofreu na infância. Na primeira letra, uma carta direta ao agressor em uma composição dolorida. Na segunda, a superação, que também deixa marcas e não vem sem dor. Sonoramente, Marcus expande as possibilidades de sua banda, ao passo que reencontra aspectos mais rústicos que marcaram o começo do Mumford & Sons. Um trabalho muito sincero e forte. 

Precisamos falar de mais um disco autointitulado e de mais duas músicas que andam juntinhas, estas destacadas aqui. The Mars Volta voltou (enfim…) de um hiato de uma década com o seu sétimo trabalho, que leva apenas o nome da banda. Quem se lembra das longuíssimas e viajadas canções da banda vai se surpreender com a leveza e a brevidade que cada música surge aqui, com destaque total para a parte rítmica. “Blacklight Shine” e “Graveyard Love” coladas uma na outra são um casal perfeito, que já desemboca na boa “Shore Story”. Música deliciosas em um disco esquisito, provável resultado de um trabalho que a dupla  Omar Rodríguez-López e Cedric Bixler-Zavala definiu como “sem dramas”. The Mars Volta para escutar em uma sentada. E, desta vez, sem pular.

E já que nesse top falamos de várias músicas sobre relacionamentos e suas dificuldades, o novo single da canadense Carly Rae Jaspen não escapa disso: “Poderia ter sido algo bonito/ Mas você tornou impossível”, ela decreta em uma música que possivelmente vai ser um hino de términos pelo mundo das redes sociais. Uma boa para gritar levemente surtado na balada da recuperação.

E, para não dizer que não falamos de uma banda indie de garagem das boas que quase ninguém conhece ainda, esteja mais uma vez apresentada/o ao quarteto neozelandês que tem uma fofura do Belle and Sebastian com um pouquinho mais de fuzz na guitarra. Curte Best Coast e relacionados? Só vem.


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* Na vinheta do Top 10, a cantora islandesa Bjork.
** Este ranking é pensado e editado por Lúcio Ribeiro e Vinícius Felix.

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