Evento raro no nosso top 10. Primeiro e último lugar vieram com devidas alfinetadas enquanto a meiuca ganha mais elogios. Essa estrutura desigual é nosso jeitinho de contar certo a história musical dos últimos dias. Pearl Jam e Taylor Swift são os artistas gigantes com lançamentos enormes, mas temos mais coisa para falar…
Se o produtor Jack Antonoff parece onipresente no pop, dá para dizer que Andrew Watt é seu equivalente no rock – Iggy Pop, Rolling Stones, Ozzy Osbourne, Eddie Vedder. E agora o Pearl Jam. Eddie Vedder convenceu a banda a ir ao estúdio com Watt sem material pré-escrito. Se essa espontaneidade devolve um ar básico ao som do grupo, também apresenta alguns lugares comuns, já que tudo foi feito a toque de caixa. E é assim que vamos ao longo de todo “Dark Matter”, décimo-segundo álbum da grupo de Seattle. A mão pesada de Watt aparece com o volume alto do master presente, uma característica dos trabalhos que ele assina. Pelo menos aqui ele não matou a dinâmica da banda, algo que ficou muito esquisito em seu trabalho com os Rolling Stones. E, deixando esse mau humor nosso de lado com esses vícios da indústria, o Pearl Jam soa mais inspirado que nos últimos trabalhos.
O Pearl Jam leva a fama de sobrevivente do grunge porque muitos esquecem que os Melvins, quase que pais do gênero por serem bem mais antigos, ainda estão por aí também sem pausa. Tanto que o novo “Tarantula Heart” é o 27° trabalho de estúdio deles. E abre com um som de 19 minutos!!!. “Pain Equals Funny” não soa tão alto quanto o disco do Pearl Jam, mas parece um tanto quanto mais autêntica – e bem mais doidona e inventiva, indo para diversos caminhos. Mas vai ver é o nosso mau humor ou birrinha.
Lembram quando a britânica Lucy Rose veio ao Brasil num esquema totalmente do-it-yourself? Fãs bancaram a viagem, ofereceram casa e roupa lavada e a artista aproveitou a estadia para fazer uma série de shows. Essa é Lucy Rose – que na época até conversou com a gente. Seu tipo de música honesta e íntima segue presente em “This Ain’t the Way You Go Out”, trabalho gravado em poucos dias após uma gravidez complicada. Apesar dos problemas e do tempo escasso, Lucy soa até que brasileiríssima em “Light as Grass” e seu piano, quase percussivo enquanto desenha forte a melodia. A intensidade do grande instrumento é suavizada na voz doce de Lucy. Em instantes, estamos sonhando junto com ela sobre cenários luminosos.
Cabelo comprido, guitarra chiques, chapéu na cabeça e um vozeirão. É um jeito de descrever um pouco Marcus King. Na sua bio no Instagram ele discorre um pouco sobre sua música, tente entender: “Southern Fried Psychedelic Honky Tonk Rock n Rollin’ Soul music”. E essa fritura toda está exposta em “F*ck My Life Up Again”, faixa que vai te deixar maluco de cara só pelo som magnífico da bateria de abertura. Melhor: no ápice, quando parece que vamos ter um solo de guitarra daqueles, a virtuose guitarrística vem ao contrário, entortando nossas cabeças. Muito bom. Pelo alto teor pop não seria espanto esse cara bombar do nada por aqui. Produção do atual guru Rick Rubin.
E, se quiser seguir na linha de guitarras um tanto quanto estranhas, vale dedicar um tempo ao álbum “Speak to Me”, aventura (quase toda) acústica do guitarrista Julian Lage, nomão do jazz que já trabalhou com Nels Cline, guitarrista que você conhece do Wilco. Achou “Hymnal” muito esquisita? Vai de “Omission”, outra instrumental lindaça e pop.
Não tem muito tempo que viralizou um vídeo com o filho pequeno do Scott Ian, guitarrista do Anthrax, fazendo o papel de guitarrista do Foo Fighters. A parceria das bandas segue rendendo. A boa da vez é a união de Scott, Dave e Charlie Benante em um cover de Bad Brains para arrecadar fundos para ajudar HR, vocalista do Bad Brains, a pagar altas contas médicas por conta de problemas recentes de saúde que teve. Uma boa causa casada com o Record Store Day. Lute pelo sete polegadas em vinil.
Em 2021, o Metronomy lançou um EP chamado “Posse EP Vol.1”, onde todas as faixas eram colaborativas. O volume 2 desse projeto vai dar as caras agora em 2024, e esta “With Balance” é uma das prévias. A faixa resume bem a ideia do EP: promover encontros com artistas novos e menos conhecidos e que possam mexer com o som da banda. Naima dá um ar folk com seu violão, enquanto Joshua promove um momento quase spoken-word. Já separamos os nomes deles para saber mais sobre.
“All Born Screaming”, o novo disco da guitarrista americana St. Vincent, sai nesta semana, agorinha na sexta-feira, tipo amanhã. O último adiantamento foi “Big Time Nothing”, com sua letra que lembrou a gente um pouquinho da vibe de “Numb”, do U2. A música varia entre um timbre derretido de baixo e uma guitarra quase funky – perto das barulheiras que tinham saído até aqui, essa pega mais leve. Nos comentários do YouTube, alguém mencionou que lembra Bowie – e faz todo sentido mesmo.
Lá em 2003 saiu uma coletânea em tributo aos Ramones chamada “We’re a Happy Family: A Tribute to Ramones”. O disquinho foi um dos últimos projetos que Johnny Ramone acompanhou de perto e reunia gigantes como Red Hot Chili Peppers, Green Day, Metallica e U2. O Garbage contribuiu com uma versão quente de “I Just Wanna Have Something to Do”, faixa que abre o “Road to Ruin”. A música anos depois saiu como lado B de um single do “Bleed Like Me” e agora reaparece na versão expandida do álbum. É um som que tem mais de 20 anos, mas segue soando novinho em folha, o que honra e muito os Ramones.
As pessoas tão detonando absurdamente o “The Tortured Poets Department”, né? A gente ficou meio assim ¯\_(ツ)_/¯, mas não dá para dizer que “Fortnight” é exatamenteruim, pô. Um synth pop noturno gostosinho, apesar da letra sombria. Achamos!
***
* Na vinheta do Top 10, a banda americana Pearl Jam.
** Este ranking é pensado e editado por Lúcio Ribeiro e Vinícius Felix.