Top 10 Gringo – Beyoncé em primeiro, óbvio. Blondshell & Bully com certeza em segundo. A pulga da St. Vincent em terceiro. E assim vamos só com elas até o sexto

Podemos ir direto para a lista hoje. Afinal, alguma dúvida de que o primeiro lugar seria da Beyoncé? E mais: talvez semana que vem ela volte, porque o disco ainda está rendendo muitas audições e ideias. Mas vale ressaltar que a semana não foi só dela, muita coisa interessante saiu – de bandas de rock até pianistas experimentais, aqui vai nosso resumo da ópera. 

A partir da track original de 1968 do violão e da marcação no pé de Paul McCartney em “Blackbird”, Beyoncé convida quatro jovens artistas negras do country para harmonizar as vozes. Escrita por um beatle inspirado pelo movimento dos direitos civis nos Estados Unidos, a música agora finalmente chega nas vozes de sua inspiração. Cantada logo na abertura do álbum “Cowboy Carter”, a faixa funciona como um resumo da tese do disco. Groucho Marx não faria parte de um clube que aceitasse ele como sócio, Beyoncé por sua vez, que nunca foi aceita pelo country clube norte-americano, decidiu comprar o terreno do clube, derrubar a casa original e reconstruir tudo ao seu modo. Uma revolução que incluiu lendas do gênero, como Dolly Parton e Willie Nelson, responsável por deliciosos interlúdios enfumaçados. “Blackbiird” é só a escavadeira do projeto, o resto do disco é a nova casa de pé. E ficou uma bela mansão, viu? 

Sabrina Mae Teitelbau aka Blondshell é sem dúvidas uma das minas mais legais no rock hoje. A gente falou um monte dela por aqui no passado por conta do seu álbum de estreia. Em 2024, ela abre os trabalhos com um single com participação da Alicia Bognanno aka Bully – outra artista solo que usa um nome artístico de banda. Interessante, né? Bully tem um pouquinho mais de estrada, mas conversa muito com o jeito de fazer rock de Blondshell – repara no timbre “podre” da guitarra super lo-fi.

Apesar do nome, o novo single da St. Vincent não é uma homenagem ao baixista do Red Hot Chili Peppers – ainda que tenha uma senhora linha de baixo. Ela está falando mesmo de uma pulga. E, no caso, a pulga é ela mesmo ou o eu-lírico da letra: “Eu sou como uma pulga faminta/ Pulando no corpo quente de alguém”. A música tem na bateria Mr. Dave Grohl. A participação empolgou tanto St. Vincent que ela compartilhou no Instagram um pedaço da sessão. No vídeo, ela assiste Grohl por uma telinha e, quando ele acaba de gravar, Vincent invade a sala do estúdio: “Fuck yeah!”. Um play em “Flea” explica a empolgação dela. Fuck yeah mesmo!!! m,

Alguns sortudos conseguiram curtir (e dançar) nos cinemas de São Paulo e do Rio de Janeiro a versão restaurada de “Stop Making Sense”. Quem não conseguiu curtir essa experiência vai ter que se contentar com a bela versão da Lorde para “Take Me to the River”, parte do tributo à banda para celebrar justamente o relançamento do filme. Na carta de divulgação, Lorde contou sobre como foi a experiência pixelada de ser apresentada ao Talking Heads – a mãe dela mostrou um vídeo da banda em baixíssima resolução no YouTube. Ela tinha 12 anos, estava começando a entender o efeito da música em sua vida e ficou de cara com aquele homem que dançava tão esquisito e parecia compreender ela melhor que ela mesmo. Poucos, bem poucos, anos depois ela escreveria “Royals” e o resto você sabe.  

Não é só “Cowboy Carter” que chega em 2024 com muitas faixas e interlúdios. “Malegría”, de Reyna Tropical, segue essa linha. Mas diferente da pegada country da Beyoncé, o álbum de Reyna vai por outra linha e honra seu nome, que vem da expressão cunhada por Manu Chao na canção “Malegría” – que tenta descrever uma alegria acompanhada por alguma tristeza. Fabi Reyna na guitarra e no baixo desenha cenários bonitos, mas preenchidos de alguma melancolia ou saudade. Aquela aura de fim de domingo, sabe? Você está feliz por ser domingo, mas ele está acabando. O sentimento se explica pelo contexto do álbum. O Reyna Tropical nasceu como duo, mas se tornou um projeto solo antes mesmo deste primeiro álbum por conta da morte de Nectali “Sumohair” Diaz, que Fabi lista como fundamental para a formação de “Malegría”. Ele está aqui, mas não está. Malegría. 

É um pouco incomum bandas retornarem de longos hiatos com a criatividade em dia. Mais raro ainda é quando retornam até mais interessantes do que no passado. Dá para dizer que o Ride, o quarteto inglês formado por Andy Bell, Loz Colbert, Mark Gardener e Steve Queralt, está neste seleto grupo. Desde que eles voltaram em 2014 (e até passaram pelo Brasil em 2019) são três bons discos: “Weather Diaries” (2014), “This Not a Dafe Place” (2019) e o mais recente, “Interplay”, que soa como se o Ride fosse uma banda de garotos recém-saídos da garagem fazendo seus primeiros experimentos mais pop em um estúdio caríssimo. Ride para as rádios já!

O que uma pianista de perfil clássico faz em uma gravadora experimental? Kelly Moran, em seu segundo álbum pelo decentíssimo selo Warp, teve uma ideia simples e interessante: duetar com um superpiano tecnológico da Yamaha, um instrumento acústico, mas que toca qualquer coisa automaticamente. Inicialmente ela usava a máquina para auxiliar em sua escrita, mas o isolamento da pandemia provocou que ela começasse a escrever duetos que seriam impossíveis apenas para humanos, formando um belo jogo de expansão da criatividade e capacidade técnica. Um jogo com regras fixas, já que Moran expande o que é possível a um pianista, mas faz questão de se limitar ao piano acústico e seus limites, bem diferentes de uma mera reprodução eletrônica do instrumento. Interessante. 

Semana passada destacamos por aqui o fôlego dos tiozinhos do Elbow. Uma banda formada por cinquentões que tocam juntos desde os 16 anos. E o Reino Unido reconhece esse pique, tanto que colocaram o novo álbum da banda, “Audio Vertigo”, em primeiro lugar nas paradas de lá. 2024 e uma banda de rock desbancando uma gigante do pop, no caso, Ariana Grande? Pois é. Para a gente ver como os lugares-comuns da análise do mundo da música são uma bobeira. É só alguém do rock apresentar algo interessante que vão ter ouvidos interessados. E o Elbow fez isso.  Ah, o Jesus and Mary Chain pegou um honroso sétimo lugar, viu?

Você deve se lembrar de quando falamos aqui do Keith Richards cantando “Waiting for the Man” para um disco tributo ao Lou Reed. Ele está chegando. “The Power of the Heart: A Tribute to Lou Reed” sai no dia 20 de abril e ganhou mais um single. Desta vez Angel Olsen com Maxim Ludwig revivem “Can’t Stand It”, um outtake do venerado Velvet Underoground que foi parar no primeiro disco solo de Lou Reed. Se Keith Richards honrou a versão original, Angel e Maxim injetaram um pouco de adrenalina em sua adaptação, deixando tudo mais potente. 

Precisamos ser menos imediatistas, né? E mais calmos também. Por isso é bom voltar a destacar um disco que amamos quando foi lançado e segue delicioso de escutar: o novo do MGMT. Especialmente a quase épica “Dancing in the Babylon” com suas diversas variações instrumentais e seus interlúdios viajados. Escute esta música imaginando que ela já tem seus 30 anos de lançamento. Soa ainda mais perfeita. “I wanna tell everyone I know/ ‘I love you'”, repetem ao final da canção. É um baita momento. Amamos esta música. 

***

* Na vinheta do Top 10, a diva Beyoncé.
** Este ranking é pensado e editado por Lúcio Ribeiro e Vinícius Felix.

MITSKI – horizontal miolo página
MITSKI – inner fixed
Editora Terreno Estranho – inner fixed mobile