“The Collective” é o segundo álbum solo de Kim Gordon, mas é mais que isso: é o melhor trabalho solo envolvendo algum Sonic Youth desde que a banda acabou! Em uma entrevista recente, Kim contou que sempre foi mais do ritmo, enquanto Thurston Moore e Lee Ranaldo, guitarristas da banda, eram mais focados em melodias. Essa afirmação está um pouco traduzida neste álbum. São os beats quase de trap que dão o tom para a viagem sônica de Kim por aqui, que reaproveita métodos que usava em sua antiga banda, como escrever letras a partir de recortes aleatórios ou livre associação, para mandar suas composições mais inspiradas. Bizarro, torto e cativante do jeito que gostamos.
A doce selvageria divina de Nick Cave está de volta e com disco prometido para agosto com seus parças do Bad Seeds. E, pelo visto, com todos de volta ao rock. Nas palavras de Nick: “É um disco complicado, mas também é profundo e alegremente contagiante”. E isso aparece em “Wild God”, que tem essa sonoridade mais energética ao passo que carrega uma letra densa e com uma história longa sobre um “Deus Selvagem” e suas ações pelo mundo.
Renato Russo avisou lá no passado: Joni Mitchell é uma das maiores poetas do rock. A artista folk também fez muitos pelos avanços musicais com suas mil inspirações. Nessa linhagem que une poesia e musicalidade avançada dentro do folk norte-americano, encontramos hoje Hannah Frances. Ela é poeta de voz ampla, capaz de ir do mais doce ao mais agressivo; também é dona de uma violão poderoso, daqueles que não meramente acompanham uma música, mas fazem parte do cenário, da história contada. “Keeper of Shepherd”, novo trabalho dela, é seu melhor álbum. Vem aí uma artista gigante que está só no seu comecinho. Para você ter uma noção do quanto ainda Hannah é uma artista independente se virando, no site dela você pode tentar combinar com ela um job de redes sociais, de escrita, uma gig ou até o design do seu site – ela joga em todas as posições!
Fã do Jeff Tweedy, comandante do Wilco? Saiba que ele acabou de produzir a dupla Finom no próprio The Loft, seu lendário estúdio em Chicago. Formada por Sima Cunningham e Macie Stewart, o Finom tem um som difícil de definir – talvez lembre muito o Wilco quando a banda resolve ser menos certinha e tenta ousar nos arranjos com instrumentações pouco usuais. “Haircut”, primeiro single do trabalho, é pouco usual já em sua composição. A letra nasceu de uma “conversa” da dupla com o robô do celular de Macie. Quem quiser assistir o Finom pode procurar a dupla em turnê pelos EUA – elas também estiveram no Japão com o Wilco.
O genial cineasta e músico John Carpenter, acompanhado do filho e do afilhado, irá lançar o quarto volume de suas “Lost Themes”, seu trabalho musical fora das trilhas de cinema. A temática deste quarto álbum serão os filmes noir – o gênero norte-americano do pós-guerra, como explica o próprio John. Mas, como já indica o primeiro single, “My Name Is Death”, não espere por algo estagnado no passado. A trilha vai para um lado quase de rock moderno com abertura para inspirações da música eletrônica. Carpenter é Carpenter, só vai.
Você já deve estar familiarizado com o rostinho do Paul Mescal, ator irlandês dos bons, do impressionante “Aftersun” e da série “Normal People”. Sabia que a irmã dele também faz música das boas? Nell Mescal faz tipo um folk em tons superpop – lembra a Taylor Swift em seus momentos mais indies. Achamos bem massa, viu? E ela está crescendo – já abriu shows da Florence and the Machine, das Haim. Vem que vem essa menina.
Já que estamos em uma semana superfolk, vamos falar de outro artista que experimenta no setor. Amen Dunes, projeto de Damon McMahon, envereda pelo folk misturando o gênero com música eletrônica e se aproximando muito do indie rock . Seu lado mais ousado está expresso em “Boys”, que é uma canção básica até os três minutos. E em seu último minuto vira uma colagem sonora bem amalucada. Gostamos. A faixa é single do seu próximo álbum, que vai se chamar “Death Jokes”.
Sempre que ouvimos por aqui um single que anuncia um álbum brincamos que ele é o ponta-pé inicial, o primeiro gostinho ou algo do tipo. O supersaxofonista Kamasi Washington esquenta seu novo trabalho, “Fearless Movement”, literalmente com um prólogo. Dispensando nossas metáforas, Kamasi segue fazendo seu melhor – e o disco promete colaborações de gigantes, como Andre 3000, Thundercat e George Clinton. Nas palavras de Kamasi, será o trabalho “para dançar”. Se joga.
A bossa nova é foda e continua circulando pelo mundo. Dessa vez foi parar na guitarra de Mei Semones, artista que nasceu em Michigan, hoje vive em Nova York e que até estudou na prestigiada Berklee College of Music. A história de “Tegami” é bonitinha. O namorado de Mei gosta de mandar cartas para ela, porém ela é péssima em responder. Para resolver isso, resolveu responder em forma de música, que é o que ela sabe fazer legal. Não por acaso, “Tegami” significa “carta” em japonês. Diz ela, acostumada a misturar jazz com indie rock, que essa é sua primeira experiência com o gênero brasileiro.
No Dia Internacional da Mulher, Lauren Mayberry, vocalista do CHVRCHES, lançou um single solo justamente sobre os papéis que esperam e forçam das mulheres – sistema que ela aprendeu a hackear para usar contra o patriarcado. Ela avisa no refrão: “O jogo é seu, agora você está bravo porque aprendi as regras”. Ainda que seja seu terceiro single solo em pouco tempo, não se sabe se isso vai dar em disco. Vamos acompanhar.
***
* Na vinheta do Top 50, a maravilhosa Kim Gordon, ex-Sonic Youth.
** Este ranking é pensado e editado por Lúcio Ribeiro e Vinícius Felix.