Popload entrevista: Bombay Bicycle Club, a história da capa do novo álbum e como Damon Albarn e Chaka Khan foram parar no disco

A banda inglesa Bombay Bicycle Club sempre foi diferentona, no jeito que chegou ao indie britânico com seu som diverso no anos 2000 ou na frequência espaçosa com o que lançou seus discos desde então.

Pois um novo, o sexto deles, saiu sexta passada. “My Big Day” é o primeiro álbum de estúdio do grupo de Londres em quase quatro anos.

E esse “My Big Day” não é apenas mais um disco do Bombay Bicycle Club. Assim como a música da banda, o elenco de convidados do disco é de uma variedade e quilate absurdos, que para citar alguns trazemos Damon Albarn, a esperta da Nilüfer Yanya, Jon Higgs do Everything Everything e ninguém menos que a rainha funk anos 70/80 Chaka Khan.

Sobre o disco em si, um significante passo adiante para o Bombay Bicycle Club, bem mais experimental e divertido que o trabalho anterior, sobre o elenco de convidados estrelado e sobre o momento do Bombay Bicycle Club, conversamos com o baixista Ed Nash, musicalmente falando o “capitão do time”. A entrevista, você vê abaixo.

O Bombay Bicycle Club com Ed Nash o primeiro à esquerda. Foto de Tom Oxley

Popload: O Bombay Bicycle Club ficou em hiato entre 2016 e 2019. Este disco novo, “My Big Day”, já é o segundo desde que voltaram. O que motiva vocês a continuar gravando discos?

Ed Nash: Sendo bem sincero, depois do hiato, quando voltamos, trabalhamos no nosso quinto disco (“Everything Else Has Gone Wrong”) por um ano e meio. Colocamos toda nossa energia nele e o lançamos em 2020. Aí o mundo virou aquela loucura, não podíamos sair em turnê nem nada. Acho que, pessoalmente, eu não sabia se conseguia fazer tudo aquilo de novo. Eu fiquei triste de perder todo o trabalho. Aí você percebe o quanto sente falta dessas coisas. Foi o mesmo que aconteceu com o hiato – percebi que amo tocar com a banda e fazer música. Se eu não faço isso, o que vou fazer? É algo muito especial, poder fazer o que ama de forma profissional. É minha atividade favorita.

Popload: Você ainda fica tão animado com o lançamento de um disco novo quanto ficava no começo?

Ed: É diferente. Certamente lido melhor com o lançamento. Sei o que devo e o que não devo fazer. Não leio resenhas, sejam boas ou ruins. Quando eu era mais jovem, se lia uma resenha boa, me sentia muito bem e aquilo confirmava tudo o que eu sentia a respeito da nossa música. Mas as resenhas ruins me deixavam muito chateado. E talvez nenhuma delas fosse totalmente verdadeira. Mas aprendi a lidar com minhas expectativas e não ler resenhas, apenas ficar feliz de estar fazendo música. 

Popload: O que você pode me dizer sobre a abordagem para este disco novo?

Ed: Bem, como todo o trabalho do nosso disco anterior foi jogado fora imediatamente, decidimos que precisávamos fazer alguma coisa diferente. Queríamos algo que fosse além das expectativas das pessoas, mais variado e experimental. Até a capa do disco faz isso. Não sei se você viu, mas é uma imagem horrível! Acho que tem a ver com a música. Gosto muito da capa, mas não é esteticamente agradável. E acho que muitos fãs se incomodaram com isso, porque geralmente temos ilustrações de bom gosto nas capas. Essa nova é divertida e caótica, mas não estamos necessariamente a fim de agradar ninguém. E espero que nos sigam nessa jornada!

Popload: A capa me lembrou do clipe de “Black Hole Sun”, do Soundgarden…

Ed: É isso! Você acertou em cheio. Ninguém tinha comentado isso até agora. É bem essa a vibe, algo que remete aos anos 90, cheio de contraste e cores fortes, bem na tua cara.

Popload: E, falando em anos 90, o single mais recente se chama “Tekken 2”. Vocês acham que o público da banda vai sacar a referência ao jogo?

Ed: Não tenho ideia. Acho que você precisaria estar perto da nossa idade. Nós jogávamos Tekken 2 quando tínhamos uns 10 anos de idade. Quando gravamos a demo de uma música, temos um título provisório, mas o título “Tekken 2” era tão bom que o mantivemos para a versão final. Mas não sei se os jovens de hoje sabem o que é Tekken. Se chamássemos de “Minecraft”, seria mais reconhecível.

Popload: Você pode falar sobre a participação de Damon Albarn no disco?

Ed: Jack Steadman (vocalista da banda) já tinha trabalhado com Damon, e queríamos a opinião dele sobre algumas músicas. E, em vez de nos dar sua opinião, ele pegou uma guitarra e começou a tocar uma ideia que teve. Na hora, ele compôs e gravou sua participação na música, sem ninguém pedir. Fomos de pedir a opinião dele a ter uma participação especial do Damon Albarn em uma música. Nunca o convidaríamos, seria absurdo pedir que um de nossos músicos favoritos participasse do nosso disco. Mas acabou sendo muito legal.

Popload: E quanto à participação de Chaka Khan em “Tekken 2”?

Ed: Ela foi a única que não conhecíamos em pessoa antes de gravar. Essa música tem uma vibe meio disco, e tocamos ela para o Damon Albarn. Perguntamos, “Quem você acha que deveria cantar aqui?”, e ele respondeu, “Obviamente, a Chaka Khan”. Então foi ideia dele. E achamos que ela jamais aceitaria, mas enviamos a música, e ela topou. Foi simples assim. É aquele negócio: se você não perguntar, nunca saberá.

Popload: Quando vocês gravam músicas novas, quem tem a reação que mais importa para vocês?

Ed: Somos quatro integrantes, e nosso empresário tem um ouvido muito bom. No entanto, quanto mais opiniões recebemos, mas difícil fica. Todo mundo tem opiniões diferentes, e acaba ficando impossível saber quem está certo. Então as opiniões que importam mesmo são as nossas quatro, e do nosso empresário. São as pessoas mais envolvidas no projeto. Quanto mais você ouvir os outros, mais a ideia é diluída. Tenho certeza de que esse disco receberá tanto críticas positivas quanto negativas, e tudo bem. Você tem que acreditar no que faz.

Popload: E você adquire mais influências musicais novas com o passar do tempo?

Ed: Nem sempre música nova, mas música diferente. Aceitamos que mudança é importante, e devemos continuar ouvindo coisas novas. Tento me manter atual. Quando as bandas não fazem isso, ou quando qualquer pessoa chega aos 20 anos e aceita “OK, já sei como meu gosto é”, acho isso bem entediante e triste. É algo que fecha as portas.

Popload: Então o seu gosto ainda está mudando?

Ed: Sim, é aquele clássico de quem passou dos 30: “Eu não gostava de jazz, mas gosto agora”.

Popload: Já faz mais de dez anos desde a última vez que vocês vieram para o Brasil. Existe um plano de voltar para a América do Sul?

Ed: Sim. Queríamos fazer isso com o último disco, mas não conseguimos fazer nada, por conta da pandemia. E a América do Sul é um dos lugares que mais queremos visitar, mas sempre há algum limite de tempo ou orçamento. Isso é uma pena, porque vocês têm músicas e fãs incríveis.

Popload: E como foi aquela história de que uma escola de samba tocou com vocês em 2010?

Ed: Não me lembro dos detalhes, mas fomos ao Brasil para tocar em alguma premiação no Rio [Prêmio Multishow], e também fizemos nosso próprio show na cidade. Estávamos passando um tempo com uma escola de samba, e convidamos eles para assistir ao nosso show. Só que eles entenderam errado – acharam que era um convite para tocar conosco. Apareceram lá com a bateria toda. E pensamos, “Claro, por que não?” Foi bem espontâneo, e acabou sendo uma das coisas mais legais que já fizemos.

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