Top 50 da CENA – Julia Mestre está maravilhosamente bem em primeiro. Vovô Bebê vira Baby Grandpa em segundo. E a Catto ama o terceiro lugar

Encontramos algumas músicas que podem deixar você nesse clima maravilhoso. Da revisita ao pop brasileiro oitentista via Julia Mestre até o experimental Eduardo Manso e sua conexão com sons de galáxias muito, muito distantes. Vamos?

Ainda implicando com Julia Mestre por conta do meme da época do Bala Desejo? Reveja seus conceitos. O novo álbum dela, “Maravilhosamente Bem”, merece uma baixada de guarda de qualquer prejulgamento, porque é seu melhor trabalho até aqui. Se em “Arrepiada” havia uma ligeira desconexão dos visuais com a música, aqui o encaixe é mais certeiro: pop dos anos 80 em par com aquela saturação borrada das cores via VHS. Nas letras, a junção feliz também acontece. Julia equilibra uma escrita direto ao ponto com um texto sem mistérios, sem clichês e vícios – um ponto fraco da música pop brasileira hoje, adepta atualmente em soar vaga/vazia, vamos combinar. É pop e esperto – sexy, maravilhosamente bem. Tão Marina Lima que a própria Marina aparece no disco. A investigação pelos timbres foi tão longe que até os microfones usados foram creditados.

É fácil entender o conceito do novo álbum do carioca Pedro Dias Carneiro, aka Vovô Bebê. “Bad English” é por conta do disco ser todo em inglês. Em inglês, mas aquele inglês nosso, meio torto, meio fluente só no currículo, com um vocabulário formado por filmes e televisão. Se perdemos o bom humor imediato das letras em português, tão marcante em “Briga de Família”, ganhamos numa certa liberdade que escrever “mal” abre para a musicalidade – inspiradíssima no indie do fim dos anos 90, pense em Beck. Aliás, musicalidade bem próxima do álbum anterior, já “Bad English” foi composto no mesmo 2020, gravado em 2021 e só agora lançado. Haja paciência e sabedoria em tempos imediatistas. O time que acompanha Vovô é de primeira – Ana Frango Elétrico, Guilherme Lírio e Biel Basile – e a produção é de Chico Neves. Fino.  

Todos dizem “eu te amo”. Daí que todos tentam achar outras formas de dizer “eu te amo”. Quando essa corrida cansa, voltamos ao básico. Catto volta a esse básico aqui com um (nada) simples “Eu Te Amo”. Um “eu te amo” que foi dito mesmo só da boca para fora? “Lábios são peregrinos/ Rotas de fuga/ Avenidas que nos levam a ninguém.” Catto volta também ao seu lado compositora depois de sete anos, depois de interpretar Gal, talvez sua jornada mais popular até aqui. “Eu te Amo” funciona como uma declaração para o público que chegou agora: Esta sou eu. Esta é minha intensidade. Vamos? “Caminhos Selvagens”, o novo disco, chega logo mais, já no dia 15 de maio. 

Tem muita coisa no ar além dos aviões de carreira. Já ouviu falar do sinal de rádio contínuo conhecido UVB-76? É uma estação de rádio russa de onda curtas que transmite na frequência 4625 kHz um zumbido constante. Se sabe pouquíssimo sobre sua razão de ser. Esse e outros mistérios sônicos interessam o músico e produtor carioca Eduardo Manso, que explora a temática em “WOW”. Esta “FRB 20220610A”, por exemplo, destacada aqui, é inspirada na explosão rápida de rádio (FRB) detectada em 10 de junho de 2022 que viajou 8 bilhões de anos-luz até a Terra… Se um ano luz equivale a aproximadamente 9.461 trilhões de quilômetros, imagina essa viagem. Eduardo imaginou. E o passeio aqui dura 8 minutos – uma eternidade para muitos hoje em dia. Ouça.  

Fazer música em casa, no quarto, é possibilidade hoje a ponto de virar um gênero – “bedroom pop”. Mas vai lá tentar. A Billie Eilish faz tudo do quarto com o irmão, como cantou Caetano em “Anjos Tronchos”, mas com verbas e apoios monstruosos. A mineira clara bicho encarou esse desafio de fazer tudo de casa. Com o tempo acumulou suas composições e foi encontrando seu som, um tanto lo-fi como pede o bedroom pop, mas com um acabamento bem do refinado, parte do seu aprendizado de como tudo funciona no mundo da música – escrever, gravar e lançar essas músicas no mundo para serem ouvidas. Muito artista consegue às vezes só uma dessas três coisas. Paciente, ela lançou seu material aos poucos, single a single. Agora o primeiro EP, “Cores da TV”, prova que a paciência é virtude. Tudo aqui soa bem aos ouvidos, “clara como a luz do sol”, diria Lulu. E, olha só, ela fez tudo junto com o irmão também! Arrepiou, Miss Bicho. 

Acompanhamos a Giovanna há muito tempo e vimos de perto todas as suas transformações, em especial sua virada da MPB, depois para um certo indie e por fim para um som mais roqueiro, causando a irritação dos conservadores do gênero. Ela gosta de falar na cara suas verdades, e irritar muita gente é detalhe. E ela gosta disso. Sua nova música “G G G” é sobre quebrar padrões, expectativas e querer gritar ao mundo, que pode até se fazer de surdo, mas vai ouvir. Ah, vai. 

O rap nacional sabe esperar por álbuns. Emicida, por exemplo, precisou de muitas mixtapes até seu primeiro. Marechal, Ice Blue ainda prometem o seu – alguns juram que já ouviram e tudo. Stefanie esteve nesse time por mais uma década, não está mais. Seu flow único, reconhecido em grupos como Simples e Rimas & Melodias e singles solo, agora esparrama por dez faixas inéditas em “BUNMI”. “Não larguei mão e minha caneta ainda tem carga/ Travei várias luta, vivi vários luto/ Pra conseguir ficar tive que construir o meu reduto” versa Stefanie em “Fugir Não Adianta”, relato onde confessa sua quase desistência geral. Mas se o trajeto até aqui foi duro, agora entrega seus frutos, muito bem colhidos nas mãos seguras da produção tocada por Grou e Daniel Ganjaman, nome presente em quase todos os clássicos do rap nacional.  

Na cena independente do Espírito Santo, muitos nomes jamais tocariam no rádio (Mukeka Di Rato) enquanto alguns até tiveram seus momentos (Dead Fish). A Maré Tardia com sua mistura de indie/surf music/punk parece ser o contato dessa cena local com um tipo de rock que já foi muito grande no Brasil. Pense em Los Hermanos ou Titãs, grupos que traduziram nichos para as massas. Energia para chegar lá eles têm, e quem viu os shows da banda no “Circuito – Nova Música, Novos Caminhos” sabe do que estamos falando. Ah, se ainda tivesse MTV no Brasil, ia tocar muito na telinha. Fora que os meninos rendem até um pôster na “Capricho”, sabe? O legal é que nessa surf music deles cabe uma marolinha em Manchester para saudar o nublado Ian Curtis. Musicaça.

Em uma mistura charmosa de inglês e português, Jadsa versa contra a ansiedade perturbadora de sua paz. “Trust me/ Don’t forget/ Be alive and breathe/ Sempre que der”. O respiro no solo de trompete de Eduardo Santana. Daquelas músicas capazes de preencher fisicamente um espaço, trazer paz. Outra que encantou no último “Circuito – Nova Música, Novos Caminhos”, agora só vemos Jadsa de novo quando “big buraco” for lançado. Que seja breve!

Gabriel Ventura já tinha soltado dois singles neste ano, “Fogos” e “E o Que Quiser de Mim”. Agora soltou mais dois, “O Enfeite do Não e o Sim” e “Toda Canção”. São as últimas prévias dos seu próximo solo, “Pra Me Lembrar de Insistir”, programado para mês que vem pela Balaclava Records. Guitarrista dos barulhentos, é interessante ver Gabriel se desdobrar na busca por texturas acústicas. “Toda Canção”, uma reflexão sobre a incompatibilidade do amor e da dor, é total levada por violão, baixo acústico, bateria e clarinete, mas tem seu gostinho noise entremeado. 

11 – Tim Bernardes – “Prudência” (5) 
12 – Marrakesh – “Brincos” (6)
13 – Avenida Paulista, da Consolação ao Paraíso – “No Fundo, no Fundo” (Maurício Pereira e Gui Calzavara) (7)
14 – Avenida Paulista, da Consolação ao Paraíso – “Lari” (Juçara Marçal e Georgette Fadel) (7)
15 – Avenida Paulista, da Consolação ao Paraíso – “São para Poucos” (Thalin, Cravinhos, VCR Slim, Langelo, Pirlo) (7)
16 – Vera Fischer Era Clubber – “Lololove U” (8)
17 – Celacanto – “Quadros” (9) 
18 – João Gomes, Jota.pê e Mestrinho – “Pontes Indestrutíveis” (10) 
19 – Tagua Tagua – “Let It Go” (11) 
20 – Josyara – “Eu Gosto Assim” (12) 
21 – Terno Rei – “Peito” (13)
22 – Rachael Reis – “Jorge Ben” (14)
23 – Pélico – “Te Esperei” (com CATTO) (15)
24 – Moptop – “Last Time” (16) 
25 – Metade de Mim – “Metade” (17) 
26 – Bella e o Olmo da Bruxa – “A Melhor Música do Mundo” (18)
27 – Gab Ferreira – “Carrossel” (20)
28 – Enme – “Esperando o Sinal” (com FBC) (21)
29 – Marina Sena – “Anjo” (22)
30 – Mahmundi – “Irreversível” (23)
31 – Superafim – “MOUTH” (com Duda Beat) (24)  
32 – Rael – “Onda (Citaçaõ A Onda) (com Mano Brown e Dom Filó) (27)
33 – Leves Passos – “Ecos do Invisível” (28) 
34 – Cajupitanga e Arthus Fochi – “Flamengo” (29)
35  – Djonga – “Demoro a Dormir” (com Milton Nascimento) (30)
36 – Jovens Ateus – “Mágoas – Dirty Mix + Slowed Reverb” (31)
37 – Danilo Moralles – “Fervo de Amor” (32)
38 – Ogoin & Linguini – “Vícios Que Eu Gosto” (33)
39 – Bufo Borealis – “Urca” (34)
40 – Terraplana – “Todo Dia” (35)
41 – Marina Melo – “Prometeu” (com Maurício Pereira) (36)
42 – Apeles – “Mandrião (Vida e Obra)” (37)
43 – ÀIYÉ e Juan De Vitrola – “De Nuevo Saudade” (38)
44 – Nina Becker – “Praia, Cinema e Carnaval” (39)
45 – Dadá Joãozinho – “As Coisas” (com Jadidi) (40)
46 – Getúlio Abelha – “Toda Semana” (41)
47 – Siba – “Máquina de Fazer Festa” (com Ronaldo Souza) (42)
48 – Gabriel Ventura – “Fogos” (43) 
49  – Nyron Higor – “São Só Palavras” (44)
50 – BK – “Só Quero Ver” (com Evinha) (45)

***
* Entre parênteses está a colocação da música na semana anterior. Ou aviso de nova entrada no Top 50.
** Na vinheta do Top 50, a cantora Julia Mestre.
*** Este ranking é pensado e editado por Lúcio Ribeiro Vinícius Felix.

MDE 1 – horizontal miolo página
Terreno Estranho – horizontal fixo Mark Lanegan