Quem ainda liga para o Arcade Fire? Nós! Mas, atenção: a banda não é mais a mesma…

Quem ainda liga para o Arcade Fire? Nós! Mas, atenção: a banda não é mais a mesma… Foto: divulgação

Aquele Arcade Fire vibrante, caótico, que misturava guitarras, sintetizadores e papel picado, é bom avisar, já não existe mais. Ao menos este é o panorama de hoje, 9 de maio de 2025, data em que a banda canadense lançou seu novo disco, “Pink Elephant”, de longe o seu projeto mais sombrio da carreira.

Um dos principais nomes da música alternativa deste século, apadrinhado lá no início pelo David Bowie, e só isso já explica muita coisa, o Arcade Fire trouxe para seu novo álbum o momento conturbado e de reflexão de seu líder criativo, Win Butler, que nos últimos anos viu seu nome envolvido em mais de uma acusação de assédio sexual.

Desde a matéria da Pitchfork, publicada em agosto de 2022, Win evitou entrevistas. Soltou uma nota na época desmentindo as acusações e reconhecendo que teve relações consensuais fora do casamento de mais de 20 anos com Régine Chassagne, que também o defendeu publicamente.

Além disso, poucos meses antes, seu talentoso irmão Will deixou o grupo para seguir carreira solo. O que significa que o disco que sai hoje é o primeiro sem o multi-instrumentista, já que é o sucessor de “WE”, obra que fez aniversário de três anos na última terça-feira, 6.

“Pink Elephant” foi recebido com frieza pela imprensa especializada lá fora. O inglês The Times deu nota de apenas 2/5 e resumiu o disco como “contido e pouco convincente”. Outros veículos tradicionais como Rolling Stone e a MOJO foram um pouco mais generosos e deram 3/5.

O consenso é de que o álbum é morno musicalmente, pouco inspirado liricamente, e está longe do Arcade Fire enérgico com o qual nos acostumamos. De fato, não deixa de ser (parcialmente) verdade.

A faixa de abertura (esta acima) traz um título sugestivo, “Open Your Heart or Die Trying”, um instrumental sombrio que caberia facilmente em qualquer obra de uma banda de krautrock tipo o CAN.

Canções como “Year Of The Snake” e “Circle Of Trust” abrem brecha para interpretações de que Win esteja querendo falar algo sobre as polêmicas que o envolveram, abordando temas como transformação e redenção. Ironicamente, são dois dos lampejos sonoros que mais se aproximam do Arcade Fire “das antigas”. Menção honrosa também para a apoteótica “Stuck in My Head”, que toma conta dos últimos 7 minutos do álbum.

Com 10 faixas no total, sendo 3 delas instrumental, o Arcade Fire parece ter feito um disco para ele mesmo. E tá tudo bem. Nem vamos aqui entrar no mérito se o álbum é bom ou ruim, se é uma mudança de direcionamento musical calculada ou um acidente de percurso originado de um movimento reativo aos tumultos pessoais que certamente afetaram a banda.

A real é que “Pink Elephant” é um álbum “diferente”, que expõe um Arcade Fire vulnerável, mas que precisa ser ouvido de coração aberto, tipo quando o Arctic Monkeys apareceu com o “Tranquility Base Hotel & Casino”, em 2018, obviamente com outro tipo de contexto completamente diferente.

Se vamos nos acostumar com ele, só o tempo vai dizer.

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