Histórico livro “Barulho”, de André Barcinski, retrato de uma revolução musical, ganha nova edição, luxuosa, ampliada e com brindes. Saiba como comprar, apoiando a nova tiragem (ou o contrário)

André Barcinski é jornalista, fotógrafo, cineasta, roteirista, radialista, escritor, produtor de shows internacionais e twitteiro famoso. Sobre a última dessas virtudes todas dele, temos que ele publicou um tweet semanas atrás que mexeu com pessoas que viveram de perto o rock do comecinho dos anos 90. E não foi pouca gente.

Mais exatamente, o tweet tinha como pano de fundo a última graaaande revolução do rock a partir de uma banda de Seattle cuja explosão da noite para o dia abriu portas para centenas de bandas novas e algumas antigas ganharem espaço na mídia da época, estimularem a criação ou solidificação de festivais de música, mais aberturas para o gênero e suas variantes punks, metais, indies em rádios e TVs.

A banda, claro, foi o Nirvana. E as referidas portas foram as que se abriram principalmente a grupos americanos que já estavam formando uma base sólida no chamado “rock alternativo” das “college radios” daquele final dos anos 80. E por elas muuuuitos entraram, modificando a música que, sob muitas causas e efeitos, vc consome aqui na Popload. Sim, pode-se dizer que a Popload também entrou pelas portas abertas pela turma do Cobain.

Pois bem, o tweet a que nos referimos acima, do André Barcinski, era ainda sobre um velho livro dele mesmo, mas numa nova pegada. Barcinski anunciou em suas redes uma nova fornada de edição do famoooooso livro “Barulho”, comemorativa dos 30 anos da obra. Quem viveu (isso tudo que falamos) leu (ou ao menos ouviu falar).

Ali por 1991, quando o mundo da música começava a ficar de ponta-cabeça, Barcinski sacou a movimentação, abandonou seu trabalho em São Paulo e se mandou para os EUA, para usar suas destrezas como jornalista, fotógrafo e escritor no epicentro da revolução do rock americano, flagrando in loco tudo o que estava acontecendo no underground do rock americano, de Nova York a Chicago, de Los Angeles a Seattle. O material colhido, com o apropriado nome de “Barulho”, seria publicado no ano seguinte, 1992.

O livro trouxe imagens e causos de quando o autor, entre outras rolês, conversou com ícones como Jello Biafra (Dead Kennedys) e a galera do Cramps, assistiu a ensaio dos Red Hot Chili Peppers antes da tour de lançamento do grande álbum “Blood Sugar Sex Magik”, foi ao estúdio do Ministry em Chicago e viu o lendário show do Nirvana no teatro Paramount, em Seattle, que aconteceu menos de um mês depois do lançamento do “Nevermind”. E que viraria anos depois DVD e disco ao vivo. Pensa a ocasião!

A importância do “Barulho” está toda muito bem contada no texto abaixo, do poploader Alexandre Gliv Zampieri, testemunha ocular daquele boom musical e devorador do livro original.

O “Barulho 30 Anos” está sendo lançado não em livrarias, nem em bancas de jornal, como foi feito com o “Barulho” de 1992. Mas sim via uma campanha na plataforma do APOIA-se.

Apoiando, pois, com um valor de R$ 235 até R$ 359, o/a participante recebe em casa uma edição especial em capa dura do “Barulho 30 anos”, com dedicatória personalizada, num formato maior e mais luxuoso, 70 páginas a mais que a obra original, que tinha 200 páginas (está fora de catálogo), um ganho em foto com mais de 60 inéditas (tiradas pelo autor entre 1988 e 1999) e um novo prefácio, escrito pelo rapper Marcelo D2, que fundaria o Planet Hemp em 1993, ali naquela balbúrdia maravilhosa causada pelo rock americano na cena do planeta todo. Sem contar uma assinatura de dois meses do blog de cultura do autor.

A campanha vai até o dia 30 de abril. Até o momento que este texto foi escrito o novo “Barulho” já tinha tido o apoio de mais de 800 pessoas, a 48 dias de seu encerramento. A primeira meta, 500 livros, foi batida em 48 horas. Os livros adquiridos começam a ser enviados no começo de julho.

E, vale dizer, se o “Barulho” original traz na capa um endiabrado Kurt Cobain balançando a cabeça enquanto toca sua abençoada guitarra, o que faz a imagem sair “tremidamente apocalíptica”, o novo “Barulho 30 Anos” traz uma linda e rara imagem do líder do Nirvana sorrindo.
Perfeito!

Acima, capa da reedição 2023 do livro “Barulho”. Abaixo, o original de 1992


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Livro, minha leitura preferida, é merecidamente apresentado à nova geração, 30 anos depois

por Alexandre Gliv Zampieri

Memória, memória, memória. Três décadas depois, ela tende a ficar ainda mais nebulosa, mesmo. E o que resta são, além de alguns fatos curiosa e absolutamente aleatórios de um lado, do outro os definitivamente marcantes. Principalmente os que nos marcaram em cheio de diversas formas.

Desnecessário dizer, mas importante contextualizar, que em uma época pré-internet, tipo ali no começo dos anos 90, a ida a uma banca de jornal e revista, para quem era, como eu, sedento por mais e mais informações musicais, não era algo necessário. ERA OBRIGATÓRIO.

E, se as novas edições das publicações (principalmente a “Bizz”) já eram mais que suficientes para abalar meu lado nerd rocker (ou coisa parecida), tento me recordar da verdadeira adrenalina ao chegar na banca e me deparar com um livro em destaque.

Honestamente, não me lembro se ele já havia sido anunciado previamente. Provavelmente, já que as suas matérias vinham sendo publicadas aos poucos. Mas ainda assim o impacto para um avoado mas verdadeiramente apaixonado por música como eu não foi brincadeira. 

É fato que o livro “Barulho” chegou com tudo de forma arrebatadora com textos e fotos de um ousado André Barcinski, que partiu para uma arriscada aventura aos Estados Unidos entre setembro e novembro de 1991.

Se a Turma da Mônica do Maurício fez muitos de nós aprender a ler, se não literalmente, pelo menos certamente de forma bem mais prazerosa que as cartilhas da vida, “Barulho” foi o livro que levou uma geração a não se satisfazer mais apenas com as revistas.

Que descoberta fascinante. Livros sobre música. Livros… mais páginas = muito mais tempo de histórias (e imagens) para degustação.

O livro, descrito como “Uma viagem pelo underground do rock americano” e com um selo de “Recomendação BIZZ – Rock de qualidade”,  funcionava como uma espécie de coletânea, daquelas das melhores, tipo sem regras. Um pouco de tudo deliciosamente misturado. Clássicos, bandas do “Lado B”, do “Fúria Metal”, várias delas aliás bem perto de migrar e invadir os “normais” programas tipo “Disk MTV”. 

Tempos loucos onde até o Ministry (um dos destaques do livro) chegou a tocar nas nossas rádios, não apenas em programas especializados, mas na programação “normal” (“normal”?)

E, além do citado Ministry, que estava entre o “The Mind Is a Terrible Thing to Taste” e o “Psalm 69” (!!!) , olha só alguns (e só alguns) dos encontros e experiências relatadas no livro:

– um papo e um show de público seleto mas intenso em uma aparição (quase) surpresa numa casa de shows pequena antes da turnê verdadeira começar com os lendários Cramps!

– ensaio fechado com um Red Hot Chili Peppers, honestamente falando, ainda “on fire”, antes da turnê do recém-lançado “Blood Sugar Sex Magik”!

– um rolê pelo hardcore barra-pesada de Nova York com bandas como Agnostic Front e Sick of It All!

E, no “ano em que o punk quebrou”, quem precisa de um esnobe (e caro) John Lydon quando se pode passar um tempo com Jello Biafra (ex mas eterno front do Dead Kennedys) e uma tarde inteira falando sobre música com o “amigo” Joey Ramone. 

Pensa. Uma tarde… inteira… com o “amigo”… JOEY RAMONE!!!!

Se só isso já não fosse mais que o suficiente, ainda tem ela. A, não à toa, banda da capa. 

Ah… O Nirvana. Cinco semanas pós-“Nevermind”, já conquistando suas inesperadas e assustadoras proporções, naquele 31 de outubro no Paramount Theatre na própria Seattle. E o Barcinski estava lá entre os 5000 sortudos.

Com abertura do Mudhoney ainda (merecidamente, óbvio, outro dos capítulos/entrevistas do livro).

Li e reli sobre esse show incontáveis vezes e me lembro de fixar cada uma daquelas imagens eternamente no meu cérebro. 

Me lembro de ficar fascinado quando finalmente pude ver um pouco de tudo aquilo, em movimento, compilados e editados para o vídeo oficial do maravilhoso hit “Lithium”

Alguns poucos vídeos ainda sairiam depois no VHS (VHS!!!) chamado “Live! Tonight! Sold Out!!”, mas o show inteiro (hoje disponível no Youtube) ainda levaria alguns bons anos para conseguirmos assistir. Meu show registrado preferido, da banda da minha vida, e, repito, o Barcinski estava lá.

E, por falar nas imagens, impactantes e maravilhosas (nível hipnotizante mesmo), essas fotos foram responsáveis e culpadas por, após meses lendo e relendo, acabarem transformando a minha edição original do “Barulho” covardemente retalhada na minha tentação de colar e criar as capas de caderno mais legais de todos os tempos. Fizeram seu papel, é claro, mas anos depois consegui uma certa redenção desesperada recomprando em um sebo uma edição, surrada mas completinha, voltando para coleção, essa guardada com máximo cuidado.

Em recentes divulgações, li que o André se considera um cara de sorte por ter vivido tudo isso. Mas, se a hora era certa, nós todos também tivemos muita sorte do cara certo estar por lá, registrando tudo e apresentando todo esse material absurdo, que está agora sendo merecidamente resgatado, ampliado e, de quebra, também reapresentado a toda uma nova geração.

Trinta anos depois, a minha opção de leitura favorita segue incontestável sendo sobre música e rock.

Muito obrigado, André Barcinski, por me lembrar disso com este “Barulho 30 Anos”!!!

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