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* Claro, uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa. Mas pensa comigo. Aqui, no nosso mundinho indie de nobres “aberturas” mas ainda assim de uma amplitude “pequena” que é só nossa, porque a gente gosta que seja assim, sempre tem uma banda que traz algo diferente e especial que nos faz despertar uns troços difíceis de mensurar.
Pensa um post deste em 2001, uma década depois que o Nirvana botou sua grande gema no mundo, e o título do tal post fosse “Cada década tem a sua “Smells Like Teen Spirit”. Veja os Strokes massacrando “Last Night” ontem em Londres. Duas vezes.”. Seria um absurdo, de início. Principalmente se o disco que continha a música tivesse sido lançado apenas uma semana depois da afirmação do jornalista deslumbrado.
Mas, se vc entender, que no papo aqui cabem outros “méritos” além de apenas uma comparação qualitativa, talvez doa menos e você aceite. E pode até usar o Arctic Monkeys e sua “I Bet You Look Good on the Dancefloor” que o efeito é parecido. Siga o parâmetro da “energia nova”, talvez. O tal “young blood”, ou “sanguinho novo”, cunhado pelo gênio Arnaldo Baptista, que recomendava na capa ouvirem seus discos em volume alto.
Então tenta extrair seu volume alto do Spotify de seu celular na hora de ouvir um lançamento como este “Dogrel”, da banda irlandesa Fontaines DC, que nos deixou animadões por aqui principalmente neste quesito “energia”, ou no “teen spirit/sanguinho novo” tudo junto, em todo o conceito exageradamente bom ou ruim que nos leva a julgar as coisas com essa emoção turva e desmedidamente intensa, típica de seres adolescentes.
Neste “Dogrel”, tem essa “Hurricane Laughter”, a música em questão. Na questão do título.
Ontem, o Fontaines DC passou por Londres para duas apresentações. Uma dentro da Rough Trade Records, a loja de discos mais cool do mundo, certamente não apenas uma loja apenas de tanto que ela tem o poder de interferir numa cena e não apenas por ser uma loja num mundo que dizimou grande parte das lojas de discos. E outra no Garage, aqui um show mesmo, tradicional clubinho em Highbury & Islington que tinha ontem alguns poucos ingressos na mão de cambistas sendo vendidos por 200 libras (lembra um tal show dos Strokes no Astoria em 2001?).
Daí tiramos, de ambas as apresentações, essa faixa em especial, “Hurricane Laughter”. Sente a vibe. Tira o possível exagero da coisa toda, desencana aqui de “Smells Like Teen Spirit”, não leve em conta que o moleque que canta cita James Joice em letras. Releva o sentimento irlandês brutalmente despejado nas músicas, deixa para lá a apropriação da cena punk post-brexit que os ingleses envolveram eles sem eles terem nada a ver com o Brexit. Desconsidera que o grupo lembra Joy Division/The Fall/Pogues/Arctic Monkeys/Oasis (Liam)/Strokes tudo junto e como herança, não cópia. Finge que não percebeu que é a dupla de guitarristas mais absurda e estilosa, o baixista mais irado e o baterista mais animal que você viu coincidentemente na mesma banda nos últimos tempos. De risada quando falam que esta tour americana deles com o Idles está sendo chamada de turnê Sex Pistols/Clash desta era. Ah, nem liga também que o “Guardian” deu 5 estrelas, o “NME” também, a Popload deu 10 e o Pitchfork deu 8 para o disco deles.
Só sente a vibe. Em volume alto. Para você depois, no fim de tudo, entender que “there is no connection available”.
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