Em uma semana de poucos lançamentos em termos de álbuns, olhamos com atenção para coisas bem diferentes: da tranquilidade da Mxmtoon até o trash metal doido do Belushi Speed Ball. E incluímos além disso uma banda que anda mais brasileira que canadense, o BADBADNOTGOOD – com música em português!
Que bom uma semaninha “mais fraca” de lançamentos para escutarmos melhor discos que acabaram passando semibatidos pela gente. É o caso do excelente “Liminal Space”, da Mxmtoon, ou Maia. Ou ainda a Taylor Swift que o mundo precisa, mas não merece! Ela surgiu supernovinha, tocando ukulele e produzindo as coisas em casa, lançado tudo meio artesanalmente. Agora, com 24 anos, já está em seu terceiro álbum e fala sobre amadurecimento, enquanto propõe uma mudança sonora, algo que está representando no título do álbum – “Liminal Space” pode significar o exato momento que marca uma transição. Esta “Dramatic Escape”, por exemplo, olha com ironia para as dicas básicas para manter a sanidade – relaxar, ler um livro, tomar sol. A cantora americana não quer nada disso, prefere lógico imaginar saídas mais dramáticas para suas dores. Mas, não se assuste, é menos negativa e mais ansiedade – ok, pode ficar meio assustado, mas está tudo bem, são as famosas dores do crescimento.
O humor esquisito da banda de thrash metal Belushi Speed Ball não está só no nome provocativo, que remete à overdose fatal do ator John Belushi. Lembram quando o Green Day recentemente relançou algumas músicas do “Dookie” em objetos esquisitos, tipo MiniDisc, Game Boy, escova de dente, disquetes e boneco de pelúcia? A turma do Belushi se sentiu roubada, pois eles também lançaram álbuns nesse modelo alternativo muito tempo atrás. A resposta? Colocaram o single “This Is the Peak” em um pedaço de cocô de cachorro preservado em resina – uma referência ao “dookie” do Green Day. A gente falou que o humor dos caras era bizarro.
Gostaram do BADBADNOTGOOD no Balaclava? O que foi eles tocando a brasileiríssima “Cascavel” de Antônio Adolfo, né? Esse lado brasileiro da banda canadense, que não é segredo para ninguém, já tinha sido evidenciado dias antes na parceria totalmente em português com Tim Bernardes e Arthur Verocai – nosso maestro que já é parça deles, praticamente. Se patriotismo fosse isso aqui, a gente tava até mais para good do que para bad.
A imprensa britânica bateu com gosto no novo do Primal Scream, mas talvez mais por uma questão que está fora do álbum. A resenha do “Irish Times”, por exemplo, lembrou que o tecladista Martin Duffy, falecido em 2022, não recebeu nada do acordo milionário da banda na venda de seu catálogo. O resenhista do “Quietus” também lembrou o caso, apontando certa hipocrisia de Bobby Gillespie – afinal, uma treta de grana em um disco que bate no neoliberalismo é esquisito mesmo. Em termos de álbum, alguns problemas aparecem desde a feitura, já que era para ser um trabalho solo de Gillespie feito a partir de material composto pelo produtor David Holmes, mas se tornou do Primal Scream pela presença discreta de Andrew Innes no trabalho, parte da banda desde os anos 80. Complicado – tem bons momentos, mas parece que falta algo ali…
Georgia Maq fazia parte do Camp Cope, uma das bandas australianas favoritas nossas. Agora sozinha e vivendo em Los Angeles, Georgia dá os primeiros passos para valer em sua carreira solo. E o single “Tropical Lush Ice” tenta representar justamente o sentimento dela nessa nova vida californiana, aquela tristezinha leve que bate no estrangeiro, sabe? O famoso “homesick”. Pelo menos assim que entendemos essa balada quase country.
Enquanto convive com os fãs brasileiros alucinados em seu Instagram e prepara o terreno para uma turnê pelos Estados Unidos, Jorja Smith, que chegou toda eletrônica e moderninha no recente “Falling or Flying”, retoma seu passado mais soul nessa velha composição com Maverick Sabre, amigo que tem um vozeirão que combina com o dela. A música circula entre os fãs há anos e finalmente ganhou uma versão definitiva. Valeu a espera.
Artista sul-africana que hoje vive em Berlim e ainda por ser descoberta por mais gente, Alice Phoebe Lou teve seu verão agitado sendo a voz de abertura da concorrida turnê da Clairo. “Better”, uma música sobre idealizar relacionamentos que nem existem ainda e por consequência quebrar a cara, é uma simpática música gravada ao lado dos músicos que a acompanharam nessa tour. Meio que uma festa de despedida em público. Olho nela, faz tempo que não lança um disquinho.
Ok, você já não aguenta mais ouvir “Pyscho Killer”, mas vamos lá! Esta versão acústica presente na recente edição de luxo de “Talking Heads ’77” merece uma atenção. Ficando meio que entre a versão original e a versão ao vivo presente no mitológico “Stop Making Sense”, a gravação tem o violoncelo de Arthur Russell, que cumpre o papel quase de guitarra e oferece um solo emocionante ao fim da música. É tão bonito que cura qualquer enjoo possível com esse clássico.
Já tínhamos ouvido a Sofie Royer no disco do incrível Toro y Moi, mas foi uma matéria no “Guardian” que nos lembrou da jovem artista californiana, de origem austríaca e iraniana. Não por acaso, foi em Viena que ela estudou música clássica com pompa e circunstância. Mas seus tempos de violinista ficam só na capa do single “Babydoll”, um som mais para pistas do que para teatros chiques.
Da Alemanha, o produtor adb.ts, que conseguiu bombar uma faixa lo-fi lá na época da pandemia, entrega aqui uma tradução musical para o drink de muitas baladas dos jovenzinhos de antigamente, não? Um som divertido e solto de uma cena de Berlim/Munique ainda por ser descoberta.
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* Na vinheta do Top 10, a cantora americana Mxmtoon.
** Este ranking é pensado e editado por Lúcio Ribeiro e Vinícius Felix.