Top 50 da CENA – Tuyo emplaca logo duas no pódio. Far from Alaska chega em terceiro para chacoalhar o ranking

Assim como o Top 10 internacional sentiu a pressão do Popload Festival, nossa noção da cena brasileira ficou perturbada também pelo dias corridos. Mas impressão nossa ou a coisa anda devagar mesmo? Fim de ano, segundo turno, parece que todo mundo está à espera das devidas confirmações. Que seja para melhor. Nééé?

Esta dupla de músicas da Tuyo saiu para um especial de Dia das Crianças. Mas são duas curtas canções que podem muito bem acalentar os corações adultos que só querem um descanso, um pouquinho de paz nestes dias de ansiedade extrema. Dois verdadeiros mantras. A primeira vai mais no sentido da inspiração cotidiana, que chega a deixar a gente superligado e sem vontade de dormir, e outro segue mais no sentido de refletir sobre o que rolou ao longo do dia, dando a deixa para um tempo disponível ao relaxamento. Lá e cá. Um pouquinho de cada coisa para ficar tudo mais saudável. 

Não é filme, mas tudo indica que vem por aí “Far from Alaska 3”, o terceiro álbum da banda. “3.1”, epzinho com três músicas, veja só, indica os caminhos a serem seguidos – música eletrônica em conversa com o rock pesado que é a marca do trio do Rio Grande do Norte. Em português boa parte do tempo, “Olha” é a canção mais surpreendente – com seu começo calmo vai enganar muita gente. 

O Wry, que já teve carreira internacional e hoje anda superbrasileira, cantando em português, soltou mais um single na sua língua materna. Mantendo a boa fase, a letra pinta um cenário bastante sombrio, mas ao mesmo tempo acolhedor – quando a pessoa saca qual é a sua zona de conforto. Vale ver o vídeo, gravado em uma quadra de basquete, um cenário que dá um contraste bonito para os versos “Não vou ganhar/ Nem vou perder”.

 No bom novo álbum, “Em Seu Lugar”, o mineiro Djonga rima com calma e firmeza na balançada “Até Sua Alma”. Vale pelo refrão viciante, vale pela conexão Minas/SP com a participação certeira das poderosas Tasha e Tracie – o verso “Nóis não gosta do que é dos outro’, por isso nóis cria, cria” é lindíssimo. Mil referências. Mil fitas.  

Impactados aqui pelo divertidíssimo show do Number Teddie no Popload Festival, a gente recupera uma dele que já estava lá embaixo na nossa lista. Sua apresentação comprovou a impressão que a gente tirou do disco – um artista iniciante, curioso e sem medo. Divertido ao passo que consegue criar momentos de tensão no seus versos cortantes. Aguardem por ele no Lolla do ano que vem. 

Môa do Katendê foi assassinado após uma discussão com um eleitor de Bolsonaro, na madrugada após o primeiro turno das eleições de 2018. Em 2022, crimes semelhantes a esse voltaram a acontecer. Quem alastra esse ódio? Mestre de capoeira, compositor e percussionista, Môa sempre trabalhou pelo afeto. Na época em que tiraram sua vida, ele trabalhava em um álbum com composições suas. Para colocar no mundo aquele projeto interrompido, BaianaSystem, Chico César, Emicida, Fabiana Cozza, GOG, Kimani, Jasse Mahi, Lazzo Matumbi, Letieres Leite, Luedji Luna, Márcia Short, Mateus Aleluia Filho e Rincon Sapiência criaram em cima do material composto. O disco, que foi produzido na Mandril Audio pelo Rodrigo Ramos, ainda não está no ar. Mas um outro single chegou: é esta sacolejante “Veía Coló”, que traz no feat. o Edgar e o BNegão. 

Para ir atrás de uma boa brisa, fomos recuperar a solar canção de Janu, que anda batendo forte por aqui à medida que vamos escutando mais. “Segue em frente, vai/ Sei que nada mais te machuca, vey”. O alagoano, que não tem receio de misturar arrocha com dream pop, faz aqui uma deliciosa canção capaz de ajudar a gente a sacudir a poeira mental e se levantar atrás dos objetivos – mesmo que esses sejam ficar bem tranquilinhos, numa nice. 

A dupla mais harmoniosa do Brasil hoje, ÀVUÀ, encontro das belas vozes de Bruna Black & Jota.Pê, lançou seu primeiro e aguardado álbum, “Percorrer em nós”. É um disco curtinho, só 25 minutos, mas com novidades da preciosa reunião. A gente tá falando hoje em encontrar um pouco de luz? O duo conta que essas canções do disco são “uma proposta de mergulho nos mais diversos sentidos do afeto”. A música do ÀVUÁ é doce sem perder a força, como tirar um tempo, tomar um ar, mas sacar que a luta segue. Naquela coisa, a vida não precisa só acontecer enquanto fazemos outros planos, para parafrasear um certo poeta. 

Por falar em amor, cabe mais uma nessa linha? Vamos do verso “O amor é a cura” que Xênia canta aqui nesta belíssima “Ânimus × Anima”. Mais um verso potente da música? “Tira essa armadura, irmão/ Mentiras servem só de prisão.”  A gente bobeou feio em ainda não ter incluído nenhuma de “Em Nome da Estrela” neste Top 50. O novo álbum da Xênia França saiu lá em junho e a gente vacilando – é dos discos mais bonitos do ano, em perspectiva. Futuro e ancestralidade caminhando juntos por aqui. Xênia sabe e demonstra que o passado cantou o futuro e que ele pode ser melhor que o presente. Tenha certeza. 

11 – Giovanna Moraes – “Caixa de Pandora” (5)
12 – Do Amor – “Nefelibata” (7)
13 – Jup do Bairro – “Pelo Amor de Deize” (8) (com Deize Tigrona)
14 – Deize Tigrona – “Sururu das Meninas” (9)
15 – Luedji Luna – “Nova Deli” (com Oddisee) (10)
16 – Tulipa Ruiz – “Novelos” (11)
17 – Cecília Cecilina – “O Canto dos Sapos” (12)
18 – Planet Hemp – “Distopia” (13) 
19 – Gab Ferreira – “Take Control (Interlude)” (15)
20 – Vanguart – “Oceano Rubi” (Estreia) (16) 
21 – Multi-Homem – “Peru Pará” (Estreia) (18) 
22 – Pavilhão 9 – “Lados Opostos (19)
23 – Chico César – “Bolsominions” (20)
24 – Marina Gasolina – “Struck” (21)
25 – Spainy e Emicida – “Rap Pagode” (22) 
26 – Vírus – “Foice Facão e Peixera” (com EVYLiN e Urias) (23)
27 – Criolo – “Charlie Brown” (24)
28 – Ubunto e Nara Gil – “Abafabanca” (26)
29 – Marrakesh – “Darkstars” (27)
30 – Tim Bernardes – “A Balada de Tim Bernardes” (28)
31 – Rashid – “Não Sabem de Nada” (29)
32 – Izzy Gordon – “A Ilha” (30)
33 – Winter – “Good” (31)
34 – Ombu – “Pare” (32)
35 – Jonathan Ferr – “Lá Fora” (com Coruja BC1, Zudzilla, Lossio) (33)
36 – Josyara – “MAMA” (34)
37 – Valciãn Calixto – “Adoção” (35)
38 – Maglore – “Para Gil e Donato” (36)
39 – José Miguel Wisnik – “O Jequitibá” (37)
40 – Black Pantera – “Isolamento Social” (38)
41 – Tom Zé – “Pompeia – Piche No Muro Nu” (39)
42 – João Donato – “Órbita” (40) 
43 – Rico Dalasam – “Guia de um Amor Cego” (com Céu) (43)
44 – Nobat – “Beira do Mar” (com Luli) (44)
45 – Juçara Marçal – “Odumbiodé” (45)
46 – Mulamba – “Barriga de Peixe” (com Kaê Guajajara) (46)
47 – MC Tha – “São Jorge” (com Comunidade Jongo Dito Ribeiro e Sueide Kintê) (47)
48 – Alaíde Costa – “Aurorear” (48) 
49 – Saskia – “Quarta Obra” (49)
50 – Radio Diaspora – “Ori” (50)

* Entre parênteses está a colocação da música na semana anterior. Ou aviso de nova entrada no Top 50.
** Na vinheta do Top 50, a banda paranaense Tuyo.
*** Este ranking é pensado e editado por Lúcio Ribeiro e Vinícius Felix.

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