Top 50 da CENA – Tom Zé chega ao topo preocupado com a floresta. Luiza Brina e Malu Maria completam o pódio com oração e sonho

Parem as máquinas. O Top 50 tava pronto, ensaiado, indo para o palco, mas Tom Zé resolveu lançar música. Paramos para ouvir e ler suas histórias, já que Tom Zé não é daqueles que lança canção nova sem antes dar uma conversadinha sobre o que acaba de apresentar. Sendo assim, o músico toma o primeiro lugar para ele e vamos que vamos para mais uma semana, ainda que afetada pelo feriado santo. E isso sem nada a ver com a Beyoncé estar lançando disco novo.

As duas novas de Tom Zé são como faixas irmãs. Foi para Danilo Miranda, diretor do Sesc que morreu no ano passado, que Tom contou sua ideia de escrever sobre uma segunda vinda de Cristo em forma não de homem, mas de floresta. A seu modo, Tom entendeu de Danilo que não contasse a ideia até fazer a música. E foram três anos, atrapalhado pela pandemia, para que o baiano resolvesse a canção. Música forte e que termina em tom de alerta: “Se a gente não lutar/ Nem Cristo pode salvar”. Presente de Danilo, que é homenageado na segunda música, um samba que brinda a escuta atenta, o aprendiz que fez do Sesc a obra de arte que é. Ambas as músicas ainda não foram aos streamings corriqueiros, tirando o Youtube

A mineira Luiza Brina, que você deve conhecer ou de sua carreira solo ou de sua banda Graveola, ao longo da carreira lança suas orações, canções com o mesmo título e numeradas de acordo são feitas, o que não significa que sejam lançadas nesta ordem ou que estejam todas por aí. Fato é que chegamos a “Oração 18”, que também anuncia o próximo disco solo de Luiza, escrito nos últimos quatro anos. Com ar cinematográfico nos primeiros versos, é bonito quando chegamos no poderoso “Pra viver junto é preciso poder viver só pra gente se encontrar”. Para os fãs de outra Luiza, a Lian, no caso, vale notar que Brina se uniu aqui ao produtor Charles Tixier, produtor de primeira e de assinatura bem única e marcante.

Não é uma música qualquer que pode terminar ao som dos trovões. “A Língua Trava” justifica seu final intenso com direito a um solo de guitarra meio Eddie Van Halen em “Beat It”. É de ficar alucinado. Coisa linda. A faixa é parte de “Nave Pássaro”, terceiro álbum solo de estúdio de Malu Maria. O trabalho é uma verdadeira parceria de Malu com o amigo Dustan Gallas, do Cidadão Instigado, que colaborou para dar forma aos sonhos de Malu. Agora em forma de música, sonhemos com Malu.

A bandaça Francisco, El Hombre resolveu dar um tempo. Não é fim, é pausa. Antes de parar, incluíram no roteiro uma turnê e um disco novo para não deixar seus fãs tristes. Engraçado que o primeiro single seja justamente um remédio contra ansiedade. “O Que Existe É o Agora” é uma lembrança útil quando o mundo ou a gente grita pelo medo do futuro ou então de uma pausa. Logo eles voltam, sem sofrer por antecipação.

Bruna Mendez com a parça BRUNÊ e o parça DeVito Cxrleone fez um EP dedicado a “Love Songs” que exalam  romance (o mais fofo possível) e muita safadeza, lógico – são coisas complementares. Um pouquinho de R&B superchic com um pouco de funk falando altas putarias. Tudo a partir do prisma de Bruna, Bru e DeVito. Como se fala de amor em pleno 2024? Achamos que desse jeito aqui. Vale notar a fala da Bruna sobre o EP: “Love Songs Vol.1 me fez fazer as pazes com a música”. É bom ter você de volta, Bruninha. 

Perdemos a incrível Liana Padilha semana passada. Com o NoPorn, Liana foi presença constante neste Top 50 e em muitos e muitos posts por aqui durante muitos e muitos anos. Na pandemia, sentou com a gente para falar sobre sua aventuras. Da pequena revolução da noite paulistana chamada Xingu ao seu projeto-banda NoPorn, influenciou e fez a cabeça de nomes como o CSS e a Letrux. Para entender Liana, basta dar uma olhada no que escreveram artistas como a própria Letrux, Jup do Bairro, Filipe Catto e Marina Lima. Liana é daquelas raras pessoas que todo mundo amava sem restrição. E pela sua obra sabemos quanto amor ela oferecia. Esse amor segue.

Haroldo Bontempo é um jovem músico mineiro que começou no rock com a banda Mineiros da Lua. E em carreira solo avançou para outros gêneros. É tão jovem de tudo que tem como o ídolo o superjovem Dinho, do Boogarins. Ah, esses garotos… Por falar em garotos, no EP novinho do Haroldo rola um feat. com o eterno João Donato, em uma faixa que se chama “Risada”. Curioso o título, afinal, tão inesquecível quanto o piano de Donato só a risada gostosa do mestre. Uma música para sorrir feliz da vida.

No rap, tem um lugar problemático onde as minas às vezes só são convidadas para fazerem o refrão de uma música. Versos e estrofes ficam com os caras. Tássia Reis avisa: “Eu posso ser mais que refrão, eu posso ser canção inteira”. O recado tem via dupla, é uma analogia para relacionamentos. E talvez você conheça esta música de outros carnavais: a faixa se chamava “No Seu Radinho”. Sua nova cara e nome fazem parte do EP “Bem Longe do Fim”, feito para celebrar os dez anos de carreira de Tássia.

Se as ruas de São Paulo têm algum profundo conhecedor, esse é Jota Ghetto. Mestrão da rima, o homem da voz grave mais marcante do rap nacional investiga no EP “Recolhimento” a masculinidade preta. Ele mesmo dá a senha para melhor compreensão da obra: “A premissa desse EP é deixar de lado a figura masculina preta que é estereotipada nas ruas, nos filmes, nos cargos de trabalho, nos relacionamentos, na literatura, na política”. “Michael B. Jordan na Fila do CAT”, com seu título que poderia ser uma manchete sensacionalista, aborda exatamente o assunto, com Jota perguntando a Alex o que é branquitude e depois o que é negritude – entre as duas perguntas, sua experiência de vida e das dores que passou. 

É dia de poliamor, avisa Deize Tigrona. O resto da letra alguns vão considerar impublicável – a gente “respeita” os puritanos, até porque o play vai ser muito mais saboroso do que nossa mera reprodução – e sabemos que até eles vão clicar. São Paulo é isso aí – e aqui vamos juntos com Deize em um longo dia pela cidade com complemento psicodélico dos Boogarins, deixando a música deliciosamente despedaçada.

11 – Jujuliete –  “Dominatrix” (6)
12 – Apeles – “In God’s Hands” (7)
13 – Jota.pê – “Quem é Juão” (8)
14 – Juçara Marçal e DJ Ramemes – “Ladra – Remix” (9)
15 – Amaro Freitas – “Viva Naná” (10)
16 – Sofia Freire – “Autofagia” (11)
17 – Papisa – “Amor Delírio (com Luiza Lian)” (12)
18 – Carne Doce – “Cererê” (13)
19 – Bruno Berle – “Dizer Adeus” (14)
20 – Emicida – “Acabou, Mas Tem” (15)
21 – Caetano Veloso – “La Mer” (16)
22 – A Balsa – “Rede Social” (17)
23 – Tuyo – “Paisagem (com Luedji Luna)” (18)
24 – El Presidente – “Perigo no Sol (com Benke Ferraz)” (19)
25 – Kamau – “Documentário” (20)
26 – Josyara – “Ralé/Mimar Você” (22)
27 – Mahmundi – “Estácio, Holly Estácio” (23)
28 – BNegão – “Canto da Sereia” (24)
29 – Maria Maud – “02.02” (25)
30 – Pitty – “Femme Fatale” (Ao vivo) (26)
31 – Madre – “Sirenes” (27)
32 – Ayrton Montarroyos – “Peter Gast” (28)
33 – Guerra – “É Massa” (29)
34 – Raidol – “Imensidão” (31)
35 – Rodrigo Campos – “Gamei” (32)
36 – Thami – “Deixa Queimar” (33)
37 – Jup do Bairro – “Amor de Carnaval” (34)
38 – Jorge Aragão com Rappin Hood – “Mafuá” (35)
39 – Luedji Luna e Xênia França – “Lua Soberana” (37)
40 – Chinaina – “Roubaram Minha Jóia” (38)
41 – Dead Fish – “11 de Setembro” (39)
42 – Pabllo Vittar – “Pede pra Eu Ficar (Listen to Your Heart)” (40)
43 – Jambu – “Lentamente” (41)
44 – Vandal – Violah (42)
45 – Clara Bicho – “Luzes da Cidade” (43)
46 – Parteum – “’12 6 10” (44)
47 – Psirico – “Música do Carnaval” (45)
48 – GRIYÖ – “Afropenobeat” (46)
49 – Rico Dalasam – “Jovinho” (47)
50 – Ogoin & Linguini – “Quando Tudo Começou” (48)

***
* Entre parênteses está a colocação da música na semana anterior. Ou aviso de nova entrada no Top 50.
** Na vinheta do Top 50, Tom Zé.
*** Este ranking é pensado e editado por Lúcio Ribeiro e Vinícius Felix.

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