Top 50 da CENA – Sei lá, deu para o Supervão. Os Pullovers não deixam morrer. E a Anticlimax dando o clima. A semana está bem contada por essas bandas

Semana de nostalgia por aqui. Mas uma nostalgia crítica, digamos. De maneiras diferentes, duas bandas de diferentes gerações refletem sobre a passagem do tempo e discutem isso diretamente na abordagem estética de seus novos álbuns – a força das canções, esse mix de letra e música que tão bem fazemos. 

Em um verdadeiro estudo sobre a nostalgia, o Supervão fez agora o disco que o Strokes falhou em fazer lá em 2013 – quando tudo começou a dar errado e a banda e sua geração entraram num beco sem saída. Parece exagerado, mas é uma tese legal para “Amores e Vícios da Geração Nostalgia”. A banda gaúcha, que já teve muitas caras, tem na jornada atual do Mário Arruda, Leonardo Serafini, Olimpio Machado e Rafaela Both um time que decididamente neste novo disco decidiu encarar a questão central de sua geração: vivemos fora do nosso tempo? Por que o passado e a repetição são tão atraentes? As perguntas que surgem nas letras também se formam no som. O humor da banda se traduz na tirada proposta em “Noia York”, feita todinha de diferentes pedaços de Arctic Monkeys – no riff, na estrutura, nos versos. Não são jovens copiando o passado, é uma banda ativamente pensando sobre as razões de o novo não ter nascido ainda. Filosófico demais? Gostamos demais. 

Ter banda é coisa de jovenzinho? Que nada. O Pullovers é a prova. O grupo paulistano, que desapareceu pouco depois do primeiro álbum em 2009, em um momento em que seus integrantes se viram adultos e sem muita grana por conta de uma cena independente muito menor que a atual, decidiu voltar agora. Todos com carreiras estabelecidas fora da música, famílias formadas e uma relativa paz. Luiz Venâncio, guitarrista, vocalista e principal compositor, por exemplo, hoje é professor. Como as coisas são, né? Hoje ele lida em sala de aula com uma geração que descobre o Pullovers lá de 2009, através do hit tardio de Tik Tok “Tudo Que Eu Sempre Sonhei”. Dá para dizer que esse choque acaba sendo um dos motores da filosofia por trás de “Vida Vale a Pena”, o primeiro trabalho da banda em 15 anos. O álbum o tempo todo entra em questões adultas seríssimas que acabam por dialogar com as dores existenciais que todos têm muito jovenzinhos. “Não Se Mate”, inspirada em Camus, é o recado de que a vida sempre vale ser vivida – recado que se volta para a banda em si. Valeu esperar 15 anos, deixar a vida correr e voltar a ser um grupo capaz de fazer um novo disco. Daqueles casos em que o professor ensina o que ele mesmo pratica.  

Voltando de um hiato um pouquinho menor, mas também sabendo reler seus passos, o duo paulistano Antiprisma está de volta com seu terceiro álbum, “Coisas de Verdade”. “Eu não tenho pressa”, cantam Elisa Moos e Victor José, que definem o disco como uma coleção de canções que são o que deveriam ser. Eles não quiseram abrir qualquer margem para modismos ou fórmulas “que dão certo”. E o discurso é sério, tanto que no disco tem uma música de oito minutos. 

Podemos repetir o que falamos na lista gringa da semana: os canadenses do BADBADNOTGOOD andam mais brasileiros que muitos patriotas por aí. Além de habitué no país, o grupo, um dos destaques do último Balaclava Fest, fez sua primeira música com letra em português, uma parceria com o cada vez mais internacional Tim Bernardes e o maestro Arthur Verocai, esse quase um integrante do BADBADNOTGOOD. 

Ao modo de uma samba-enredo que poderia ser de Gonzaguinha pelo que tem de crítico e de esperançoso, a letra de Danilo Penteado em parceria com César Lacerda é um dos pontos altos de “DaPé”, segundo álbum solo de Danilo. De forma quase conceitual, o disco passeia por outras variações do samba e traz entre os presentes uma parceria inusitada de Danilo com Gilberto Gil. Inusitada porque a composição é fruto da pesquisa de Danilo na obra do baiano, que encontrou uma letra perdida sem música e terminou o trabalho, devidamente chancelado por Gil. Aliás, vale caçar o perfil de YouTube de Danilo, onde ele compartilha mais seus estudos avançados na obra gilbertiana.   

Gostamos quando artistas pop encaram standards do jazz. Lady Gaga costuma mandar bem nessas e a “nossa” Iza repete o feito ao colar na clássica “Cry Me a River”, um peso-pesado que já foi cantado por uma multidão: Ella Fitzgerald, Caetano Veloso e até Aerosmith estão nessa lista variada. Ficou bacana a versão dela, dando grave à tristeza da música. 

Termogenia é a ação de estimular o corpo a produzir mais calor. Sabe quando você toma um café e dá aquela quentura? É isso. Daí você entende por que a cantora mineira Thanya Canela escolheu “Termogênica” como nome do seu EP. A ideia é de ela gerar um calorzinho falando de festa, dança, corpo e pegação em geral. E tudo isso numa mistura esperta de MPB com pop. Lembra do primeiro da Marina Sena? È mais ou menos essa a pegada. 

Desde sua estreia, o Boogarins enfileirou uma sequência de álbuns de inéditas e turnês intermináveis pelo mundo. Tivemos novidades em 2013, 2015, 2017, 2019, isso sem contar as coletâneas de sobras. Esse longo intervalo era o prenúncio de alguma mudança – o período em que a banda se expande, se reconfigura, deixa a massa descansar. Foi um tempo em que eles passaram, por exemplo, tocando por muitos lugares sua versão ao vivo do Clube da Esquina. Essa influência ia dar no quê? Começamos a ver o resultado em “Corpo Asa”, primeira canção apresentada de “Bacuri”, álbum previsto ainda para neste mês. Pelo que se ouve é o Boogarins que aprendemos a amar de sempre, mas algo está diferente. Será a idade? Será a naturalidade de gravar com a produção afiada da amiga Alejandra Luciani e não um produtor estrangeiro? Será que nós mudamos muito também como ouvintes deles? Um pouco de tudo isso, sem dúvida. “Um exercício de construir com melodia e palavras uma imagem mais ampla sobre como gostar e desejar viver junto de alguém (seja como amigo, familiar ou como grande amor da sua vida) pode ser transformador”, anota a banda. Sem dúvida, uma lição _ clubística _ que toma corpo _ corpo asa.

Não é de hoje que falamos da Nina Maia, a jovem compositora de 21 anos que já movimentava a cena em seus shows e singles. Agora Nina tem um disco para chamar de seu, o excelente “Inteira”. A estreia é marcante especialmente por mostrar de cara seu poder de fogo: na voz única repleta de camadas, na ousadia musical de não definir imediatamente a que gênero pertence. Além disso, tem outra característica importante de álbuns de estreia: reúne o melhor de Nina até aqui, ou seja, algumas composições feitas quando ela era mais jovem do que é hoje. Outro detalhe: mais um trabalho no Top 50 que tem na mix a mão da craque Alejandra Luciani – não pode ser coincidência a qualidade impressa em mais um registro, certo? 

Drum’n’bass e guitarrinha chorosa é uma combinação e tanto nas mãos de Clara Borges e André Pádua, a dupla mineira que forma o Paira, uma das grandes revelações da CENA em 2024. Capaz que a turma do Dinosaur Jr., que divide com o palco com o Paira no Balaclava Fest no domingo, goste bastante desse lo-fi delícia. Porque tem o eletrônico bom. Mas tem também a barulheira boa.

11 – Zeca Baleiro e Wado – “Avatar” (4)
12 – João Erbetta – “Pra Esquecer da Solidão” (5)
13 – Naïf – “Trópicos Úmidos” (6)
14 – Submerso – “Estrago Que Me Faz” (7)
15 – Janine Mathias – “Barracão É Seu” (com Criolo) (8) 
16 – Amiri – “Rap Du Bom” (com DJ Will e O Adotado) (9) 
17 – Filipe Catto – “Chuva de Prata” (10) 
18 – Maria Luiza Jobim e Mahmundi – “Insensatez” (11) 
19 – Dora Morelenbaum – “Venha Comigo” (13)
20 – Maria Beraldo – “Baleia” (14)
21 – Juvi – “Novas Drogas Legais” (15)
22 – Gio – “O Samba e Você” (com Céu) (16)
23 – Batata Boy – “Novas Rotinas” (com Vitor Milagres) (18)
24 – Mundo Video – “COMO VOCÊ ME VÊ” (19)
25 – Sítio Rosa – “Amarelo” (21) 
26 – Edgar – “Chave de Ouro” (22)  
27 – Thalin, VCR Slim, Cravinhos, Pirlo,  iloveyoulangelo – “Todo Tempo do Mundo” (23)
28 – Curumim – “Só Para no Paraibuna” (26)
29 – Jean Tassy – “Dias Melhores” (com Don L) (27)
30 – Tássia Reis – “Só um Tempo” (com Criolo) (28)
31 – Papangu – “Rito de Coroação” (29)
32 – Zé Manoel – “Canção de Amor para Johnny Alf” (30)
33 – Ale Sater – “Final de Mim” (31)
34 – Liniker – “Me Ajude a Salvar os Domingos” (32)
35 – Caxtrinho – “Cria de Bel” (33) 
36 – Bruna Mendez – “Temporal” (34) 
37 – Thiago França – “Luango” (com Marcelo Cabral e Welington “Pimpa” Moreira) (35) 
38 – Vitor Milagres – “Um Barato” (36)
39 – Apeles – “Fragment” (37)
40 – Alaíde Costa – “Foi Só Porque Você Não Quis” (39) 
41 – Exclusive os Cabides – “Coisas Estranhas” (40)
42 – TRAGO – “Porvir” (42)
43 – Vivian Kuczynski – “Me Escapo a Cuba” (43)
44 – Papisa – “Vai Passar” (44)
45 – Antônio Neves – “Dinamite” (45)
46 – Mateus Fazeno Rock – “Madrugada” (46)
47 – Julia Branco – “Baby Blue” (47)
48 – Taxidermia – “Clarão Azul” (48)
49 – Mirela Hazin – “Delírio” (49)
50 – Bruno Berle – “Te Amar Eterno” (50)

***
* Entre parênteses está a colocação da música na semana anterior. Ou aviso de nova entrada no Top 50.
** Na vinheta do Top 50, a banda gaúcha Supervão.
*** Este ranking é pensado e editado por Lúcio Ribeiro e Vinícius Felix.

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