TOP 50 DA CENA – Segue o líder Maurício Pereira. Rico Dalasam ao vivo em segundão. Ella from the Sea bota o inglês na CENA e fecha o pódio

Semana levemente mais devagar que as outras. Será um período de férias? Ou a gente deixou escapar algo? Se a quantidade de novidade não está lá essas coisas, o recheio de cada pedaço novo deste Top 50 está especial – entre releituras, shows ao vivo, homenagens e um samba absurdo, literalmente!

Velhos parceiros, Maurício Pereira e Tonho Penhasco criaram o formato do álbum “Micro” para resolver um problema da estrada. Sair em turnê com o formato voz e guitarra (ocasionalmente um sax) era mais barato e prático. A solução virou linguagem e daí que veio o disco. Limitados, os dois se viram recriando muitas das músicas de Maurício a partir da Semi, guitarra cheia de particularidade desenvolvida pelo próprio Tonho. “Um Dia Útil”, do álbum “Mergulhar na Surpresa” (1998), que parecia eternamente colada ao marcante piano de Daniel Szafran, surpreende no novo arranjo e suas sutis mudanças de ênfase em uma música que já gostava de brincar em surpreender justamente nas ênfases. Recriação primorosa. Daquelas vezes que revistar os antigos trabalho passa longe de se afastar da criatividade. 

Após o lançamento do emocionante EP ao vivo “Encontro DDGA”, registro que mostra como andam calorosas as apresentações do Rico Dalasam, o single mais recente do artista, “30 Semanas”, também ganha sua versão ao vivo, em um registro em Minas Gerais. Da plateia, você escuta o grito que resume o atual momento do artista e de seu público apaixonado: “RICO, VOCÊ ME DESTRÓI”. É isso, Rico só anda acertando na veia. 

Música em inglês na CENA brasileira, que talvez pudesse caber no Top 10 Gringo se não viesse da paulistaníssima Gabriella, a Ella, que traduz seus vários sentimentos ups and downs com várias sonoridades na mesma música, que de tão boa precisava entrar bem em um de nossos tops. Que seja neste aqui!

“Nada Tropical” será o terceiro álbum da Glue Trip, grupo de João Pessoa liderado por Lucas Moura. “Marcos Valle” é o terceiro single que adianta o trabalho e se trata de uma tiração de onda/homenagem ao grande Marcos Valle, um dos mestres da música brasileira, conhecido pela boa vibe de suas canções. Tanto que isso fica entregue nos versos de Lucas: “Ouvi Marcos Valle/ Bebendo demais/ Fumando demais”. O respeito a Marcos não fica só na letra. Musicalmente a canção se embebeda mesmo do estilo do compositor, especialmente em sua fase dos anos 80, especificamente “Estrelar”. Tá ligado nessa? E detalhe: Marcos curtiu a música e até enviou um vídeo para a banda elogiando a composição enquanto tomava uma tacinha. 

É precisa a análise que o próprio Rodrigo Campos faz do segundo volume dos “Sambas do Absurdo”, projeto que reúne ele com Juçara Marçal e Gui Amabis: “Verificamos um álbum mais “pés no chão” que o primeiro”. Se no anterior as faixas eram apenas numeradas, por exemplo, o curto volume 2 (20 e poucos minutos, assim como o primeiro volume) traz títulos mais convencionais, ainda que por dentro não sejam sambas tão convencionais assim. Escute “Um Minuto” e “Carlão Morreu”, por exemplo. Ainda pensando na análise do próprio Rodrigo, a gente concorda quando ele usa o verbo dançar para descrever que o samba agora se insinua mais do que no primeiro volume. Não se trata de uma aceitação barata do absurdo que nos chega a cada esquina, mas sim um entendimento mais complexo dessa interação com nós. Uma dança mesmo.   

É belíssima a estreia do alagoano Bruno Berle. No álbum “No Reino dos Afetos”, ele mostra logo parte de suas habilidades nas composições, nos instrumentos e até na produção – é ele mesmo que assina a gravação e produção da maioria das faixas, dividindo os créditos em alguns sons com os parceiros Batata Boy e Jefu. Em “Sereno”, por exemplo, ele encara percussão, guitarra de nylon, sintetizador, piano, baixo, flautas, voz. Uau. Mas a gente fica desta vez com a bela “Até Meu Violão”, que não é do Bruno, mas de João Menezes, que participa da faixa na percussão e voz. É dos sons que traduz a capacidade de Bruno em misturar de maneira bastante original um tanto de influências gringas e modernas com uma tradição da música brasileira que começa lá no samba e na bossa-nova dos anos 50, 60. Um nome para se acompanhar de perto. E o legal é saber que ele está só começando. 

Estamos ansiosos pelo novo álbum do Rohmanelli, o mais brasileiro dos italianos – professor universitário, ele vive aqui há mais de 20 anos. A nova fase começa com a mudança do seu nome artístico, agora encurtado: Rohma. E o primeiro single chega chegando com a participação de Letrux. A música é uma versão de um sucesso dos anos 1980 na Europa. “Kobra” originalmente é de Rettore, diva pop LGBTQIA+. Em português, pelas mãos de Franco Cav, e com uma roupagem mais moderna, dos produtores Jonas Sá e Thiago Nassif, cabe bem para 2022, cheia de provocação.

No ano passado, Índio da Cuíca realizou um sonho antigo. Com uma trajetória na música já de pelo menos 50 anos como instrumentista que tocou pelo mundo e participou de muitos discos e projetos, faltava um disco para chamar de seu, um autoral, com suas músicas. Com direção musical e produção de Gabriel de Aquino e codireção do cuiqueiro e pesquisador Paulinho Bicolo, o álbum “Malandro 5 Estrelas” trouxe a versatilidade e criatividade de Índio à tona. Para celebrar a chegada do disco aos palcos, esse medley da malandragem foi lançado em celebração. Mas tem uma malandragem para achar ele, que não está no streamings corriqueiros. Esta você só encontra no Bandcamp da QTV.

Alguém escreveu no Instagram da banda de shoegaze carioca: “Último tema que imaginei ser abordado por vocês”. E surpreende mesmo. Estamos diante de uma exaltação roqueira ao Clube de Regatas do Flamengo, mais especificamente na figura do polêmico volante William Arão, amado e odiado. E com direito a citação de um texto de Nelson Rodrigues. Nos anos 1950, ele, que era Flu, escreveu talvez a mais bela homenagem ao manto rubronegro: “Há de chegar talvez o dia em que o Flamengo não precisará de jogadores, nem de técnicos, nem de nada. Bastará a camisa, aberta no arco. E diante do furor impotente do adversário, a camisa rubro-negra será uma bastilha inexpugnável.” Tipo esta música do Gorduratrans.

Temos banda instrumental nova na CENA. Celeste, nome escolhido em homenagem ao famoso game canadense com arte brasileira do estúdio MiniBoss, reúne os baianos Ivan Souza (baixo e synths), Marcus Rossini (bateria e efeitos de percussão) e Sergio Magno (guitarra e programações), mais o carioca Rodrigo Barba (baterista e efeitos de percussão), que talvez você conheça dos Los Hermanos. Mas duas baterias? Pois é, colocar o instrumento de percussão em primeiro plano é uma das missões da banda. Por falar em soma, o primeiro single é uma referência a matemática. A Lei de Benford conta que a probabilidade de o primeiro dígito ser 1 em diversas coleções de números é maior do que os outros números. Louco, não? Essa conclusão é útil, por exemplo, para descobrir fraudes em estudos estatísticos, eleições… Já a “Lei de Benford”, a música, por enquanto só no Youtube.

11 – Juçara Marçal – “Odumbiodé” (6)
12 – Tom Zé – “Hy-Brasil Terra Sem Mal” (7)
13 – Sessa – “Canção da Cura” (8)
14 – Mulamba – “Barriga de Peixe” (com Kaê Guajajara) (9)
15 – João Gordo–  “Ciganinha” (10)
16 – Chico César – “Vestido de Amor” (11)
17 – MC Tha – “São Jorge” (com Comunidade Jongo Dito Ribeiro e Sueide Kintê) (12)
18 – Do Amor – “Por Essa Rua É Ruim” (13)
19 – Maglore – “Eles” (14)
20 – Chico Buarque – “Que Tal Um Samba?” (part. Hamilton De Holanda) (15)
21 – Tim Bernardes – “Última Vez” (16)
22 – Letieres Leite & Orquestra Rumpilezz – “Coisa n°5 – Nanã” (com Caetano Veloso) (17)
23 – AIYÉ – “Exu” (18)
24 – Black Alien – “Fica Até umas Hora” (19)
25 – Jair Naves – “Meu Calabouço (Tão Precioso É o Novo Dia)” (20)
26 – Moons – “Best Kept Secret” (21)
27 – Elza Soares – “Mulher do Fim Do Mundo” (22) 
28 – Alaíde Costa – “Aurorear” (23)
29 – Luna França – “Como” (24)
30 – Joyce – “Feminina” (1977, Claus Ogerman) (25)
31 – Bruno Capinam – “Ode ao Povo Brasileiro” (27)
32 – Urias – “Je Ne Sais Quois” (28)
33 – RT Mallone – “100 Balas” (com Coruja BC1) (29)
34 – Rico Dalasam – “30 Semanas” (31)
35 – Criolo – “Ogum Ogum” (com Mayra Andrade) (32)
36 – Thiago Jamelão – “Diálogo sobre Vivência” (33)
37 – João Gomes – “Me Adora” (34) 
38 – Black Pantera – “Estandarte” (com Tuyo) (35)
39 – N.I.N.A. – “Anna” (36)
40 – Saskia – “Quarta Obra” (37)
41 – Rashid – “Pílula Vermelha, Pílula Azul” (38)
42 – Otto – “Tinta” (39)
43 – Walfredo em Busca da Simbiose – “Netuno” (41) 
44 – Sérgio Wong – “Filme” (43)
45 – Radio Diaspora – “Ori” (44)
46 – Florais da Terra Quente – “Suco de Umbu” (com Chapéu de Palha) (45) 
47 – LAZÚLI – “Pomba Gira” (47)
48 – Valciãn Calixto – “Aquele Frejo” (48)
49 – Labaq – “Dóidóidói” (49)
50 – Luneta Mágica – “Além das Fronteiras” (50)

***

***

* Entre parênteses está a colocação da música na semana anterior. Ou aviso de nova entrada no Top 50.
** Na vinheta do Top 50, o músico Maurício Pereira.
*** Este ranking é pensado e editado por Lúcio Ribeiro e Vinícius Felix.

>>

MDE 1 – horizontal miolo página
TERRENO ESTRANHO: black month [horizontal interna fixo]