Top 50 da CENA – Jup do Bairro é a mulher do primeiro lugar. Paira e Mundo Video vêm para perturbar este pódio

Semana recheada, hein? E de muitos momentos: da experimentação- exaltação de Jup Do Bairro à melancolia do Adorável Clichê. De Minas, muitos barulhos esquisitos. Do Rio, mais barulhos, mas dessa vez recheados de um humor muito particular. Que cena movimentada essa. A gente fica meio tonto querendo entender tudo – é impossível, aceitemos. 

O ótimo novo EP de Jup do Bairro é mais um passo na sua pesquisa filosófica e musical iniciada no EP “Corpo Sem Juízo”, seu trabalho de estreia, de 2019. “In.corpo.ração” é explicado assim por Jup: “Se antes perguntei o que podia um corpo, hoje me pergunto o que não pode e o porquê”. Sonoramente ela experimenta em parceria com a dupla CyberKills variações da música eletrônica (do techno ao funk) e tem até seu momento spoken word. No encerramento do trabalho, uma homenagem a Elza e sua poderosa “Mulher do Fim do Mundo”, que marcou a fase final da maior cantora do século XX. Jup adequa a canção à linguagem do álbum, deixa o discurso caber na sua voz – ela também uma mulher do fim do mundo, pronta para dizer igual Elza: “Meu tempo é o agora”. 

A gente já tinha puxado este papo aqui: ah, os mineiros. Cada hora a gente encontra um som nesse estado tão multifacetado – tem rap, tem funk, tem música calminha e tem música amalucada. André Pádua e Clara Borges, que formam o Paira, fazem um troço que é até difícil de nomear: guitarras roqueiras encontram batidas de um drum & bass doidão com breaks que vão fazer você achar que seu computador está dando pau. Doideira. Adoramos. 

Atenção também para os cariocas Gael Sonkin e Vitor Terra, os responsáveis pelo Mundo Video. “FESTA NO ALÉM!”, single que antecipa o próximo EP do duo, dá uma noção do quão caótico e divertido é o trabalho deles – e diferentão do que anda rolando na música brasileira. Não é muito diurno, mas também não é propriamente noturno. Tem um bom humor de rock carioca que você encontra em nomes como Vovô Bebê e Ana Frango Elétrico. Esses dias a gente viu uma foto de um dos dois numa festa, vestido de Kurt Cobain. Talvez isso queira dizer algo (ou não). 

Colocadas juntas com um sentido, duas músicas bem legais que ganharam vídeos recentemente. “Vai Passar”, da Papisa, de álbum recém-lançado, mostrou um plano-sequência romântico e boêmio. Já “Escada”, do Holger, faixa do álbum “Más Línguas”, lançado ano passado, virou uma animação lindíssima e supercrítica ao nosso mundinho atual – viciado em telas e seu falso espelho da realidade. Se completam sem ter a ver um com o outro, entende?

Interessado em ouvir uma musiquinha bem tristinha? Dá uma sacada na novidade do Adorável Clichê, banda catarinense que acabou de entrar na Balaclava. “Sonhos Que Nunca Morrem” será o título do disco prometido para logo mais – “Aonde Mais”, primeiro single, nasceu inspirado em cenas de Hannibal, mas pode descrever qualquer pessoa que se sente estagnada na vida. Complexo. 

Vocês sabem que a gente meio que sonha que o rock brasileiro novíssimo volte a tocar nas rádios, né? Seria lindo se isso rolasse com o dream pop gracioso de Gracinha. Nascida na Baixada Fluminense e criada pelos pais adotivos em Natal, no Rio Grande do Norte, Isabela Graça é daquelas que fez da música sua melhor amiga muito cedo. Fez parte de banda espírita, de banda punk e estreia agora solo com “Corpo Celeste” – que coloca um pezinho no indie e um pezinho num jeito popular de se fazer rock que se perdeu em algum momento da virada ali nos anos 2000. Mais fácil te sugerir o play do que explicar, mas a gente não sente algo parecido assim desde Pitty, talvez. Gracinha pensou no título comparando a imensidão e solidão de planetas, constelações e galáxias com a nossa própria imensidão e solidão. “Solidão e presença”, diz. “As composições parte de um lugar meu como mulher negra e lésbica e minha relação com a solidão e o preterimento”, escreve a compositora e baixista. Daqui a gente acha que é questão de tempo para muito dessa solidão ser passageira. Gracinha tem tudo para conquistar uns milhares ou milhões de fãs. Avisamos antes.

Em seu terceiro lançamento do ano, o rapper-baterista-artista paulistano Thalin (Os Fonsecas e Dupla 02) se uniu a Cravinhos, Pirlo, iloveyoulangelo e VCR Slim para contar a história da vida do eu-lírico imaginário Maria Esmeralda em versos e beats, uma espécie de união em disco do passado e do futuro da música brasileira. Com a faixa “Todo Tempo do Mundo” temos um exemplo de composição e arranjo que traz a MPB clássica da época de Maria Medalha, figura chave na cena dos anos 1960/70, com as referências atuais de rap, jazz do produtor, intérprete e compositor do álbum e seus quatro parceiros têm acesso. A música consegue abordar temas e evocar esses sentimentos confusos que permeiam uma história de vida. Conceito raro. Resultado beeeem interessante.

A vez é de Antônio Neves e seu trombone, trompete e voz, sempre carregada de bom humor. “Há quem me chame de pessimista, Mas, não, eu sou vascaíno.” É assim que começa “Deixa com a Gente”, seu novo álbum. E, pô, não é todo dia que um disco abre com um gol invalidado pelo bandeira – deve ser o primeiro da história. Mas tudo se resolve no samba com um gol de Roberto Dinamite e uma belíssima homenagem a cruzmaltinos ilustres: Tereza Cristina, Paulinho da Viola, Martinho da Vila, Aldir Blanc, Aracy de Almeida, Clementina de Jesus, Pixinguinha, Zé Keti e Nelson Cavaquinho. Onde encomenda uma camisa do gigante?  

É capaz que muita gente não se aproxime da música de Hermeto Pascoal com medo de encarar uma obra hermética. Hermeto pode ser em algum momentos difícil, experimental e cabeçudo demais, mas nunca entrega algo sem alma. “Pra Você, Ilza”, então, é puro coração – um álbum dedicado a sua companheira de vida Dona Ilza, que morreu em 2000. Perto dessa época, Hermeto escreveu um livro de músicas para ela – do material, o produtor Fábio Pascoal e Hermeto tiraram as composições, naturalmente modificadas na hora de serem encaradas no estúdio. Músicas de paixão eterna.

11 – Carlos do Complexo – “Sextos Sentidos” com Menor do Engenho e Marlon do Engenho (5)
12 – FBC – “O Retorno É a Única Lei” com Dougnow (6)
13 – Melly – “Bandida” (8)
14 – Chococorn and the Sugarcanes – “Tudo de Pior para Nós Dois” (9)
15 – Edgar – “Incapturável” (10)
16 – Silva – “Abram Alas” (11)
17 – Bebé – “Recado Dado (com Dinho Almeida)” (12)
18 – Max B.O – “Impossível Não Achar Possível” (13)
19 – Marcelo Jeneci – “Um Sonhador” (14)
20 – Planet Hemp – “Jardineiro” (17)
21 – Pluma – “Corrida!” (19)
22 – Mateus Fazeno Rock – “Madrugada” (20)
23 – Barro – “Vira-lata Caramelo” (22)
24 – Duquesa – “Milionário e José Rico” (23)
25 – Julia Branco – “Baby Blue” (24)
26 – Don L – “Bem Alto” (25)
27 – Flora Matos – “Inventei o Seu Jeito de Amar” (26)
28 – Céu – “Cremosa” (28)
29 – Luiza Brina – “Oração 2 (com Silvana Estrada)” (29)
30 – O Grilo – “Manual Prático do Tédio” (30)
31 – Duda Beat – “q prazer” (31)
32 – Cátia de França – “Fênix” (32)
33 – Papisa – “Fronteira” (33)
34 – Varanda – “Vá e Não Volte” (34)
35 – Taxidermia – “Clarão Azul” (35)
36 – Mirela Hazin – “Delírio” (36)
37 – Bruno Berle – “Te Amar Eterno” (37)
38 – Fresno – “Quando o Pesadelo Acabar” (38)
39 – Pabllo Vittar – “Pra Te Esquecer” (39)
40 – Tuyo – “Devagar” (40)
41 – Irmãs de Pau – “Megatron” (41)
42 – Haroldo Bontempo – “Risada (com João Donato)” (42)
43 – Jota Ghetto – “Michael B. Jordan na Fila do CAT” (43)
44 – Deize Tigrona – “25 de Abril (com Boogarins)” (44)
45 – Jujuliete –  “Dominatrix” (45)
46 – Apeles – “In God’s Hands” (46)
47 – Amaro Freitas – “Viva Naná” (47)
48 – Sofia Freire – “Autofagia” (48)
49 – Kamau – “Documentário” (49)
50 – Madre – “Sirenes” (50)

**
* Entre parênteses está a colocação da música na semana anterior. Ou aviso de nova entrada no Top 50.
** Na vinheta do Top 50, a incrível Jup do Bairro.
*** Este ranking é pensado e editado por Lúcio Ribeiro e Vinícius Felix.

MDE 1 – horizontal miolo página
TERRENO ESTRANHO: black month [horizontal interna fixo]