Top 50 da CENA – Hoovaranas bota sete minutos de música no topo. O Raça vem debochado em segundo. E a Liniker é tudo

Popload, sim, nosso nome e tals, mas você acha de um math rock de sete minutos no topo da lista? É com a gente mesmo. E o legal é que tudo faz sentindo na nossa playlist, onde ainda cabe pop, vogue e um emo básico, já ninguém é de ferro aqui, né? 

Parece que estamos diante de um superacontecimento na música brasileira. Já está sabendo do Hoovarnas? Trio de Ponta Grossa, a turminha formada por Rehael Martins, Jorge Bahls e Eric Santana produz um mix instrumental de math rock com doses de jazz fusion e psicodelia brasileira. Apenas com baixo, bateria e guitarra, eles te enchem de ideias e sensações enquanto suas músicas vão para muitos lugares. A guitarra acelera uma melodia, enquanto o baixo parece estar em outro lugar e a bateria, uau, nunca é óbvia. Intempestivo, mas certeiro. Contradição que faz a mágica acontecer. É tão mágica a parada que eles gravaram uma música do Boogarins que o próprio Boogarins nunca gravou. Sacou?  

E segue o processo de divulgação de “27”, o novo disco do Raça. O single da vez é uma parceria com Carlos Dias, vocalista do Polara. “Debochado” foi escrita por Popoto Martins e Carlos em conjunto, uma missão especial, já que Popoto define Carlos como “uma das maiores referências que tenho no mundo da arte”. Se a parceria é um momento feliz, a letra faz questão de ir para o outro lado ao retratar alguém lotado de problemas a ponto de não saber muito que fazer. “Resolvo todos/ Na minha cabeça”, confessa um dos versos. O tom melancólico é agraciado pelo humor do refrão, obviamente, debochado: “Eu tô zuado/ Desencontrado e debochado/ Não sei por que tá tudo errado”.

Desde o início de sua carreira solo, Liniker parece interessada em descobrir qual é o som que pode chamar de seu. “Indigo Borboleta Anil”, o álbum de 2021, carregava ainda um tanto de seu começo muito voltado à soul music, mas querendo desgarrar para abraçar samba, mpb e o pop. “Tudo”, parceria sua com Fejuca e Gustavo Ruiz e com a co-produção do sempre mágico Nave, parece ter achado algo especial. É pop, brasileira, feita para o rádio, sem matar a essência do que trouxe Liniker até aqui: vozeirão e honestidade cortante na letra. O legal é que agora rola fazer uma baitaaa coreografia bem de diva pop. Ou como anotou Liniker: “Dançá-la é um tesão!”

Coisas estranhas. Coisas estranhas são o nome dessa banda e sua descrição no Spotify: “Gostamos de passear ao ar livre e fazer canções para as pessoas serem mais felizes”. Basta. Já ganharam o nosso coração, gostamos de coisas estranhas. Sem medo de ser feliz ao ar livre. Amanhã sai o álbum dessa banda catarinense, o segundo deles. A impressão é que o disco vai ter mais canções frequentadoras deste Top top.

Divertidíssimo o EP “VOGUE CLUB”, da Bruxa Cósmica, uma das referências do Ballroom no Brasil – não por acaso, teve sua história contada na série da Globoplay “Segura Essa Pose”. As faixas do EP são trunfo de sua pesquisa pelo vogue e jersey music. Repara no recorte do sample em “BOTE – um som bem conhecido, mas recortado de um jeito diferente, tocado de um jeito diferente, como se rebolasse desafiando o ouvinte a dançar. 

Chegou a hora de curtir o novo álbum do quarteto indie Adorável Clichê, de SC, que vínhamos acompanhando aqui single a single. “Sonhos Que Nunca Morrem” traz na capa a vocalista Gabrielle em uma foto tirada na infância. Uma imagem que vai se chocar com o que Gabi chama de letras sobre “Tomar posse da vida adulta”. Entre guitarras e muitos sintetizadores, o Adorável Clichê desenha seu dream pop bem particular – como na foto da capa, um raio de sol curto em dias frios. O trabalho também traduz de alguma formas as barras que o grupo enfrentou nos seus quatro anos de produção – lembrando que nesse meio do caminho houve a pandemia e tudo mais. 

Quem lembra dos sons mais roqueiros da Duda Brack talvez estranhe a mudança, mas vale dar uma atenção em “Proibido Não Gostar”, seu novo álbum, que marca uma experimentação com o pop brasileiro provando de muito forró, tecnobrega e o piseiro. A nova sonoridade é muito por conta do que a própria Duda chama de “match musical” com o produtor Ariel Donato. Em “De Conchinha com a Diaba”, canção de Duda com Romero Ferro, o produtor cuida de quase tudo do instrumental: baixo, beats, samples e sintetizador. Sobra espaço para Mestrinho pontuar com sua sanfona. Funcionou à beça. 

A residência inglesa de Momo. começa a dar frutos. Após quatros anos sem lançar nada, o single “Jão” é a primeira mostra do suíngue brasileiro que ele adicionou numa banda majoritariamente britânica de jazz – a única exceção está no baixo, comandando pelo também brasileiro Caetano Malta. Gilberto Gil já cantou que para voltar é necessário ir. Momo. aproveita bem a ida. 

Sentindo falta de música de garagem com cara de música de garagem? É isso que a mineira Lucia Vulcano anda produzindo. Respeitando o espírito punk ela entrega muita sinceridade em “Vim, Vi e Me Fudi” – quer título mais honesto que esse? Seus versos e o som não escondem sua raiva contra o patriarcado e a sanha conservadora de castrar os corpos e desejos das minas. Pancada certa. 

No frescor do pop brasileiro de hoje tem horas que as letras ficam devendo um tiquinho. Não é o caso do bom trabalho do PECI. Sua “Doce do Azedo”, com direito a sax e tudo, abre certeira: “Pra quem quiser viver o amor/ Tem que aprender a morrer de tanto amar”. Olho no curitibano.

11 – Chico Bernardes – “Até Que Enfim” (7)
12 – TRAGO – “Porvir” (8)
13 – FBC – “Não Deixa Secar” (10)
14 – Samuel Rosa – “Não Tenha Dó” (11)
15 – Mundo Video – “SOZINHOS: O Desafio (com Gab Ferreira)” (12)
16 – Fresno – “Disk Me” (9)
17 – Marina Sena – “Mande um Sinal (Acústico)” (14)
18 – Rafael Mike – “Viver de Amores” com Elza Soares (15)
19 – Tontom – “Tontom Perigosa” (17)
20 – Vivian Kuczynski – “Me Escapo a Cuba” (18)
21 – Quartabê – “Eu Cheguei Lá” (20)
22 – Jup do Bairro – “Mulher do Fim do Mundo” (22)
23 – Paira – “Música Lenta” (23)
24 – Papisa – “Vai Passar” (24)
25 – Holger – “Escada” (25)
26 – Carlos do Complexo – “Sextos Sentidos” com Menor do Engenho e Marlon do Engenho (26)
27 – Thalin, VCR Slim, Cravinhos… – “Todo Tempo do Mundo” (27)
28 – Chococorn and the Sugarcanes – “Tudo de Pior para Nós Dois” (28)
29 – Antônio Neves – “Dinamite” (29)
30 – Hermeto Pascoal – “Passeando pelo Jardim” (30)
31 – Edgar – “Incapturável” (31)
32 – Silva – “Abram Alas” (32)
33 – Bebé – “Recado Dado (com Dinho Almeida)” (33)
34 – Max B.O – “Impossível Não Achar Possível” (34)
35 – Pluma – “Corrida!” (35)
36 – Mateus Fazeno Rock – “Madrugada” (36)
37 – Julia Branco – “Baby Blue” (37)
38 – O Grilo – “Manual Prático do Tédio” (38)
39 – Duda Beat – “q prazer” (39)
40 – Varanda – “Vá e Não Volte” (40)
41 – Taxidermia – “Clarão Azul” (41)
42 – Mirela Hazin – “Delírio” (42)
43 – Bruno Berle – “Te Amar Eterno” (43)
44 – Pabllo Vittar – “Pra Te Esquecer” (44)
45 – Tuyo – “Devagar” (45)
46 – Irmãs de Pau – “Megatron” (46)
47 – Haroldo Bontempo – “Risada (com João Donato)” (47)
48 – Jota Ghetto – “Michael B. Jordan na Fila do CAT” (48)
49 – Deize Tigrona – “25 de Abril (com Boogarins)” (49)
50 – Amaro Freitas – “Y’Y” (50)

***
* Entre parênteses está a colocação da música na semana anterior. Ou aviso de nova entrada no Top 50.
** Na vinheta do Top 50, a banda paranaense Hoovaranas, em foto de Nicolas Salazar.
*** Este ranking é pensado e editado por Lúcio Ribeiro e Vinícius Felix.

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