Top 50 da CENA – Gabriel Milliet silencia o ranking, brutalmente. Tássia Reis sobe ao pódio sambando. E a Ana Frango cariocou tudo

Que engraçado é ler o debate nas redes sobre a nova música brasileira. Os festivais televisionados acabam distorcendo um pouco qual é o real cenário. A gente cansa de dizer: estamos na melhor fase. É questão de buscar. Ou de ler o Top 50 toda semana. Aí fica tudo mais claro…

Tem músicas que chegam na ferida de um jeito, né? Pega o incômodo descrito por Milliet nos primeiros versos de “Silêncio Brutal”: 
“Às vezes da tudo errado
Parece que não tem saída
Os meus amigos tão ocupados
Com suas vidas normais
Cada um tem seus problemas
Não quero atrapalhar ninguém
Mas tá difícil de aguentar”

Precisa dizer mais algo? Essa é a caneta sincera do compositor que fez parte da banda Memórias de um Caramujo. A letra é reforçada pelo arranjo básico composto pelo próprio Milliet na voz, violão, sintetizadores e baixo e os acompanhantes de luxo: Jarno van Es no piano e Biel Basile na bateria. É especial o jeito que Gabriel remete a uma sonoridade da MPB bem clássica, mas pela maneira bem única de construir suas melodias e frases soa fresco. Coisa rara. 

O período cantando o repertório de Alcione parece ter feito efeito no trabalho solo da Tássia Reis. Este seu novo single é um samba com ares de clássico. A música saúda Jovelina Pérola Negra, Dona Ivone Lara, Carolina de Jesus e Leci Brandão. Mas também lembra do hip hop, primeira e contínua morada do trabalho de Tássia, que amplia seu leque de possibilidades. De deixar ansioso por álbum todo nessa pegada. 

Lá vem a elétrica Ana Frango em um formato menos… elétrica. À beira de uma participação especial no Coala Festival, junto com o veterano fera Jards Macalé, ela solta este segundo single de próximo álbum, “Me Chama de Gato Que Eu Sou Sua”, a sair em outubro. “Insista em Mim” é daquelas MPB cariocas maneiras, pop para quem vive perto do mar, até com o sotaque carregado para tudo ficar literalmente em casa. Algo bem nostálgico, mas sempre vanguarda nas mãos da Ana Frango. E tem vídeo!

Lúcio Maia, guitar hero da Nação Zumbi, atualmente em pausa, tem uma longa estrada solo. De vez em quando com seu próprio nome, de vez em quando como Maquinado. Em seu mais novo single, agora como Lúcio Maia, ele assume multifunções e vai além de sua famosa guitarra. Segurando baixo, percussão, cordas, gravação, mixagem e produção, “Horas Iguais” é um instrumental psicodélico que remete muito a Jimi Hendrix, sem medo de ser feliz – é o timbre e a pegada todinha de Mr. Jimi. Mas destaque para o diálogo com o arranjo de cordas bonitaço. 

Não é todo dia que o gemidão do zap é inserido numa música com tanta categoria. Mas esse é só um detalhe da música “mais atrevida” da Jaloo, nas palavras dela. “MAU” marca a retomada de Jaloo na carreira solo em uma forte composição sobre instinto animal. Afinal humanos são o quê mesmo, né? A música é o primeiro indício de um disco que promete, só reparar nessa fala da cantora: “Precisamos aprender a caminhar com as nossas sombras. Celebrar e fazer as pazes com ela”. 

Nesta semana o versátil Bruno Tubino bota a jogo este seu novo single, sob o nome de Truno. Bruno, não o Truno, tem sua fama indie consolidada por ser parte da banda curitibana Marrakesh, mas recentemente foi anunciado como vocalista da banda Bad Luv com show no também recente Oxigênio Fest e tudo. O Truno mesmo, algo mais sonoramente domável para Bruno, prepara o lançamento de um EP, de onde tiramos esta boa “Blindar”, que na verdade entra na playlist só amanhã, quando sai. A gente atualiza ela logo mais. Espera o Truno do Bruno.

Dos grupos indie mais amados do Brasil, o Pullovers faz charminho com uma eventual volta. Falaram que iam fazer só um showzinho, teve música nova, feat. com o Perdido e agora vai ter até shows extras no Bar Alto, nesta semana. Eles não prometem nada depois disso. A gente dúvida e tal, mas melhor considerar o que eles estão falando. E não perder os shows, de todo modo. Vai que…

“Lili” é uma música feita por Don L antes de “Roteiro pra Ainouz, Vol.2”. Sua escrita ajudou na construção do álbum lançado em 2021. Para os fãs, a track surgiu quando foi revelada por Don no podcast “Rap, Falando”, onde ele foi divulgar o disco recém-lançado. Como não existe fã que em contato com algo inédito não peça seu lançamento, a turma exigiu uma liberação oficial da música.  E “Lili” aparece agora justamente para encerrar o ciclo de “RPA, Vol.2”. Como nenhum verso é por acaso na obra de Don L, a faixa aparece no dia 7 de setembro – o primeiro em quatro anos sem a sombra ditatorial de um golpe de estado. A liberdade sonhada no disco é real aqui e de muitos significados, pois é uma música que fala ao coração de quem foi ou está encarcerado de maneira arbitrária no Brasil, onde muitos estão atrás das grades sem julgamento, sem processo. Mas a liberdade sempre canta.

Todo mundo sabe o que é uma neurose, mas é difícil reduzir o sentido da palavra ou sua relação com ela em poucas palavras. Em seu novo álbum, “Música do Esquecimento”, Sophia e cia transformam a neurose em música tortíssima, com as palavras se esforçando muito para se encaixar na métrica proposta. Ironia das ironias, uma música sobre algo que não é fácil de lidar e é das mais divertidas em uma coleção que passeia por temas bem mais agradáveis. Quando alguém te perguntar a definição de neurose toque esta música. 

E, por falar em neurose, pense agora em ansiedade. É o sentimento que aparece nos versos de “Vontade”, bom novo single dos mineiros do Varanda. “Sonho/ Um tanto mais que penso/ Corro/ Um tanto mais que ando”, canta Amélia do Carmo. A faixa parece aquela descrição nostálgica dos amores complicados da adolescência ou dos que se mantêm muito tímidos pela vida. “Tanto ensaiei te dizer quanto eu te quero/ Como se fosse uma chave pro incerto ser mais certo.”

11 – dadá Joãozinho – “Pai e Mãe” (4)
12 – Karen Francis – “Linha do Tempo” (5)
13 – Lupe de Lupe – “Bruna” (6)
14 – Xis – “Arquiteto da Cabeça” (7)
15 – Bebel Gilberto – “É Preciso Perdoar” (8)
16 – Luísa Sonza – “Campo de Morango” (9)
17 – Gabriel Ventura – “A Queda para o Abraço” (11) 
18 – Leves Passos – “Atrás dos Olhos” (12)
19 – Rudriquix – “Admirável Ouvido Novo” (13)
20 – Luna França – “Gira” (15)
21 – Clarice Falcão – “Podre” (16)
22 – Sessa – “Gostar do Mundo – Demo” (18)
23 – Xande de Pilares – “Diamante Verdadeiro” (20) 
24 – DJ K – “Isso Não É um Teste” (21) 
25 – Ultraviolet –  “Felicia” (22)
26 – Luiza Lian – “A Minha Música É” (23)
27 – FBC – “O Que Te Faz Ir para Outro Planeta?” (24)
28 – Nina Maia – “Sua” (25)
29 – Gui Hargreaves – “Somewhere to Start” (26)
30 – Garotas Suecas – “Todo Dia É de Mudança” (27)
31 – Mateus Fazeno Rock – “Pode Ser Easy” (28) 
32 – Lirinha – “No Fim do Mundo” (31)
33 – Ava Rocha – “Disfarce” (33)
34 – Terraplana – “Conversas – Ao Vivo” (34)
35 – Holger – “Vida Orgânica” (35)
36 – Zudizilla – “Tempo Ruim” com Don L (36)
37 – Terno Rei – “Mercado” (37) 
38 – Letrux – “As Feras, Essas Queridas” (38)
39 – Wilson das Neves e Rodrigo Amarante – “O Que É Carnaval” (39)
40 – Jadsa e YMA – “Mete Dance” (40)
41 – ÀIYÉ – “OXUMARÉ (Viridiana Remix)” (41)
42 – Rico Dalasam – “Espero Ainda” (42) 
43 – Troá! – “Que Pena” (43)
44 – Marcelo D2 – “Tempo de Opinião” (com Metá Metá) (44)
45 – Luisão Pereira – “Licença” (com Luíza Nery) (45)
46 – Ítallo – “Tarde no Walkiria” (46)
47 – Dj RaMeMes – “Vamo Fuder” (47)
48 – Zé Ibarra – “Vou Me Embora” (48)
49 – Rincon Sapiência – “XONA” (49)
50 – ÀTTOOXXÁ – “Dexavú”(com Liniker) (50)

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* Na vinheta do Top 50, o cantor, multiinstrumentista e produtor Gabriel Milliet.
** Este ranking é pensado e editado por Lúcio Ribeiro e Vinícius Felix.

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