Top 50 da CENA – DJ RaMeMes f*de o ranking. Zé Ibarra emplaca bem o segundo lugar. Marcelo D2 completa o pódio

Oi, o que disse? Desculpa, é que a gente está com a audição meio cambaleante depois do estrondo do DJ RaMeMes. Rapaz, que som que o menino tira. Mas, sem drama, escutamos ele e mais outras belezinhas que encantam esta listagem de mais uma semana no país que faz a melhor música do mundo. Argumentos? Play na lista e entenda por si só, com apoio dos nossos textinhos, porque somos de tamanha inventividade.  

“Mais uma do RaMeMes”, sorri a vinheta. Mais uma e boa sorte. Sorte porque talvez seus fones não sobrevivam a audição de “Sem Limites”, novo álbum do DJ RaMeMes, aka O Destruidor do Funk. O bagulho toca alto mesmo se você baixar o volume do som. Como será que ele faz isso? Cria de Volta Redonda, RaMeMes honra o apelido. Mas não confunda. O que ele destrói não é o gênero em si, mas qualquer tentativa de travar sua inventividade inata. A regra é não ter regras, é sem limites mesmo. O volume é estridente, as repetições alucinadas e os cortes abruptos – RaMeMes tira tudo do lugar; as vozes, por exemplo, são distorcidas, aceleradas, remexidas, vão para o fundo da faixa, depois se apresentam na frente. São tantos samples, trechos, que uma listagem ficaria do tamanho de uma boa enciclopédia. Alguns recortes são repetidos exaustivamente, alguns passam quase sem aviso – tem um de rap gringo aqui em “Vamo Fuder” que é de chorar de tão sutil. Ramemes é isso. Velocidade mil, volume dez mil, como um carro a toda para o baile – a missão: tirar o funk das mãos de quem tenta enquadrar o gênero. Resultado: objetivo concluído com sucesso. “Copia não, comédia.”    

Escrever uma música é uma treta. Pior ainda é registrar fielmente o que se imagina. Estúdios caseiros ou caros impõe seus limites técnicos à imaginação. Tom Zé já disse algo sobre o microfone ser o primeiro censor de todos. Não sei se Zé Ibarra ficou noiado com isso ou não, na hora de fazer seu primeiro álbum. Mas ele deu um jeito para essa questão e achou algo novo. Gravou tudo na escada e corredores do prédio onde cresceu, onde se sente confortável com o espaço e a reverberação que sua voz ganha. Ele já tinha achado um som, agora deu conta de pôr isso em disco. E ficou bacana, diferente. O repertório entre velhas e novas canções é acertado, tem humor e poesia – vai de Sophia Chablau na hilária “Hello” a bela canção de Paulo Diniz que escolhemos. Talvez melhor que isso só ir lá um dia no prédio pessoalmente e pedir para o Zé cantar alguma coisa ao vivo. Fica aí uma ideia de show particular. Venderia muitos ingressos, embora dê muito trabalho – levaria uns anos para esgotar a fila. É questão de combinar com a vizinhança. 

Ê, Marcelo. Sempre dificultando a gente de encontrar seus discos e filmes colocando em plataformas exclusivas. Mas tudo bem. Sua nova mixtape “Marcelo D2 e um Punhado de Bamba Ao Vivo no Cacique de Ramos” nem é tão inacessível assim: está no YouTube. Mas só por lá. Tudo bem, porque é um jogo sonoro e visual. Marcelo leva seu som para o Cacique de Ramos, “celeiro de bambas e quartel general do samba”. E, onde o samba se cria, o convite é que o samba dê a ordem ao rap de D2. Ele já tinha feito o jogo inverso quando deixou sua levada se contaminar de elementos do samba em álbuns como “A Procura da Batida Perfeita”. Ao alternar a origem do lance, a suingada dá uma nova perspectiva para o trabalho do compositor. “1967” soa insanamente acelerada e mais soturna que a original em um arranjo com destaque para os metais e para os graves. A versão de “Maneiras”, de Silvio da Silva, chega com a autorização de Zeca Pagodinho, intérprete mais famoso da canção. E o show honra o respeito aos mais velhos, ao ser todo dedicado a Ubirani, integrante do Fundo de Quintal que morreu durante a pandemia.  

O single “XONA” abre os trabalhos para o novo álbum de Rincon Sapiência, seu terceiro disco. Pesquisador nato, sempre de olho em entender a música que vem do continente africano, Rincon chega com um afrobeats. Importante: não confundir com afrobeat, criação de Fela Kuti – uma questão que até virou “polêmica de Twitter” recentemente dada que a semelhança dos termos rende confusões. O próprio Rincon tirou um tempinho para explicar a diferença entre as duas coisas e detalhar seus achados musicais. Vem discão aí.  

Chove na cidade, mas seu contatinho liga com uma proposta. E aí? “A energia transante move montanhas”, conta Lovefoxxx. “DTF”, nova música do duo que ela forma com seu par Chuck Hipolitho, descreve uma história antiga do casal sobre um encontro atrapalhado com Chuck guiando Lovefoxx por São Paulo até sua casa “em uma época que não tinha uber, não tinha googlemaps”. Se ainda não pescou a ideia, “DTF” literalmente significa “Down to Fuck”. 

Entre o francês e o português, Loïc Koutana, artista afro-francês, que pode se orgulhar de também ser brasileiro, canta sobre sua liberdade – em amplos sentidos, da musical até a da vida pessoal, dos relacionamentos ao jeito de encarar o mundo. Em trânsito, em trânsito livre. Na canção, o sofrimento vem de outro que só o quer nos seus termos, de maneira irresponsável. Mas nem vem que não tem, amigo. O novo single de seu projeto L’homme Statue mantém bem a sonoridade apresentada em “SER”, lançado em 2021. Música eletrônica expansiva, aberta a abraçar o pop e de ser mais experimental quando dá na telha. “Tu nunca vai me prender”, ele canta no último verso com razão – a questão é que a gente que fica preso no som dele.  

“100% black music” estampa um selo na capa do novo CD do ÀTTØØXXÁ. E aqui vale chamar o álbum de CD porque a banda baiana investiu na capa de “Groove”, em uma estética bem noventista que lembra os compact discs – com direito até aquele selinho brilhante que vinha nos “originais”, lembra? Escapa na arte até um marcador de preço que na real estampa o prefixo de Salvador, Brasil. E é um disco que remete à era de ouro das grandes gravadoras pela grife das participações especiais: Carlinhos Brown, Liniker, Negra Japa, Thiaguinho e Victor Leony. Entre as nossas favoritas está a deliciosa “Sai da Frente”, que gruda na cabeça imediatamente, e o instrumental quente de “Surra de Groove”. Mas aquela que é de cantar juntinho mesmo é o pagodão com Liniker – carona de hit. A mão de RDD, integrante do grupo e um dos produtores mais procurados no país, se faz notar na mixagem bolada. Pesadão. 

Quem não quer viver de amor e sono? Só as más-línguas para chamarem isso de preguiça. E embarcamos com a turma do quinteto paulistano Holger nessa busca por felicidade que é o primeiro single de “Más Línguas”, novo álbum da banda após cinco anos do politizado “Relações Premiadas”. Uma canção apaixonada em tons de rosa e laranja de um fim de tarde. 

Se você ainda não conhece Guilherme Held, ou anda lendo pouco nosso Top 50, ou está completamente desligado de acompanhar a MPB. É difícil pensar em artistas bacanas que não têm qualquer relação com Held. Tanto que em “Corpo Nós”, seu álbum lançado em 2020, ele reuniu 40 dos seus colaboradores frequentes – segura parte da lista aí: Criolo, Letieres Leite, Tulipa Ruiz, Juçara Marçal, Maria Gadú, Catatau e Romulo Fróes. Por ter sido lançado no auge da pandemia, “Corpo Nós” só vai ter seu show de lançamento em 2023, agora na quinta (25) no Sesc Pompeia. Sempre é hora. Por isso resgatamos esse álbum por aqui. 

Em seu Spotify, Drvnk aparece na porta da antiga Love Story, a casa de todas as casas. Não precisa ser paulistano para entender o simbolismo todo, né? E é pela noite que ele investiga sua mente e sentimentos no novo EP “Goodbye Moon”. A alcunha Drvnk, inclusive, já é sobre essa encarada no espelho – o exagero com a bebida que quase custou caríssimo (ou custou mesmo). Aquele tipo de música que soa melhor a partir das 3 da manhã ou um tiquinho mais tarde. Sabe? 

11 – Viratempo – “Te Quiero” (6) 
12 – Mahmundi – “Meu Amor – Reprise” (7)
13 – BIKE – “Além-Ambiente” (8)
14 – Volver – “Volver de Novo” (9)
15 – Majur – “Tudo ou Nada” (10)
16 – Jards Macalé e Maria Bethânia – “Mistérios do Nosso Amor” (11)
17 – Marina Sena – “Meu Paraíso Sou Eu” (12)  
18 – Mateus Fazeno Rock – “Indigno Love” (com Brisa Flow) (13) 
19 – Tim Bernardes e Rodrigo Amarante – “Leve” (14)
20 – Lirinha – “O Campo É o Corpo” (15)
21 – Tasha & Tracie com Mc Luanna – “Combate” (16)
22 – Edgar e Nelson D – “”Três Palavras” (17)
23 – Domenico Lancelotti – “Quem Samba” (18)
24 – Giovanna Moraes – “Fala Na Cara” (19)
25 – ÀIYÉ – “OXUMARÉ (Que Meus Venenos Sejam Mel)” (20)
26 – Julia Mestre – “do do u”  (21)
27 – Aláfia – “Cadê Meu Pai?” (22)
28 – Os Tincoãs – “Oiá Pepê Oia Bá”  (23)
29 – João Gilberto – “Rei sem Coroa” (versão ao vivo no Sesc Vila Mariana, 1998) (24)
30 – Iara Rennó – “Iemanjá” (25)
31 – Juliano Gauche – “Ondas Que Acordam” (26)
32 – Pato Fu – “Fique Onde Eu Possa Te Ver” (27)
33 – YMA e Jadsa – “Meredith Monk” (28)
34 – Emicida e Chico Buarque – “Senzala e Favela” (29)
35 – Rei Lacoste – “Pareando” (com Dunna) (30)
36 – Gio – “Dois Lados” (com Russo Passapusso e Melly) (31)
37 – Ludmilla – “5 contra 1” (32)
38 – Sant – “SSA” (com Luedji Luna e VANDAL) (33) 
39 – Selvagens à Procura de Lei – “O Verão Passou, Mas o Sol Continua Aqui” (34)
40 – Gab Ferreira – “Forbidden Fruit” (35)
41 – Jambu – “Caso Sério” (36)
42 – Alice Caymmi – “Desfruta” (37)  
43 – Terraplana – “Me Encontrar” (38)  
44 – César Lacerda – “Nítido Cristal Puro” (39) 
45 – Carolina Maria de Jesus – “O Pobre e o Rico” (com Nega Duda) (40)
46 – Rodrigo Campos – “Atraco” (com Mari Tavares) (41) 
47 – Rubel – “Lua de Garrafa” (com Milton Nascimento) (42)
48 – Assucena – “Nu” (43)
49 – Sessa – Vento a Favor” (44) 
50 – MC Tha – “Coisas Bonitas” (com Mahal Pita) (45)

* Na vinheta do Top 50,
** Este ranking é pensado e editado por Lúcio Ribeiro e Vinícius Felix.

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Terreno Estranho – horizontal fixo vermelho