Top 50 da CENA – Deize Tigrona apronta um sururu no nosso ranking. Luedji e Tulipa completam a parada

Deize Tigrona no topo, como deve ser. Uma das minas que fez o mundo entender por que o funk é umas invenções mais poderosas do Brasil e que teve que lidar com uma fase dura e se afastar da carreira musical. Agora ela está de volta para ocupar seu lugar de destaque e merecimento com um disco novo poderoso. Enquanto Deize convoca para o sururu, Luedji, Tulipa e Cecilia são as meninas que completam o lugar mais alto da nossa lista. Os garotos ficam na lista de espera. 

Já na disputa por ser uma melhores do ano, o título de música mais divertida do ano provavelmente ninguém tira de “Sururu das Meninas”. Deize Tigrona chega chegando aqui na abertura do seu álbum “Foi Eu Que Fiz”. Seu novo disco marca de vez a retomada de sua carreira.  Ainda que seja um dos nomes mais importantes do funk brasileiro, responsável em levar o estilo para o mundo e ajudar a derrubar o preconceito de muita gente com o gênero por aqui, Deize não costuma levar esse crédito e chegou a ficar dez anos sem trabalhar. O novo disco é a celebração desse retorno desde que ela assinou com a turma da BATEKOO Records. Vem que vem, Deize, hoje é dia de vencer, como canta Rico Dalasam.  

Faixas que aparecem nas versões de luxo de um álbum geralmente são continuidade daquele trabalho. Um lado B, algo que não coube na ideia original. Luedji Luna promete romper com essa tradição e conta que algo de muito diferente vem por aí na versão de luxo do excelente “Bom Mesmo É Estar Debaixo D’água”. O single “Nova Deli”, com produção e beat do rapper norte-americano Oddisee, é uma apaixonada composição de Luedji que dá a senha da novidade. Para se ouvir tão apaixonado quanto Luedji estava na hora que escreveu, hein? 

E a nossa felicidade com o novo álbum da Tulipa, o espetacular “Habilidades Extraordinárias”, continua a toda nesta semana. Curtinho, é daqueles discos que dá para ouvir mil vezes e se apaixonar cada hora por uma faixa. A favorita da vez é “Novelos”, que Tulipa e seu irmão Gustavo contam que tem uma pegada meio Luiz Melodia, ainda que esse não fosse o plano original da música. Com essa informação na mente, fica difícil não passar o dia imaginando como seria essa regravação na voz do supercarioca. Se você ficou com saudade dele igual a gente, recomendamos um pulo em “Mistério da Raça”. 

Cecília Cecilina é um nome para ficar de olho, viu? Artista do sul de Minas, de família musical, ela aos poucos anda soltando os singles do que virá a ser seu primeiro EP. Como ela bem define, sua mistura de tradição e modernidade dão em um “bem bolado psicodélico”. A gente amou e já está pensando em montar fã clube, fazer carteirinha, produzir camisetas e tal. Que acham? 

O novo single do Planet Hemp quebra um silêncio de 22 anos sem músicas inéditas da banda. O mundo era outro, a gente era outra, pensa. Será mesmo? Vivíamos governados por Fernando Henrique Cardoso – ele mesmo, FHC. Eram tempos duros, abuso de poder do Estado comendo solto – basta lembrar que o próprio Planet Hemp chegou a ser preso. Tempos até meio parecidos com os de hoje, que até tinha uma celebração patética da história brasileira para chamar de sua. No caso, a tal celebração dos 500 anos do “Descobrimento”. Quem viu a banda ao vivo recentemente sente o quanto as músicas antigas envelheceram bem, tamanha são as coincidências. Nesta “Distopia”, a ex-quadrilha da fumaça olha para a frente e retoma seus momentos mais roqueiros em um chamado a repensar, refletir, recusar e resistir. Apostando “na força da canção”, como canta Criolo no refrão, e na libertação do medo, como pede Marcelo Yuka na fala que abre o novo single. Uma música para a gente ficar pensando no quanto avançamos e o que perdemos no caminho destes 22 anos.

E o Gordo segue com os singles de seu álbum solo dedicado ao brega, que vai levar o nome de “Brutal Brega”, lógico. A versão da vez é da divertidíssima “Tô Doidão”, cover esperta de Reginaldo Rossi para uma música francesa chamada “Les Dalton”. Mais pesada, lógico, Gordo tem a delicadeza de respeitar o excelente arranjo original. Por curiosidade, vale lembrar que a letra em português tem versos maravilhosos do tipo “Nem o Chacrinha tinha visto tanta confusão” passa longe da intenção da música original. Acho que a nossa é melhor, viu.  

Enquanto a Luedji ressignifica o álbum de luxo, Gab Ferreira ressignifica o interlúdio, tipo de faixa que geralmente é deixada de canto na divulgação dos álbuns. O interlúdio da mixtape “Visions”, lançada no distante abril deste ano, ganhou um vídeo para chamar de seu – produção lindíssima e toda metalinguística. Boa de deixar em looping, tão curtinha que é.

Nesta semana na lista gringa falamos sobre música com spoiler. E “Oceano Rubi”, novidade do Vanguart, é dessas, viu? Hélio Flanders, vocalista da banda, sempre tão confessional de peito aberto em suas letras, abriu campo para seu lado mais ficcionista e inventou uma história com direito a duas viradas tão surpreendentes que deixam o ouvinte sem ar. Obra de quem sabe escrever e tem coragem de se arriscar. Em tempos velozes, uma música que te deixa sentando na cadeira até que a história se resolva. 

Quando olha para o processo do seu álbum mais recente, a turma dos curitibanos da Marrakesh define: “Teve choro, teve risada, teve treta, teve abraço, teve magia e teve amor”. Se reinventar em três anos enfurnados com uma pandemia no meio não deve ter sido mole. Mas a banda que alcança o outro lado dessa aventura em direção a um jeito muito particular de pensar seu pop experimental chega a um resultado bem definido em “Timeskip”. No álbum bem dá para ver essas cicatrizes do processo, como se houvesse um mundo idealizado e perfeito possível – como sabemos que não é bem assim, é nesse espaço entre o possível e o impossível que a banda coloca nossa cabeça para ferver. 

Multi-Homem é como se apresenta Gabriel Thomas, do Autoramas, quando está sozinho. Bem acompanhado pelos seus múltiplos eus, parece ser o projeto adequado em tempos de multiversos. Suas canções solos revelam vários Thomas possível, do folk ao rock e desta vez como muita guitarrada paraense e chicha peruana. O cara é bom.

11 – Pavilhão 9 – “Lados Opostos (Estreia)
12 – Chico César – “Bolsominions” (2)

13 – Marina Gasolina – “Struck” (3)
14 – Spainy e Emicida – “Rap Pagode” (4) 
15 – Giovanna Moraes – “Vai Que Você Gosta” (5)
16 – Vírus – “Foice Facão e Peixera” (com EVYLiN e Urias) (6)

17 – Criolo – “Charlie Brown” (7)
18 – Number Teddie – “poderia ser pior” (9)
19 – Wry – “Sem Medo de Mudar” (10)
20 – Ubunto e Nara Gil – “Abafabanca” (11)
21 – Janu – “Vey” (12)
22 – Marrakesh – “Darkstars” (13)
23 – Tim Bernardes – “A Balada de Tim Bernardes” (14)
24 – Rashid – “Não Sabem de Nada” (15)
25 – Izzy Gordon – “A Ilha” (16)
26 – Winter – “Good” (17)
27 – Môa do Katendê – “Embaixada Africana” (com Criolo) (18)
28 – Ombu – “Pare” (19)
29 – Jonathan Ferr – “Lá Fora” (com Coruja BC1, Zudzilla, Lossio) (20)
30 – Tori e Bruno Berle – “Descese” (21)
31 – Josyara – “MAMA” (22)
32 – Valciãn Calixto – “Adoção” (23)
33 – Maglore – “Para Gil e Donato” (24)
34 – José Miguel Wisnik – “O Jequitibá” (25)
35 – Black Pantera – “Isolamento Social” (26)
36 – Tom Zé – “Pompeia – Piche No Muro Nu” (27)
37 – João Donato – “Órbita” (28)
38 – Filarmônica de Pasárgada – “Saudosa Ma Loka” (32)
39 – Luli Braga – “Depois das Onze” (34)
40 – Rico Dalasam – “Guia de um Amor Cego” (com Céu) (36)
41 – Nobat – “Beira do Mar” (com Luli) (37)
42 – Kamau – “Aparte” (Avulso #06) (38)
43 – ÀVUÀ – “Famoso Amor” (41)
44 – Glue Trip – “Marcos Valle” (42)
45 – Juçara Marçal – “Odumbiodé” (43)
46 – Mulamba – “Barriga de Peixe” (com Kaê Guajajara) (44)
47 – MC Tha – “São Jorge” (com Comunidade Jongo Dito Ribeiro e Sueide Kintê) (45)
48 – Alaíde Costa – “Aurorear” (46)
49 – Saskia – “Quarta Obra” (48)
50 – Radio Diaspora – “Ori” (49)

* Entre parênteses está a colocação da música na semana anterior. Ou aviso de nova entrada no Top 50.
** Na vinheta do Top 50, Deize Tigrona, em foto de Pedro Pinho.
*** Este ranking é pensado e editado por Lúcio Ribeiro e Vinícius Felix.

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