Top 50 da CENA – Chico Bernardes honra a família. Vai um TRAGO aí? E o Adorável Clichê nos enganou. É tudo o que podemos falar dos destaques da semana

A família Bernardes sabe os caminhos da canção. Maurício, Tim e agora Chico. Direto para o primeiro lugar do top na semana em que Tulipa Ruiz e cia. nos dá um TRAGO e um pouquito mais, para nosso deleite. Do lado do rock triste, o Brasil segue bem representado: Adorável Clichê e Raça dão as caras.

“Até que enfim, vou eu” é um verso que pode carregar muitos sentidos. Para um jovem garoto que tem na família compositores conhecidos como o pai (Maurício Pereira) e o irmão (Tim Bernardes), uma da leituras possíveis é que se trata de uma afirmação de que a partir daqui é com ele. Isso porque é assim que soa “Outro Fios”, segundo álbum de Chico Bernardes, cinco anos após a estreia que levava apenas seu nome. Em dez faixas, é notável o tremendo avanço sonoro, estético e lírico trazidos pela idade e curiosidade _ aqui o compositor faz um passeio por outras questões e sons_, menos foco no violão (embora “Ode à Perfeição” tenha um violão incrível), mais piano, mais percussão, mais cordas – menos certezas, mais sugestões. Coisas da idade. Ouvintes menos atentos vão pensar que só parece com o irmão. Sim, parece porque é irmão, nada mais que isso. Chico é bem diferente. Ouça de novo.

TRAGO não é exatamente uma banda, mas meio que é. Formado por artistas que atuam em diversas frentes (Tulipa Ruiz, Gustavo Ruiz, Rica Amabis e Alexandre Orion), o projeto nasceu dentro do Palavras Cruzadas, iniciativa em grupo desenvolveu canções a partir de um modelo inusitado: sons de pequenos vídeos de Instagram de Tulipa Ruiz viraram loops na mão de Rica, ganhavam beat com Orion e baixo e guitarra com Gustavo. Dali, Tulipa voltava ao processo com melodias, letras, personagens e desenhos. Esse material foi sendo retratado e agora ganha uma cara definitiva no primeiro álbum do TRAGO.  Parece muito maluco e é, mas não se assuste. Mergulhe que é boa onda.

Não vamos repetir nosso clichê de avisar que mais uma música do Adorável Clichê é tristinha. “Um Sorriso Que Vai” pegou a gente no contrapé. Diferente dos outros singles carregados sonoramente, essa chegou a enganar a gente – parecia mais solar, mais alegre, ancorada num clima quase pop, mas a letra não mente: “Sem hesitar, vou sacrificar/ O afeto que você tem por mim”. Tá vendo?

E, por falar no rock triste brasileiro, a turma do Raça carrega nas tintas em “Nem Sempre Fui Assim”, que estará em seu próximo álbum: “27”. Pelo dito até aqui, podemos esperar menos do balanço de “Saúde”, álbum anterior, e mais uma reflexão sincera e nostálgica, até remetendo aos trabalhos mais antigos da banda. 27, um número entrelaçado com a história do rock, é sempre uma fase complicada, não é mesmo? Dores do crescimento. Detalhes: o single saiu no dia 27 de junho. Fiquemos atentos.

FBC deve ser um dos rappers mais atentos ao que acontece ao seu redor na música brasileira, sempre indo além de amarras do gênero. Virou fã da Ana Frango Elétrico, que assina mais uma capa para ele, e foi buscar em Letrux o sample perfeito para um track que pedia um certo “climão”. O cara sabe das coisas. Atento e forte, Mr. FBC.

Com o fim do Skank, Samuel Rosa, vocalista e principal compositor da banda, não quis tirar o pé do acelerador – a banda acabou, mas a aposentadoria ficou para depois. Ele pegou a estrada para seguir defendendo suas canções todo fim-de-semana pelo país e investiu na produção de seu primeiro álbum solo. “Rosa”, com uma bela arte de Stephan Doitschinoff na capa, chegou ao mundo quinta-feira passada. Entre as dez inéditas, que desenrolam fácil ao longo de pouco menos de 40 minutos, o ouro fica com “Não Tenha Dó”, umas das que têm letra e música do próprio Samuel – que nunca se arriscou tanto como letrista, mas aqui cumpre a função em alguns sons. A faixa conta com um arranjo de cordas absurdo de Owen Pallett (que já assinou coisas para o R.E.M, Alex Turner e Arcade Fire…) e uma letra bonita sobre um apaixonado que lida a sua maneira com o fim de um relacionamento: “Não tenha dó/ Se eu ainda quiser ouvir/ O seu não mais uma vez/ Antes de despedir”. Teríamos aí uma dupla interpretação sobre o fim de velhas paixões? Assunto para os fãs.

A parceria entre os cariocas do Mundo Video e Gab Ferreira não é inédita – já rolou no álbum de estreia dos caras, “MUNDO VIDEO” (2023). Mas agora a coisa ficou mais complexa. Com esse nome de filme, a faixa “SOZINHOS: O Desafio” praticamente se divide em duas partes, uma é liderada por Gab e a segunda fica por conta do Mundo Video. É o tipo de experimentação que eles gostam – quem se lembra do final abrupto de “MIMI (SINTO SUA FALTA)”? Esquisito do jeitinho que gostamos.

A Fresno lançou o desafio: um milhão de streams em “Eu Te Amo/Eu Te Odeio” (IÔ-IÔ), parceria da banda com a Pabllo, e ele regravariam “Disk Me” – um dos maiores sucessos da Vittar. Os fãs tacaram o play e agora a música ganha sua versão – com direito a um saxofone brutal solando e tudo. Tudo por ser emo.  

Das muitas Marina Sena que existem, tem uma que é voz e violão – indo no básico de suas canções. E é essa que dá as caras em uma versão bonita de “Mande um Sinal”. No vídeo, Marina aparece sozinha dando o tom em uma guitarra Gretsch lindíssima. Chique demais.

Rafael Mike, que ficou conhecido com o Dream Time do Passinho e fez até beatbox em disco do Chico Buarque, se prepara para o primeiro álbum solo. O single mais recente é uma apaixonada canção que desemboca em um áudio para lá de amoroso da Elza Soares. Viver de amores é o caminho mais seguro, sem dúvidas, Rafa.

11 – Pato Fu – “Made in Japan” (com Orquestra Ouro Preto) (6)
12 – Tontom – “Tontom Perigosa” (7)
13 – Vivian Kuczynski – “Me Escapo a Cuba” (8)
14 – Curumin – “Corredor do Mato Dentro” (9)
15 – Quartabê – “Eu Cheguei Lá” (10)
16 – Dois Barcos – “Maratonas” (12)
17 – Jup do Bairro – “Mulher do Fim do Mundo” (13)
18 – Paira – “Música Lenta” (14)
19 – Mundo Video – “FESTA NO ALÉM!” (15)
20 – Papisa – “Vai Passar” (16)
21 – Holger – “Escada” (17)
22 – Carlos do Complexo – “Sextos Sentidos” com Menor do Engenho e Marlon do Engenho (18)
23 – FBC – “O Retorno É a Única Lei” com Dougnow (19)
24 – Gracinha – “Farol” (20)
25 – Thalin, VCR Slim, Cravinhos… – “Todo Tempo do Mundo” (21)
26 – Chococorn and the Sugarcanes – “Tudo de Pior para Nós Dois” (22)
27 – Antônio Neves – “Dinamite” (23)
28 – Hermeto Pascoal – “Passeando pelo Jardim” (24)
29 – Edgar – “Incapturável” (25)
30 – Silva – “Abram Alas” (26)
31 – Bebé – “Recado Dado (com Dinho Almeida)” (27)
32 – Max B.O – “Impossível Não Achar Possível” (28)
33 – Pluma – “Corrida!” (29)
34 – Mateus Fazeno Rock – “Madrugada” (30)
35 – Julia Branco – “Baby Blue” (31)
36 – O Grilo – “Manual Prático do Tédio” (32)
37– Duda Beat – “q prazer” (33)
38 – Papisa – “Fronteira” (34)
39 – Varanda – “Vá e Não Volte” (35)
40 – Taxidermia – “Clarão Azul” (36)
41 – Mirela Hazin – “Delírio” (37)
42 – Bruno Berle – “Te Amar Eterno” (38)
43 – Fresno – “Quando o Pesadelo Acabar” (39)
44 – Pabllo Vittar – “Pra Te Esquecer” (40)
45 – Tuyo – “Devagar” (41)
46 – Irmãs de Pau – “Megatron” (42)
47 – Haroldo Bontempo – “Risada (com João Donato)” (43)
48 – Jota Ghetto – “Michael B. Jordan na Fila do CAT” (44)
49 – Deize Tigrona – “25 de Abril (com Boogarins)” (45)
50 – Amaro Freitas – “Viva Naná” (48)

***
* Entre parênteses está a colocação da música na semana anterior. Ou aviso de nova entrada no Top 50.
** Na vinheta do Top 50, o músico Chico Bernardes.
*** Este ranking é pensado e editado por Lúcio Ribeiro e Vinícius Felix.

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