Top 50 da CENA – Bruno Berle chega ao topo com seu violão. Rohma mostra a kobra em segundo. Índio da Cuíca traz a malandragem para o pódio

Eta CENA agitada, viu? Nesta semana tem de tudo, para variar. Um italiano que é brasileiríssimo, um novo single de um experiente músico que estreou em disco autoral aos 70 anos e a requintada estreia de um jovem alagoano com seus 20 e poucos anos. Tá pouco? Quando você imaginou ver uma banda de shoegaze BR homenageando o time mais popular do Brasil?

foto: Maria Zabenzi

É belíssima a estreia do alagoano Bruno Berle. No álbum “No Reino dos Afetos”, ele mostra logo parte de suas habilidades nas composições, nos instrumentos e até na produção – é ele mesmo que assina a gravação e produção da maioria das faixas, dividindo os créditos em alguns sons com os parceiros Batata Boy e Jefu. Em “Sereno”, por exemplo, ele encara percussão, guitarra de nylon, sintetizador, piano, baixo, flautas, voz. Uau. Mas a gente fica desta vez com a bela “Até Meu Violão”, que não é do Bruno, mas de João Menezes, que participa da faixa na percussão e voz. É dos sons que traduz a capacidade de Bruno em misturar de maneira bastante original um tanto de influências gringas e modernas com uma tradição da música brasileira que começa lá no samba e na bossa-nova dos anos 50, 60. Um nome para se acompanhar de perto. E o legal é saber que ele está só começando. 

Estamos ansiosos pelo novo álbum do Rohmanelli, o mais brasileiro dos italianos – professor universitário, ele vive aqui há mais de 20 anos. A nova fase começa com a mudança do seu nome artístico, agora encurtado: Rohma. E o primeiro single chega chegando com a participação de Letrux. A música é uma versão de um sucesso dos anos 1980 na Europa. “Kobra” originalmente é de Rettore, diva pop LGBTQIA+. Em português, pelas mãos de Franco Cav, e com uma roupagem mais moderna, dos produtores Jonas Sá e Thiago Nassif, cabe bem para 2022, cheia de provocação.

No ano passado, Índio da Cuíca realizou um sonho antigo. Com uma trajetória na música já de pelo menos 50 anos como instrumentista que tocou pelo mundo e participou de muitos discos e projetos, faltava um disco para chamar de seu, um autoral, com suas músicas. Com direção musical e produção de Gabriel de Aquino e codireção do cuiqueiro e pesquisador Paulinho Bicolo, o álbum “Malandro 5 Estrelas” trouxe a versatilidade e criatividade de Índio à tona. Para celebrar a chegada do disco aos palcos, esse medley da malandragem foi lançado em celebração. Mas tem uma malandragem para achar ele, que não está no streamings corriqueiros. Esta você só encontra no Bandcamp da QTV.

Alguém escreveu no Instagram da banda de shoegaze carioca: “Último tema que imaginei ser abordado por vocês”. E surpreende mesmo. Estamos diante de uma exaltação roqueira ao Clube de Regatas do Flamengo, mais especificamente na figura do polêmico volante William Arão, amado e odiado. E com direito a citação de um texto de Nelson Rodrigues. Nos anos 1950, ele, que era Flu, escreveu talvez a mais bela homenagem ao manto rubronegro: “Há de chegar talvez o dia em que o Flamengo não precisará de jogadores, nem de técnicos, nem de nada. Bastará a camisa, aberta no arco. E diante do furor impotente do adversário, a camisa rubro-negra será uma bastilha inexpugnável.” Tipo esta música do Gorduratrans.

Temos banda instrumental nova na CENA. Celeste, nome escolhido em homenagem ao famoso game canadense com arte brasileira do estúdio MiniBoss, reúne os baianos Ivan Souza (baixo e synths), Marcus Rossini (bateria e efeitos de percussão) e Sergio Magno (guitarra e programações), mais o carioca Rodrigo Barba (baterista e efeitos de percussão), que talvez você conheça dos Los Hermanos. Mas duas baterias? Pois é, colocar o instrumento de percussão em primeiro plano é uma das missões da banda. Por falar em soma, o primeiro single é uma referência a matemática. A Lei de Benford conta que a probabilidade de o primeiro dígito ser 1 em diversas coleções de números é maior do que os outros números. Louco, não? Essa conclusão é útil, por exemplo, para descobrir fraudes em estudos estatísticos, eleições… Já a “Lei de Benford”, a música, por enquanto só no Youtube.

Juçara Marçal lançou um pequeno EP que dialoga com seu álbum mais recente, “Delta Estácio Blues”. Não por acaso, se chama “EPDEB”. O resultado parece um conjunto de cenas extras, como se DEB fosse um filme e as músicas do EP são aqueles momentos que ficaram de fora do corte final por questões narrativas. Cenas lindas que não caberiam tão bem no conjunto, como é o caso desta composição de Juçara com Kiko Dinucci e Rodrigo Campos ao “mais antigo dos Odé”, que tem a participação especialíssima de Paulo Santos na percussão – Paulo é co-fundador do Uakti, grupo de música instrumental que experimentava e criava instrumentos. Outra que a gente amou é a composição da Jadsa, que tem participação dela, inclusive: “Um Choro”.  

Tom Zé está de disco novo na praça: “Língua Brasileira”. Ainda que não leve um nome semelhante aos seus famosos estudos – “Estudando o Samba” (1976), Estudando o Pagode  (2005) e “Estudando a Bossa” (2008) -, estamos diante de mais um novo e profundo estudo de Tom, uma característica permanente de suas obras. E ele traz descobertas, como conta no texto que soltou junto com o álbum: “Nós nos orgulhamos da língua cantabile melodiosa que falamos no Brasil. As averiguações mostram que herdamos isso de uma antiga língua africana e negra: o quimbundo. Falamos, com pouso nas vogais, uma língua quase cantada, em vez daquelas consoantes acentuadas preferidas em Portugal”. “Hy-Brasil Terra Sem Mal”, canção que abre o disco, traz muita pesquisa, da contínua procura tupi-guarani por uma terra sem mal até uma história celta sobre uma mitológica ilha chamada Hy-Brasil, sempre inalcançável. Dessas procuras, Tom faz a sua própria: por um Brasil sem fuzil, sem bala civil. Como acontece sempre, agora o caso é de estudar tudo que o Tom Zé trouxe em mais um belo disco.    

Em seu segundo álbum solo, o primeiro após a pandemia, que interrompeu as apresentações de “Grandeza”, Sessa, paulistano com fortes conexões internacionais, foi buscar em antigos discos de música brasileiras uma essência sonora clássica. “Feito a mão”, de acordo com ele mesmo, ao lado de parcerios como Marcelo Cabral (baixo), Gabriel Basile (bateria, percussão e produção) e Paloma Mecozzi, Ina, Laura Rosenbaum e Cecília Góes (vozes), entre outros colaboradores, tem um resultado bem bom, dá para dizer. Só notar a ambiência desse violão, daquelas em que você escuta a mão deslizando pelas cordas atrás de cada acorde.  

O segundo álbum da banda curitibana tem um toque especial: ao passo que novas influências musicais trazem um aspecto talvez mais suave ao som do grupo. A firmeza política presente no primeiro trabalho delas se mantém intacta. Formada por Amanda Pacífico, Cacau de Sá, Caro Pisco, Érica Silva, Fer Koppe e Naíra Debértolis, a banda traz em todas as canções seu recado de liberdade. Seja celebrando ela, seja denunciando quem a ataca. A exploração da natureza sem medo de detonar o mundo é o assunto de “Barriga de Peixe”, canção que tem participação de Kaê Guajajara. Esta faixa também dá uma boa demonstração de como a banda adicionou a música eletrônica ao seu trabalho, uma novidade em relação ao primeiro disco.      

O grande vocalista do Ratos de Porão, muito famoso não só musicalmente, segue no seu intuito em transformar em punks algumas das mais conhecidas músicas bregas do portfólio brasileiro. E transformar isso num disco, cujo apropriado título é “Brutal Brega”. Depois de “Fuscão Preto” e de “Tenho” (Sidney Magal), Gordo nos revela, agora, o clássico “Ciganinha”, de Carlos Alexandre. Em especial esta última, ficou muito boa. Principalmente para a geração que não ouviu ela no programa do Barros de Alencar ou na TV, no Chacrinha.

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11 – Chico César – “Vestido de Amor” (6)
12 – MC Tha – “São Jorge” (com Comunidade Jongo Dito Ribeiro e Sueide Kintê) (7)
13 – Do Amor – “Por Essa Rua É Ruim” (8)
14 – Maglore – “Eles” (9)
15 – Chico Buarque – “Que Tal Um Samba?” (part. Hamilton De Holanda) (10)
16 – Tim Bernardes – “Última Vez” (11)
17 – Letieres Leite & Orquestra Rumpilezz – “Coisa n°5 – Nanã” (com Caetano Veloso) (12)

18 – AIYÉ – “Exu” (13)
19 – Black Alien – “Fica Até umas Hora” (14)
20 – Jair Naves – “Meu Calabouço (Tão Precioso É o Novo Dia)” (15)
21 – Moons – “Best Kept Secret” (16)
22 – Elza Soares – “Mulher do Fim Do Mundo” (17)
 
23 – Alaíde Costa – “Aurorear” (18)

24 – Luna França – “Como” (19)
25 – Joyce – “Feminina” (1977, Claus Ogerman) (20)
26 – Maurício Pereira – “Um Teco-Teco Amarelo em Chamas” (22)
27 – Bruno Capinam – “Ode ao Povo Brasileiro” (23)
28 – Urias – “Je Ne Sais Quois” (24)
29 – RT Mallone – “100 Balas” (com Coruja BC1) (25)
30 – Maglore – “Amor de Verão” (26)
31 – Rico Dalasam – “30 Semanas” (27)
32 – Criolo – “Ogum Ogum” (com Mayra Andrade) (28)
33 – Thiago Jamelão – “Diálogo sobre Vivência” (29)
34 – João Gomes – “Me Adora” (30)
35 – Black Pantera – “Estandarte” (com Tuyo) (31)
36 – N.I.N.A. – “Anna” (33)
37 – Saskia – “Quarta Obra” (34)
38 – Rashid – “Pílula Vermelha, Pílula Azul” (35)
39 – Otto – “Tinta” (36)
40 – Assucena – “Ela (Citação a Menina Dança)” (37)
41 – Walfredo em Busca da Simbiose – “Netuno” (38)
42 – Glue Trip – “Lazy Days” (com Arthur Verocai) (40)
43 – Sérgio Wong – “Filme” (41)
44 – Radio Diaspora – “Ori” (42)
45 – Florais da Terra Quente – “Suco de Umbu” (com Chapéu de Palha) (43)
46 – Narcoliricista – “Bem Pertin” (44)
47 – LAZÚLI – “Pomba Gira” (45)
48 – Valciãn Calixto – “Aquele Frejo” (46)
49 – Labaq – “Dóidóidói” (47)
50 – Luneta Mágica – “Além das Fronteiras” (49)

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* Entre parênteses está a colocação da música na semana anterior. Ou aviso de nova entrada no Top 50.
** Na vinheta do Top 50, o músico Bruno Berle.
*** Este ranking é pensado e editado por Lúcio Ribeiro e Vinícius Felix.

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