Top 50 da CENA – As diferentes formas (!) do rap no topo do Top. Raffa Moreira, Rico Dalasam e FBC explicam tudo

É o rap! Três manos formam o pódio desta semana no nosso Top 50. Diferentes artistas, diferentes propostas e diferentes assuntos. O que dá a dimensão de que o gênero é hoje muito mais complexo e diverso do que muito estigma ainda teima em traçar. Só gigantes na rima.

Raffa Moreira pode ser incompreendido por muitos, mas é um nome bem querido por tantos outros. Seu melhor momento parece se apresentar no novo álbum, “Beleza Exótica”, que já acumula alguns hits, como a própria faixa-título e ainda “Fashion Nova” e “K2”. O que saltou aos ouvidos de cara foi o gentil verso: “Sem stress, é festa, eu escapei da pandemia então vou viver”. A pandemia que está tão perto de nós parece ressoar pouco nas músicas novas. Raff deu sua ideia sobre o feeling de ter passado pela tragédia e tirar um aprendizado. E se organizar bem para viver o futuro.

“Escuro Brilhante” é o próximo álbum do rapper Rico Dalasam. Um álbum que diz “Viva”, de acordo com ele, “o duro exercício de não aceitar qualquer coisa, e o gozo no tempo certo das colheitas mágicas de quem apesar de tudo não perdeu o critério.” Quem mais está nesse barco? E nessa recompensadora jornada existem os momentos de tomar foras no amor. E essa é a história do primeiro single que chega como abertura da nova fase, a doce “Espero Ainda”. Com produção de Dinho, LR beats, Mahal Pita e Chibatinha, Rico demonstra aqui que há possibilidades de rap com violão muito além do que ousaram imaginar até aqui. 

FBC conquistou o mundo quase que literalmente com seu álbum “Baile”, lançado em 2021. Quem bailou bailou. Ou quase. É que agora o baile mudou de endereço e chega numa pegada de dance music e house – com direito a refrão saudando Olivia Newton-John e seu “Physical”. São as influências que FBC absorveu ao rumar seu som para as pistas e que devem ser mais expostas no seu próximo ato. Daqui a gente fica imaginando o que vem por aí. Já sabemos que no novo álbum tem feat. com o Don L, por exemplo. Deve ser quente. 

“Eu queria não querer mais”, comenta misterioso o refrão do novo single do Holger, mais um som que marca a volta da banda após cinco anos de silêncio. Misteriosa também é a participação da Gab Ferreira pela faixa. Tente achar seu vocal. “Más Línguas”, novo álbum da banda, está previsto para julho pela Balaclava Records. 

Na capa de “Deboche”, Manuella Terra e Carolina Mathias repousam sobre lembranças de uma parceria de anos. A dupla que forma o Troá! se conhece há 12 anos anos e já partilhou muitos “cacos, lembranças e trecos” que agora se acumulam na capa de seu segundo álbum. Consideradas relevações em 2019, pouco antes da pandemia, Manu e Carol escrevem em “Deboche” muito sobre esse processo de maturação, que dá em um caldo diferente nas letras e na sonoridade proposta. Em alguns momentos, tudo soa pop e claro, em outros, tudo é mais sombrios e pirado. Um dos maiores méritos delas está no tom do papo das músicas, que muitas vezes soam como conversas de boas amigas. Ou seja: recheadas de segredos, piadas internas e outras coisas que só elas entendam. E aí que a mágica acontece: “Deboche” está longe de ser fechado em si, lembra mais um convite para gente se enturmar com elas, dividir uma cerveja, ouvir um som e entender um pouco mais disso que compartilhamos em comum seja lá o que for. 

Na procura pela batida perfeita, o tempo parece ter contado para Marcelo D2 que a perfeição está na procura. Sábio que é, D2 não desperdiçou o conselho. Desde “AMAR é para os FORTES” lançado em 2018, Marcelo parece ter dado nova direção a carreira, mais consciente que cada proposta sua pode mudar a situação, em especial arriscando cada vez mais e abrindo mais e mais para a colaboração com uma vasta gama de artistas do passado, presente e futuro. Nessa aventura recente, “IBORU”, seu novo álbum, prova que o risco das novas busca vales a pena. Por aqui, D2 encontra um samba ao seu modo ao inverter a experiência que o rapper ajudou a popularizar. Agora não é rap com elementos de samba, agora é samba com aprendizados do rap. E uma mistura que parece rumar a um ponto de conexão que deixa cada vez mais difícil decifrar de onde veio o que – os fortes graves são mais rap ou são mais do surdo? É como se D2 buscasse decifrar o princípio de tudo, descobrir onde o rio começa. Como já foi dito, mais que encontrar o lance é a busca.  

Vem aí “Néktar”, quarto álbum de estúdio de Ava Rocha. E se o papo é néctar, nada mais adequado que começar a jornada rumo ao novo álbum beijando geral, como boa abelha faz encantada pelo líquido produzido pelas flores. O astral da música está bem explicado pela própria Ava: “Uma música que fiz ninando minha filha durante a pandemia. Tinha que ser alto astral, imaginativa, sem medo de ser feliz, que manifestasse a poética da vida”. 

Existem versões acústicas e versões acústicas. O trio Lio, Lay Soares e Machado, que está na pista com um show também em voz e violão, sabe mudar uma canção quando simplifica a roupagem. “Zero Coragem” troca de cor na versão apenas com o trio nas vozes – fica tudo um pouquinho mais blues. Mas não menos acolhedor. É tanto fantasma por resolver, mas estamos juntos nessa. Quem viu o trio no Turá entende do que estamos falando. 

Após uma bem-sucedida exploração ao encontrar rap nas formas da soul music, samba e jazz em “Brasil Futurista”, Coruja BC1 em sua estreia pelo selo Kondzilla, popular por lançar os grandes nomes do funk, volta a apresentar um rap numa linha mais tradicional, que remete ao seu início de carreira sem deixar de lado a maturidade de sua pesquisa. “Continuo buscando mergulhar nesse Brasil, mas, especificamente, São Paulo. Faço uma imersão no DNA da sonoridade desse meu projeto misturando Drill/Funk Paulista”, escreve Coruja. Então, já sabe. É um bom beat e punhado de versos criando mil pontes a partir de um milhão de ideias. Coruja classic.

“mãeana canta JG” é um espetáculo da cantora une ao seu modo os repertórios de João Gomes e João Gilberto, uma misturada que ficou apelidada de “pisa nova”. A ponte que poderia ser inusitada para muitos, na real faz todo o sentido. Em especial pelo diálogo entre as duas obras imposto por mãeana. A ideia bacana ganhou sua primeira gravação em um pequeno single duplo onde ela apresenta as versões para João Gomes. Queremos mais. 

11 – Luisão Pereira – “Licença” (com Luíza Nery) (6)
12 – dadá Joãozinho, Alceu e Bebé – “Cuidado!” (7)
13 – YMA e Jadsa – “A Noite Estonteante” (8)
14 – Xis – “Isnaipa” (9)
15 – Tasha e Tracie com Kyan e Rapper Gregory – “Dia de Baile” (10)
16 – Terno Rei – “Esperando Você” (11)
17 – Ítallo – “Tarde no Walkiria” (12)
18 – Clarice Falcão – “Chorar na Boate” (13)
19 – Ruadois – “Sprint” (14)
20 – Gustavo Bertoni – “Crystals” (15)
21 – Anttónia – “Me Leva” (com Giovani Cidreira) (16)
22 – Dj RaMeMes – “Vamo Fuder” (17)
23 – Zé Ibarra – “Vou Me Embora” (18)
24 – Rincon Sapiência – “XONA” (19)
25 – TUM – “DTF” (20)
26 – L’homme Statue – “Espírito Livre” (21)
27 –  ÀTTØØXXÁ – “Dejavú” (com Liniker) (22)
28 – Drvnk – “Leaving Downtown” (24)
29 – Viratempo – “Te Quiero” (25) 
30 – Mahmundi – “Meu Amor – Reprise” (26)
31 – BIKE – “Além-Ambiente” (27)
32 – Volver – “Volver de Novo” (28)
33 – Majur – “Tudo ou Nada” (29)
34 – Jards Macalé e Maria Bethânia – “Mistérios do Nosso Amor” (30)
35 – Marina Sena – “Meu Paraíso Sou Eu” (31)  
36 – Mateus Fazeno Rock – “Indigno Love” (com Brisa Flow) (32) 
37 – Lirinha – “O Campo É o Corpo” (33)
38 – Giovanna Moraes – “Fala Na Cara” (36)
39 – ÀIYÉ – “OXUMARÉ (Que Meus Venenos Sejam Mel)” (37)
40 – Julia Mestre – “do do u”  (38)
41 – Aláfia – “Cadê Meu Pai?” (39)
42 – Os Tincoãs – “Oiá Pepê Oia Bá”  (40)
43 – Iara Rennó – “Iemanjá” (41)
44 – Juliano Gauche – “Ondas Que Acordam” (42)
45 – Emicida e Chico Buarque – “Senzala e Favela” (44)
46 – Rei Lacoste – “Pareando” (com Dunna) (45)
47 – Sant – “SSA” (com Luedji Luna e VANDAL) (47) 
48 – Gab Ferreira – “Forbidden Fruit” (48)
49 – Jambu – “Caso Sério” (49) 
50 – Terraplana – “Me Encontrar” (50)  


* Na vinheta do Top 50, o rapper Raffa Moreira.
** Este ranking é pensado e editado por Lúcio Ribeiro e Vinícius Felix.

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