Top 50 da CENA – Adorável primeiro lugar para a Adorável Clichê. De conchinha com a Duda Brack. E uma homenagem a Luiz Chagas. Este é o nosso pódio da semana

Semana de celebrar a esperada chegada de um disco muito aguardado, o novo trabalho dos catarinenses do Adorável Clichê. Semana também para lamentar a partida do querido Luiz Chagas, guitarrista e jornalista de longa e rica trajetória na cena da música brasileira. Nem sempre é fácil, mas sempre temos as canções como companheiras. 

Chegou a hora de curtir o novo álbum do quarteto indie Adorável Clichê, de SC, que vínhamos acompanhando aqui single a single. “Sonhos Que Nunca Morrem” traz na capa a vocalista Gabrielle em uma foto tirada na infância. Uma imagem que vai se chocar com o que Gabi chama de letras sobre “Tomar posse da vida adulta”. Entre guitarras e muitos sintetizadores, o Adorável Clichê desenha seu dream pop bem particular – como na foto da capa, um raio de sol curto em dias frios. O trabalho também traduz de alguma formas as barras que o grupo enfrentou nos seus quatro anos de produção – lembrando que nesse meio do caminho houve a pandemia e tudo mais. 

Quem lembra dos sons mais roqueiros da Duda Brack talvez estranhe a mudança, mas vale dar uma atenção em “Proibido Não Gostar”, seu novo álbum, que marca uma experimentação com o pop brasileiro provando de muito forró, tecnobrega e o piseiro. A nova sonoridade é muito por conta do que a própria Duda chama de “match musical” com o produtor Ariel Donato. Em “De Conchinha com a Diaba”, canção de Duda com Romero Ferro, o produtor cuida de quase tudo do instrumental: baixo, beats, samples e sintetizador. Sobra espaço para Mestrinho pontuar com sua sanfona. Funcionou à beça. 

Fica aqui nossa breve homenagem a um dos nomes mais queridos da cena brasileira: Luiz Chagas. Pai de Tulipa Ruiz, guitar hero da carreira solo da filha e de Itamar Assumpção, jornalista cultural e beatlemaníaco, Chagas morreu nesta semana. O tamanho de seu talento e generosidade pode ser medido pelo volume de mensagens escritas pelos colegas de tantas gerações da música brasileira. Todo mundo compartilhou pelo menos um sorriso com Belo, um de seus apelidos. Ao lado da filha, escreveu a doce, simples e profunda “Sushi” – melodia dela, letra dele. “Nem sempre o amor se encontra tão perto.” 

A residência inglesa de Momo. começa a dar frutos. Após quatros anos sem lançar nada, o single “Jão” é a primeira mostra do suíngue brasileiro que ele adicionou numa banda majoritariamente britânica de jazz – a única exceção está no baixo, comandando pelo também brasileiro Caetano Malta. Gilberto Gil já cantou que para voltar é necessário ir. Momo. aproveita bem a ida. 

Sentindo falta de música de garagem com cara de música de garagem? É isso que a mineira Lucia Vulcano anda produzindo. Respeitando o espírito punk ela entrega muita sinceridade em “Vim, Vi e Me Fudi” – quer título mais honesto que esse? Seus versos e o som não escondem sua raiva contra o patriarcado e a sanha conservadora de castrar os corpos e desejos das minas. Pancada certa. 

No frescor do pop brasileiro de hoje tem horas que as letras ficam devendo um tiquinho. Não é o caso do bom trabalho do PECI. Sua “Doce do Azedo”, com direito a sax e tudo, abre certeira: “Pra quem quiser viver o amor/ Tem que aprender a morrer de tanto amar”. Olho no curitibano.

“Até que enfim, vou eu” é um verso que pode carregar muitos sentidos. Para um jovem garoto que tem na família compositores conhecidos como o pai (Maurício Pereira) e o irmão (Tim Bernardes), uma da leituras possíveis é que se trata de uma afirmação de que a partir daqui é com ele. Isso porque é assim que soa “Outro Fios”, segundo álbum de Chico Bernardes, cinco anos após a estreia que levava apenas seu nome. Em dez faixas, é notável o tremendo avanço sonoro, estético e lírico trazidos pela idade e curiosidade _ aqui o compositor faz um passeio por outras questões e sons_, menos foco no violão (embora “Ode à Perfeição” tenha um violão incrível), mais piano, mais percussão, mais cordas – menos certezas, mais sugestões. Coisas da idade. Ouvintes menos atentos vão pensar que só parece com o irmão. Sim, parece porque é irmão, nada mais que isso. Chico é bem diferente. Ouça de novo.

TRAGO não é exatamente uma banda, mas meio que é. Formado por artistas que atuam em diversas frentes (Tulipa Ruiz, Gustavo Ruiz, Rica Amabis e Alexandre Orion), o projeto nasceu dentro do Palavras Cruzadas, iniciativa em grupo desenvolveu canções a partir de um modelo inusitado: sons de pequenos vídeos de Instagram de Tulipa Ruiz viraram loops na mão de Rica, ganhavam beat com Orion e baixo e guitarra com Gustavo. Dali, Tulipa voltava ao processo com melodias, letras, personagens e desenhos. Esse material foi sendo retratado e agora ganha uma cara definitiva no primeiro álbum do TRAGO.  Parece muito maluco e é, mas não se assuste. Mergulhe que é boa onda.

E, por falar no rock triste brasileiro, a turma do Raça carrega nas tintas em “Nem Sempre Fui Assim”, que estará em seu próximo álbum: “27”. Pelo dito até aqui, podemos esperar menos do balanço de “Saúde”, álbum anterior, e mais uma reflexão sincera e nostálgica, até remetendo aos trabalhos mais antigos da banda. 27, um número entrelaçado com a história do rock, é sempre uma fase complicada, não é mesmo? Dores do crescimento. Detalhes: o single saiu no dia 27 de junho. Fiquemos atentos.

FBC deve ser um dos rappers mais atentos ao que acontece ao seu redor na música brasileira, sempre indo além de amarras do gênero. Virou fã da Ana Frango Elétrico, que assina mais uma capa para ele, e foi buscar em Letrux o sample perfeito para um track que pedia um certo “climão”. O cara sabe das coisas. Atento e forte, Mr. FBC.

11 – Samuel Rosa – “Não Tenha Dó” (6)
12 – Mundo Video – “SOZINHOS: O Desafio (com Gab Ferreira)” (7)
13 – Fresno – “Disk Me” (8)
14 – Marina Sena – “Mande um Sinal (Acústico)” (9)
15 – Rafael Mike – “Viver de Amores” com Elza Soares (10)
16 – Pato Fu – “Made in Japan” (com Orquestra Ouro Preto) (11)
17 – Tontom – “Tontom Perigosa” (12)
18 – Vivian Kuczynski – “Me Escapo a Cuba” (13)
19 – Curumin – “Corredor do Mato Dentro” (14)
20 – Quartabê – “Eu Cheguei Lá” (15)
21 – Dois Barcos – “Maratonas” (16)
22 – Jup do Bairro – “Mulher do Fim do Mundo” (17)
23 – Paira – “Música Lenta” (18)
24 – Papisa – “Vai Passar” (20)
25 – Holger – “Escada” (21)
26 – Carlos do Complexo – “Sextos Sentidos” com Menor do Engenho e Marlon do Engenho (22)
27 – Thalin, VCR Slim, Cravinhos… – “Todo Tempo do Mundo” (25)
28 – Chococorn and the Sugarcanes – “Tudo de Pior para Nós Dois” (26)
29 – Antônio Neves – “Dinamite” (27)
30 – Hermeto Pascoal – “Passeando pelo Jardim” (28)
31 – Edgar – “Incapturável” (29)
32 – Silva – “Abram Alas” (30)
33 – Bebé – “Recado Dado (com Dinho Almeida)” (31)
34 – Max B.O – “Impossível Não Achar Possível” (32)
35 – Pluma – “Corrida!” (33)
36 – Mateus Fazeno Rock – “Madrugada” (34)
37 – Julia Branco – “Baby Blue” (35)
38 – O Grilo – “Manual Prático do Tédio” (36)
39 – Duda Beat – “q prazer” (37)
40 – Varanda – “Vá e Não Volte” (39)
41 – Taxidermia – “Clarão Azul” (40)
42 – Mirela Hazin – “Delírio” (41)
43 – Bruno Berle – “Te Amar Eterno” (42)
44 – Pabllo Vittar – “Pra Te Esquecer” (44)
45 – Tuyo – “Devagar” (45)
46 – Irmãs de Pau – “Megatron” (46)
47 – Haroldo Bontempo – “Risada (com João Donato)” (47)
48 – Jota Ghetto – “Michael B. Jordan na Fila do CAT” (48)
49 – Deize Tigrona – “25 de Abril (com Boogarins)” (49)
50 – Amaro Freitas – “Y’Y” (50)


***
* Entre parênteses está a colocação da música na semana anterior. Ou aviso de nova entrada no Top 50.
** Na vinheta do Top 50, a banda catarinense Adorável Clichê.
*** Este ranking é pensado e editado por Lúcio Ribeiro e Vinícius Felix.

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