Top 50 da CENA – A MMGL faz magia (mesmo) pelo primeiro lugar. “Nosso” Apeles cava seu segundo lugar com música em inglês. Viratempo completa o pódio

O preparo é o segredo. O modo de fazer. Os meios na frente do interesse por qualquer fim. Esse é o processo exposto pela líder da semana, My Magical Glowing Lens, projeto de Gabriela Terra. Esforço que vemos replicados nas outras canções novas da lista, presentes do tempo, colhidos com paciência. 

No fluxo intenso de informações e sensações que sobrevoam nossa vida atual, é preciso coragem do artista em se retirar por um longo período. Periga não ser lembrado, periga ter dificuldade em voltar a trabalhar. Periga muito coisa. Gabriela Terra, a dona do My Magical Glowing Lens, reuniu essa força. Foram seis anos de silêncio. “Eles dizem que precisamos lançar músicas o tempo todo, mesmo sem cuidado, sem saúde mental, sem afeto, só para estar em alta no mercado e receber os tais elogios para uma arte vendável… É complicado…”, expôs Gabi no seu anúncio de volta. Em três anos, cuidou de fazer as coisas a seu modo. Chamou Pupillo para produzir, Benke do Boogarins para mixar. “Além de música, produtora musical e diretora criativa, fui por fora vendedora, professora, secretária, agente territorial e outras coisas. Só para não lançar aquela mesma coisa, só para não fazer tudo na brothagem, só para pagar todo mundo direitinho e fazer algo diferente do que o lançamento independente vem fazendo”, diz Gabi, que complementa com uma dúvida. “Se vai dar em algo, só o tempo dirá, não os números. Se vocês vão gostar, é tudo que eu mais quero saber.” Gabi, a gente não gostou, a gente amou, a gente tava com saudade. E damos razão para o seu pensament:, é preciso tempo, é preciso fazer como se acredita que é certo. E assim tudo sobrevoa muito bem.  

Esta canção cabe na CENA, mas poderia estar na nossa lista de música gringa. Vamos explicar.  O músico paulistano Apeles inventou um álbum colaborativo com vários artistas deste mundão, a começar pelo rapper britânico Awate, que participa desse single de estreia do projeto. A ideia que levou três anos para ser completada com Thiago Klein na produção e Hélio Flanders dividindo a direção musical com Apeles recebeu vários convidados para uma noite única de registro. 

Tem um tempo que a gente é fã deles e está sempre recomendando por aqui. A turma da Viratempo, formada por Vallada, Danilo Albuquerque, Hygor Miranda e Max Leblanc, segue capaz de chacoalhar bem as ideias e corpos com alto astral e good vibes. Eles já vinham dando pistas do que preparavam para o próximo álbum, mas agora é questão de tempo. Vem aí “Cidade Tropical Pensamento”. A ideia deles de juntar o universo Marcos Valle com o planeta Gorillaz não é só uma ideia, já é realidade. Sonzera. 

Alaíde Costa continua sua rica parceria com Emicida e Marcus Preto iniciada em “O Que Meus Calos Dizem sobre Mim” e prepara um novo álbum com repertório construído especialmente para sua grande voz. E é essa voz potente aos 87 anos que dá corpo para uma canção de Junio Barreto para lá de quente em tons de vermelhos, já evidenciados na capa do single. Como se já não bastasse o calor que assola o país por estes dias quentes de setembro, temos Alaíde provocando fervura.

 “Belezas São Coisas Acesas por Dentro”, trecho da música “Lágrimas Negras” de Jorge Mautner e Nelson Jacobina, é o álbum que registra o trabalho em homenagem a Gal Costa que a cantora Filipe Catto vinha fazendo por palcos pelo Brasil. Um registro incentivado pelo produtor Zé Pedro e que fica como boa apresentação do poder de Gal muito por conta do olhar inventivo de Catto para canções conhecidas e desconhecidas da nossa saudosa cantora.   

Em comemoração ao showzão de Sophia Chablau e uma Enorme Perda de Tempo no Coala, precisamos finalmente celebrar o discão “Música do Esquecimento”, que chegou ao primeiro lugar da lista na semana passada. Segundo álbum de uma banda em fase de crescimento, as camadas sonoras abrem conversa com mais e mais camadas de textos e subtextos. Dos muitos exemplos possíveis, sobressai o bom humor diante do fim do mundo na doce “Quem Vai Apagar a Luz” e seus versos preocupados, digamos. “Quem que vai apagar a luz/ Quando o Sol explodir?/ Quem é que vai contar os cacos?/ E se um novo animal nascer, de dentro do homem nu/ Quem vai chamar família?”. Ri, de desespero, talvez, mas ri. 

A dita civilização que se julga tão avançada é a mesma que acelera o fim do planeta sem saber em que pôr a culpa. Se olhasse no espelho, descobria quem é o predador nessa história. Sabemos cada vez menos encontrar nosso termo, nossa dose, nosso lugar no mundo. Estamos perdidos. E a Mãe Terra dá suas respostas. “Mata Grossa”, novo álbum de Alzira E + Corte, essa parceria que é uma banda, uma unidade da compositora com Marcelo Dworecki (baixo e guitarra), Cuca Ferreira (sax processado), Daniel Verano (trompete, teclado, synth e metalofone) e Fernando Thomaz (bateria), é um grito de emergência, um pedido de atenção. Ou entendemos nossa porção animal, selvagem e parte de um lugar muito maior e que não é o nosso ou esquece. E essa é só uma das leituras deste poderoso álbum de rock de uma banda que não faz rock do jeito que muitos entendem o gênero, mas é roqueira, sim.  

Tem tempo que a gente não fala aqui sobre o brasileiríssimo e um tanto quanto misterioso Babe, Terror. O projeto de um homem-só do paulistano Cláudio Szynkier, que a gente já chamou de “indie-do-indie-do-indie” por criar, produzir, gravar no estilo bed-fi, lançar, divulgar, ser próprio assessor de imprensa, fora emplacar notas altas na “Pitchfork”, soltou álbum novo, o denso e emocionante “Teghnojoyg”, por enquanto só no Bandcamp dele. Em longas músicas, Cláudio cria cenários complexos com narrativas que ficam sugeridas ao ouvinte. “Casa das Canoagens”, por exemplo, parece vir de um passado brasileiro remoto que é invadida por sons futuristas que quebram a paz da canção até se harmonizarem de alguma forma. Nessa onda, o que é passado e o que é futuro aí? O som das máquinas ou de um piano suave? Sem respostas óbvias, por favor. 

“Viajante, um mergulho entre o céu e a terra”, conta Luiza sobre o vídeo novo que ilustra a forte “Viajante”, canção de seu álbum “7 Estrelas | quem arrancou o céu?”. Nublado e misterioso, o filminho traz Luiza no papel da viajante que “encontra guardiãs encantadas que a guiam até o momento de sua transcendência”. 

Alô, interessados em pós-punk com fortes ares dos anos 80. O quarteto Inês É Morta é bem capaz de matar sua sede. A densa sonoridade da banda ainda ganhou mais textura com a participação de um especialista do gênero, o senhor Edgard Scandurra do Ira!.  

11 – Gabriel Milliet – “Silêncio Brutal” (6)
12 – Tássia Reis – “Ofício de Cantante” (7)
13 – Ana Frango Elétrico – “Insista em Mim” (8)
14 – Lúcio Maia – “Horas Iguais” (9)  
15 – Jaloo – “MAU” (10)
16 – Truno – “Blindar” (11)
17 – Pullovers – “Não Se Mate” (12)
18 – Don L – “Lili” (com Terra Preta e AltNiss) (13)
19 – Varanda – “Vontade” (14)
20 – dadá Joãozinho – “Pai e Mãe” (15)
21 – Karen Francis – “Linha do Tempo” (16)
22 – Lupe de Lupe – “Bruna” (17)
23 – Xis – “Arquiteto da Cabeça” (18)
24 – Bebel Gilberto – “É Preciso Perdoar” (19)
25 – Luísa Sonza – “Campo de Morango” (20)
26 – Gabriel Ventura – “A Queda para o Abraço” (21) 
27 – Leves Passos – “Atrás dos Olhos” (22)
28 – Luna França – “Gira” (24)
29 – Clarice Falcão – “Podre” (25)
30 – Xande de Pilares – “Diamante Verdadeiro” (26) 
31 – DJ K – “Isso Não É um Teste” (27) 
32 – FBC – “O Que Te Faz Ir para Outro Planeta?” (28)
33 – Garotas Suecas – “Todo Dia É de Mudança” (31)
34 – Mateus Fazeno Rock – “Pode Ser Easy” (32) 
35 – Lirinha – “No Fim do Mundo” (33)
36 – Ava Rocha – “Disfarce” (34)
37 – Zudizilla – “Tempo Ruim” com Don L (37)
38 – Terno Rei – “Mercado” (38) 
39 – Letrux – “As Feras, Essas Queridas” (39)
40 – Wilson das Neves e Rodrigo Amarante – “O Que É Carnaval” (40)
41 – Jadsa e YMA – “Mete Dance” (41)
42 – ÀIYÉ – “OXUMARÉ (Viridiana Remix)” (42)
43 – Rico Dalasam – “Espero Ainda” (43) 
44 – Troá! – “Que Pena” (44)
45 – Marcelo D2 – “Tempo de Opinião” (com Metá Metá) (45)
46 – Luisão Pereira – “Licença” (com Luíza Nery) (46)
47 – Ítallo – “Tarde no Walkiria” (47)
48 – Dj RaMeMes – “Vamo Fuder” (48)
49 – Zé Ibarra – “Vou Me Embora” (49)
50 – Rincon Sapiência – “XONA” (50)


* Na vinheta do Top 50, Gabriela Terra, a My Magical Glowing Lens.
** Este ranking é pensado e editado por Lúcio Ribeiro e Vinícius Felix.

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