Top 50 da CENA – Marcelo D2 estreia o ranking de 2023. Lurdez da Luz vem devastada em segundo. Kamau fecha o pódio da semana

Diferentemente da cena internacional, que já está pegando fogo, o Brasil sempre começa o ano em uma pegada mais leve. Foram poucos lançamentos nestes primeiros dias de 2023 e pouca coisa mexeu com a gente. Mas o que bateu bateu forte. Vamos para o primeiro Top 50 do ano renovando aos poucos nossa listinha. Quantas semanas vamos precisar até ter 50 boas músicas brasileiras de 2023 nesta lista? 

Após colocar o Planet Hemp de novo na praça, Marcelo D2 já anuncia uma nova fase em sua carreira solo. “Vem aí um disco novo de ‘afro samba digital’, como diz o Criolo”, anunciou o rapper. “POVO . DE . FÉ”, escrita com o professor, escritor, poeta e compositor Luiz Antônio Simas, é o bom prenúncio, com seu instrumental de samba superclássico trazendo um colorido do rap no acabamento. Na eterna procura da batida perfeita, D2 parece ter achado uma nova dosagem da mistura, dificultando mais saber de onde veio o quê. Fresco, ancestral e futurista. Trocando em miúdos, muito foda, viu? Ah, e por enquanto a música só está no Meta/Facebook. Já, já, nas plataformas, ela entra de corpo e cifras na nossa playlist.

Em um levada de forró com um delicioso acento nos graves, Lurdez da Luz levanta uma pergunta: “Você também já se sentiu, assim, devastada?”. O segredo está na continuação da pergunta: “Mas se refez do nada?” Todo bom brasileiro vai dizer que sim. De olho no íntimo e no público, Lurdez analisa esse relacionamento abusivo e joga luz no que se perde e no que precisamos mirar para sair dessa. “Agora temos a possibilidade de retomar um bom projeto de país, mas vale lembrar que metade da população está amarrada na máquina fake e essa é uma triste realidade para o Brasil”, escreve a artista.  

Em uma faixa rápida para abrir os trabalhos de 2023, Kamau entrega um beat sinuoso em uma letra que deixa a gente tortinho das ideias. “Fui além do que eu podia por menos do que eu mereço” é só um dos muitos versos da canção que fintam a gente, bom driblador das adversidades que é o rapper paulista. 

Essa foi uma que deixamos passar em 22. O rapper Sant fez um dos refrões mais viciantes do ano e que desce em ritmo alucinado na produção de LP Beatzz, artilheiros igual Bebeto e Romário mesmo: “Desde menor sei o valor dessas notas
E o que elas fizeram com a mente da tropa
Tento mudar isso de dentro pra fora
Ando descalço aonde tu não brota”

E, por falar em sons que deixamos passar em 2022, “Sal”, novo disco da Anelis saiu na confusão de dezembro e só agora conseguimos sacar com calma este belíssimo trabalho construído em uma forte unidades de muitos grãos, que é como o sal opera como condimento, não? Além de Mahmundi, que participa da nossa predileta, ainda temos por aqui, Céu, Jadsa, Luedji Luna, Larissa Luz, Thalma de Freitas, Dona Anicide, Josyara, Iara Rennó, Maíra Freita e Curumin. Sério, não é um festival, não, é a lista de convidados.

Só tem homem no afrobeat? Foi essa pergunta que a turma da Funmilayo Afrobeat Orquestra encarou em 2019, quando organizaram seu coletivo formado por mulheres negras e pessoas não-binárias. O nome da banda não é por acaso, Funmilayo Anikulapo Kuti, foi uma pioneira na luta por liberdade na Nigéria – com um plus, como o sobrenome entrega, ela é mãe de Fela Kuti, o pai do afrobeat. Com a emergência da pandemia, que apareceu pouco tempo depois da reunião do grupo, elas resistiram a esse longo inverno e do processo coletivo apresentam seu primeiro álbum, o maravilhoso “Funmilayo”, daqueles discos para ouvir do começo ao fim, sem pular faixas. O texto de “Wikipreta” coloca as ideias de forma objetiva: “A branquitude diz que são tempos sombrios, mas quando é que teve bom para nós, hein?/ Democracia fajuta que não escuta preto e se diz aliado quando convém”. 

TUM, o duo formado por Lovefoxxx e Chuck Hipolitho, estreou ao vivo no Popload Festival ainda sem música lançada. Mas isso é passado, eles soltaram enfim o primeiro single, a impressionante “Polychrome”. Levada por um baixo suculento, a música é um libelo do “faça amor não faça a guerra” de que todos precisamos: eles, eu, você e este país. Louco que quando a gente tá envolvido na música, pedindo por mais um versos… TUM. A música acaba. Ansiosos pelos próximos singles, discos, o que mais vier do TUM. 

O cantor mineiro JP, hoje mais paulistano que belorizontino, sintetiza em seu som novo o alargamento de possibilidades da CENA brasileira de música nova. Seu recém-lançado single, “Arroz de Polvo”, é uma música quase baiana, com uma letra de amor carioca, mas feita com a participação especial da banda Holger, de SP. A letra e a cadência dela nesse indie-axé é uma delícia. Deu até vontade de comer um arroz de polvo. Mentira!

Impossível não ouvir o novo álbum do WRY, essa instituição do indie brasileiro, e não imaginar várias delas tocando no rádio. A sonoridade pós-punk com uma pegada retrô/futurista associada a boas letras parece feita para conquistar audiências que mal sabem que esses caras de Sorocaba cantavam em inglês até um dia desses. Para não dizer que não falamos das flores, sacamos aqui para o Top 50 um momento mais dark do álbum e que talvez rádio nenhuma tenha coragem de tocar. Desafio feito.  

Em seu novo single, Tássia Reis detona em versos os que enxergam nas suas qualidades algo de rude. “Não vou me diminuir para caber nas expectativas de ninguém. E dou esse papo com uma pitada de deboche”, escreve a compositora. A produça musical espertíssima que junta drill, funk carioca e pitadas de samba é assinada por EVEHIVE – o refrão é daqueles feitos para pular na pista. 

11 – Der Baum – “I Got a Soul” (6)
12 – Marina Gasolina – “Looking through the K-Hole” (7)
13 – Luedji Luna – “Blue” (8)
14 – Assucena – “Menino Pele Cor de Jambo” (9) 
15 – Anelis Assumpção – “Uva Niágara” (com Larissa Luz) (10)
16 – Rincon Sapiência – “MAGIA” (com Menor MC) (11) 
17 – Rashid – “Linha de Frente” (com Amiri e Don L) (12) 
18 – Cidade Dormitório – “Aribé I” (13)
19 – BK – “Continuação de um Sonho” (14)
20 – Mundhumano – “Guerreiras Urbanas” (com Conceição e Flávia Carolina) (15)
21 – Sulamericana – “Dia Bom” (16)
22 – Gal Costa  – “Baby” (17)
23 – Dozaj – “Parede Alta Vista Curta” (18)
24 – Tuyo – “Sonho Antigo” (19)
25 – Russo Passapusso, Antônio Carlos e Jocafi – “Aperta o Pé” (20)
26 – Sci Fi – “Sixteen” (21)
27 – Planet Hemp – “Taca Fogo” (22)
28 – VHOOR – “Balinha da Alegria” (23)
29 – Pato Fu – “A Besta” (24)
30 – Lucas Santtana – “Vamos Ficar na Terra” (25)
31 –  Trupe Chá de Boldo- “Ouça Onça” (26)
32 – Gab Ferreira – “Laughing” (27)
33 – Joy Sales – “Signos Fincados” (28)
34 – Far from Alaska – “Olha (com Lenine)” (29)
35 – Djonga – “Até Sua Alma (com Tasha e Tracie) (30)
36 – Number Teddie – “Poderia Ser Pior” (31)
37 – Mestre Môa do Katendê – “Veía Coló (com Edgar e BNegão)”  (32)
38 – Janu – “Vey” (33)
39 – ÀVUÀ – “Bentivi” (34)
40 – Xênia França – “Ânimus × Anima (com Arthur Verocai)” (35)
41 – Giovanna Moraes – “Caixa de Pandora” (36)
42 – Do Amor – “Nefelibata” (37)
43 – Jup do Bairro – “Pelo Amor de Deize” (com Deize Tigrona) (38)
44 – Deize Tigrona – “Sururu das Meninas” (39)
45 – Luedji Luna – “Nova Deli” (com Oddisee) (40)
46 – Tulipa Ruiz – “Novelos” (41)
47 – Cecília Cecilina – “O Canto dos Sapos” (42)
48 – Vanguart – “Oceano Rubi” (43) 
49 – Chico César – “Bolsominions” (44)
50 – Spainy e Emicida – “Rap Pagode” (45) 

* Entre parênteses está a colocação da música na semana anterior. Ou aviso de nova entrada no Top 50.
** Na vinheta do Top 50, o rapper Marcelo D2.
*** Este ranking é pensado e editado por Lúcio Ribeiro e Vinícius Felix.

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