Top 10 Gringo – Weyes Blood domina o pódio com duas músicas. Special Interest cava a vaga que sobrou

Semana super \devagar lá fora. Será consequência da Copa do Mundo roubando a atenção geral? Esperto quem não tentou competir com o maior evento esportivo do planeta, mas teve sim quem lançou música (e boa música, diga-se) nos últimos dias. Tão boa que precisamos premiar logo de caras duas músicas do impressionante “And in the Darkness, Hearts Aglow”, álbum recém-lançado da norte-americana Weyes Blood. 

É viagem nossa pensar imediatamente na Joni Mitchell a partir da voz da Weyes Blood? Pelos textos dos estrangeiros, essa impressão parece até ser um lugar comum de tão inevitável. A própria Weyes fala em Joni quando é questionada sobre seu álbum favorito da vida: no caso, “Hejira” – que ela gosta pelo toque intimista. E é intimismo a palavra que resume bem “And In the Darkness, Hearts Aglow”. Vale pinçar um comentário da Weyes em uma longa matéria do jornal inglês “The Guardian” sobre querer colocar a música de volta na função de chave para a transcendência, próxima a um lugar mais sagrado – ou seja, oferecer ao ouvinte um pouco mais do que uma pilha de canções para serem consumidas em alta velocidade. Seu álbum fica mais do ouvinte a cada chance dada e é bom falar da vida real, das consequências do período da pandemia, do nosso caos. “A realidade costuma ser mais assustadora e esquisita”, diz Weyes, ao citar “Kids” como filme de terror em uma entrevista. Sendo assim, exploremos a realidade em delicadas canções.  

Frutos da mesma época, a disco e o punk não demoraram a se conectar, por mais que soassem antagônicos na sua origem. Por isso mesmo, talvez em 2022 não seja tão chocante o que Special Interest, banda de New Orleans, faz. Acontece que a dosagem de conexão entre punk e disco music que essa turma encontrou é brincadeira. Parece que nunca houve uma divisão. É tão divertido e maluco que a gente não ficaria surpreso se eles colarem o rock na parada de sucesso de novo. É questão de acharem a joia – ainda não explodiu.   

A instituição norueguesa Röysopp armou um belo retorno à ativa, com nada menos que três álbuns novos neste ano. A “banda de dance music”, como disse Boy Harsher na apresentação do Primavera Sound aqui no Brasil, fechou nestes dias esse terceiro capítulo da volta com “Profound Mysteries III”. “Stay Awhile” é o hit do álbum com seu toque oitentista modernoso – Pet Shop Boys ficou com uma invejinha de não ter feito esta. 

Com 19, a inglesa Dexter é uma das apostas mais quentes entre os novatos locais. Interessada em música desde criança, só começou a gravar suas coisas em 2020, durante a pandemia. Talentosíssima, o público acompanha ela sair das gravações caseiras feita no celular para trabalhos mais complexos e dançantes, aproveitando bem a onda retrô com a música eletrônica dos anos 90. “Something Real” balança ainda que não abra um sol – vale para uma caminhada em dia nublado.   

Após encontrarmos o Special Interest, caímos direto no post-punk dos nova-iorquinos do BODEGA, uma banda que tem até um filósofo na formação. Curtimos uma ideia dada pela turma: a geração atual não liga para gêneros musicais, a conversa é entre as canções e por isso eles não são apenas influenciados pelo rock. Papo interessante. “Statuette on the Console” tem até uma torta versão em português – é que a banda gravou ela em nove línguas e se lembrou da gente. Não dá para entender nada do que é cantado, mas valeu a intenção. 

Das bandas de rock mais legais que estrearam em 2022, o trio Nora Cheng, Penelope Lowenstein e Gigi Reece soltou um disquinho de sobras bem bizarro, que acompanha uma versão rara do álbum “Versions of Modern Performance”. No meio do caos, as herdeiras virtuais do Sonic Youth arriscam um Kraftwerk muito improvisado, caótico e barulhento. É uma brincadeira. E que brincadeira boa. 

E as sessões da nossa querida rádio KEXP em Buenos Aires continuam ajudando a gente a desbravar um pouco mais do som dos hermanos – que estão sofrendo com a Copa do Mundo, mas que contam com uma cena musical linda. A Marina Fages faz um som com gosto garageiro de um belo refinamento pop – um pouquinho de berro, um tantinho de melodias pegajosas. Ela teve a moral de abrir um show do Metallica na Argentina com um som bem longe do metal. Não é pouco. 

Ainda na Argentina, e garantimos que não é pelo clima de Copa, encontramos a Nicki Nicolle, que pode agradar muito quem pira na Rosalía. Pop muito do bem feito e que já deu alguns vôos para fora da América Latina – não é uma Anitta ainda, mas quem sabe, né? Estamos observando.  Título bacana brincando com as línguas, o desta música. 

A Billy Nomates é uma artista inglesa que a gente conheceu através do trabalho do Sleaford Mods. Sua rebeldia contra o que há de pior na Inglaterra (e de quebra, no mundo) por conta do neoliberalismo segue expresso nas suas novas canções, que devem estar presentes em “CACTI”, seu segundo disco – lançamento previsto para 19 de janeiro de 2023 (sim, 2023 tá aí). Esta “Saboteur Forcefield” é mais delicada e tal, mas o tema é auto-sabotagem, nada mais terrível nos nossos tempos. 


* Na vinheta do Top 10, a cantora americana Weyes Blood, com foto de Neil Krug.
** Este ranking é pensado e editado por Lúcio Ribeiro e Vinícius Felix.

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