Top 10 Gringo – Slowthai se sente bem no topo. Kali Uchis brilha em segundo. Angel Olsen vem de graça para o terceiro

UAU. Semanaça lá fora, hein? Dois discos do ano, no mínimo. Dois jovens artistas chegaram firmes em seus terceiros álbuns na carreira: o doidaço britânico slowthai e a poderosa latino-americana Kali Uchis. Cada um a sua maneira entregou aquele disco que parece solidificar de vez o que antes era só uma promissora carreira. É daqui para headliner de todos os festivais do mundo, alguém acha exagero? Sorte a nossa que Kali logo desembarca por aqui, como atração do Lolla-BR… Dito isso tudo, ainda temos novidades de Angel Olsen, Sleaford Mods, Fontaines… Parece que nossos favoritos resolveram trabalhar. 

Ah, as dores do amadurecimento – ou quase isso. Em seu terceiro álbum, o doidaço rapper inglês Slowthai investe em uma sonoridade mais roqueira para falar de sua terapia um tanto quanto fracassada, do egoísmo que pode ser prisão ou liberdade e das consequências de sua inconsequências e vícios, entre outros tópicos. É confuso? Opa. Mas também parece ser bem honesto com sua própria bagunça. Basta ver a explicação dele sobre a viciante “Feel Good”, um mantra pessoal antidepressivo. A repetição excessiva da música foi um jeito de pegar um recurso do pop de maneira tão brusca que deixaria a canção nada pop. Funcionou e não funcionou. O pop sabe sempre abraçar seu negativo. Você escreveu um hit, Slowthai. Parabéns. A “Pitchfork” achou fraca? Pena! A gente não só não achou como já tínhamos dado esta música aqui no Top gringo. E voltamos com ela de novo para um lugar mais apropriado.

Kali não está entre os headliners do Lollapalooza. Mas bem que poderia ser um dos nomes ali grandões no cartaz. Saiba, será vacilo demais ir ao festival e perder o show dela. Dona de uma supercarreira de bons discos ( “Isolation”, de 2018, e “Sin Miedo (del Amor y Otros Demonios), de 2020 ), Kali avança na sua construção sólida com mais um discaço. “Red Moon in Venus” é uma coletânea praticamente de viciantes, deliciosos e envolvente R&Bs – dá para se prender na nomenclatura do gênero: alternative R&B? neo soul? Isso importa lá na frente. Agora você vai apenas morar no repeat em “I just wanna get high with my lover”. I wish you roses and roses and roses, i wish you roses…

Você gostou de “Big Time”, álbum mais recente da norte-americana Angel Olsen? Então provavelmente vai amar seu novo EP que vem por aí. “Forever Means” reúne canções registradas nas mesmas sessões e que não tiveram fôlego para entrar no disco. Mas tudo indica que não será um mero conjunto de sobras. Olsen garante que essas músicas têm uma unidade particular:  “(É sobre) se manter curioso, não pensar que terminou de aprender ou explorar, ao mesmo tempo em que tenta ser gentil e honesto”. “Nothing’s Free”, primeiro single do EP, é um senhor musicão – com direito a belos solos de saxofone e órgão. A letra, nas palavras da autora, retrata aquele momento em que cai a ficha do tanto que você mesmo se limitava na vida. Já aconteceu com você? 

E aí, seus modinhas? Atenção para a reunião de três doidões: a dupla inglesa Sleaford Mods uniu força com Perry Farell, vocalista do Jane’s Addiction e o dono do Lollapalooza. Nesta música tão bizarra quanto viciante eles tiram uma onda com nossa atual obsessão de seguir qualquer tendência imposta pelas redes sociais e viver regulado por esses veículos que só querem nos vender qualquer tipo de coisa. Quando você der o play no vídeo da música, é outra maluquice, já que parece muito uma animação dessas geradas por inteligência artificial. Uma pesquisa a mais e você descobre que realmente o material foi feito por uma inteligência artificial. So trendy…  

Tem um trecho nesta música nova da cantora americana Indigo de Souza que lembra tanto “Whatshername” do Green Day, famoso lado B do bombado álbum “American Idiot”. E isso não é um problema. Na real, foi um dos motivos que fez a gente escutar repetidas vezes a música. “De onde é essa melodia? Já ouvimos antes.” Levou um tempo para juntar as peças, mas rolou. Escrita durante a pandemia, a canção da cantora filha de violonista brasileiro é muito sobre seu “estado emocional que parecia um cruzamento entre uma alegria delirante e uma verdadeira desesperança cansada”, no período que também marcou a primeira vez que ela morou sozinha na vida. Alguém mais teve essa experiência na pandemia? Pois é. A faixa fará parte do próximo álbum de Indigo, “All of This Will End”.

Todo mundo precisa escutar uma vez na vida Nick Drake. Cantor e compositor britânico que não fez muito sucesso quando lançou três álbuns entre 1969 e 1972. Drake morreu muito jovem e foi se tornando cultuado, aos poucos, muito anos depois. Sua curta e poderosa/melancólica obra acabou por se tornar muito influente e presente na cultura pop, especialmente entre os anos 1980 e 1990 – influenciando artistas ultrapopulares (pense em quase todo os pós-punk e indie) e sendo trilha de filmes famosos (alô, Wes Anderson). Agora uma coletânea reunindo versões de vários artistas jovens e uns veteranos (Self Esteem, Feist, AURORA, Bombay Bicycle Club, Feist, John Parish) para suas canções deve conectar Drake com mais uma geração. Excelente. Para ilustrar o papo, toma então o brilhante Fontaines D.C. fazendo Drake. O Nick.

Os filmes caseiros de Pôncio Pilatos… Que belo título para uma música arrumou essa instituição coletiva do indie canadense que é o New Pornographers, na função desde 1997. Não é de estranhar, né? Olha o nome da banda. De acordo com seu autor, A.C. Newman, a letra que de propósito é construída com versos que não parecem conversar entre si é uma crítica a nossa cultura online que corrompe a forma como apreciamos a arte hoje em dia. Feito de diversas formações e já com uma longa discografia nas costas, o New Pornographers prepara seu nono álbum de estúdio para o fim do mês – vai se chamar “Continue as a Guest”

Poderia ser só mais uma música do Metallica, mas entra para a história o modo como ela foi divulgada: a banda foi soltando pedaços dela através do Tik Tok, um instrumento por vez, numa interação típica da rede social dos vídeos curtos. Ao final da experiência, estava lá a música completa apoiada pela divulgação involuntária de diversas interações do fãs. Um jeito de pensar no coletivo da internet que quase faz a gente esquecer que são os mesmos tiozinhos que uma vez brigaram com a internet na época dos downloads via Napster… 

Tem alguma mágica na faixa “Found”, som que abre o álbum “One Day” dos canadenses do Fucked Up, banda de punk/hardocore ou post-hardcore. A música começa, lógico, aos berros, com o vocal afundando em um mar de muito barulho. Daí ela chega num refrão e num pequeno riff que soam enganosamente doces, já que a letra fale de coisas nada leves: “Nuvens brancas passam/
Sobre um país fundado em um genocídio”. A segunda parte do som é toda instrumental, como se resolvesse a canção ou desse um longo intervalo para refletirmos sobre a letra. Foda. Você mal acredita que três minutos antes estavam berrando de forma desesperada. 

Sempre é bom um vídeo para lembrar a gente de um bom disco. No caso, sempre soa válido retornar a “The Car”, o excelente álbum dos ingleses do Arctic Monkeys lançado ano passado. Contestada por alguns e já aceita pela maioria, ao que tudo indica a mudança de sonoridade do quarteto de Sheffield parece a cada audição mais e mais acertada. Especialmente numa favorita da casa, que é “Sculptures of Anything Goes”. Um vídeo reunindo imagens de turnê, o clichê do clichê dos vídeos de rock, nunca foi tão artístico quanto agora. E uma aleatoriedade: sabia que alguns versos desse som foram inspirados em um dos filmes do Indiana Jones? Fica a informação.  



* Na vinheta do Top 10, o rapper inglês Slowthai, em foto de George Muncey.
** Este ranking é pensado e editado por Lúcio Ribeiro e Vinícius Felix.

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