Top 10 Gringo – O discão-conceito de Jack White (Stripes?). Ainda o poderoso Childish Gambino no Pódio. E o Sports Team vem do futuro para ficar em terceiro

Quando o Top 50 começou, ainda em 2020, a gente não imaginava, por exemplo, que ia conseguir falar de música nova tipo de grupos como os Rolling Stones. Rolou, os caras lançaram álbum e tudo. Nesta semana, mais uma novidade impensável: falar de um disco sem nome, sem capa e sem título nas suas faixas. Ou seja, o primeiro lugar da semana ganha o simpático nome de “Terceira Faixa do Lado A”. Era assim que a gente falava de música quando não existia o Google, jovem. Gracias, Jack White.   

No mesmo ano em que uma capa de disco vira meme a ponto de superar o alcance da música contida nele, fica a ironia do senhor Jack White lançar um álbum sem nome, sem capa e sem dar título para as músicas. E sem anunciá-lo como lançamento. “Pior”: o disquinho só existe em vinil para quem compra itens nas lojas físicas da gravadora de Jack, a Third Man. Porém, a gravadora anunciou nas redes que está liberado  “RIP IT”, ou seja, ripar as músicas e jogar na internet – seja num saboroso arquivo FLAC ou em um arquivo podre de YouTube. O fã que lute para achar a melhor versão. A gente gostou bastante dessa que anda sendo chamada de “Dial Tone” ou pode ser lida como  “Terceira Faixa do Lado A”. É um Jack White dos bons tempos do White Stripes – tosquinho e cheio dos bons riffs e paradinhas. Será a Meg White na bateria? A gente defende essa tese – as dinâmicas e os timbres lembram tanto o duo, fora a inspiração que andava sumida nos discos de Jack, que vai que é um retorno secreto. Seria a cara da banda aprontar dessas. Por enquanto, anda sendo lido como Jack White solo… Mas ninguém “oficial” chegou e disse que é. O futuro dirá. Como a coisa não é fácil com Jack White, precisa ir aqui para ouvir a terceira faixa.

A gente até agora não entendeu se o filme é real ou não, mas o último álbum de Donald Glover realmente funciona com uma trilha sonora para “Bando Stone and New World”. Com a liberdade de não precisar ser um álbum em tese linear, Glover vai do rap mais tradicional a faixas com pegada emo e até violão e voz. Liberdade total para fazer seu filme. E, pelo que vimos, essa era a intenção. “As pessoas estão ouvindo e participando, imaginando as cenas”, disse Glover em entrevista ao Zane Lowe, famoso DJ da Apple Music, nosso conhecido. Se a ideia de vender o disco como trilha for mesmo um truque para forçar a imaginação das pessoas, ah, temos um golpe de gênio aqui. 

2025 já está aí. É o que os ingleses do Sports Team já estão olhando lá na frente: o terceiro álbum da banda, “Boys These Days”, está programado para fevereiro do ano que vem. Respeitando a proposta já superácida e irônica de trabalhos como o excelente “Gulp!”, de 2022, a ideia por trás do novo disco é uma “crítica e celebração a nossa economia da atenção e a superestimulação do mundo digital”. Já dá para imaginar o que vem por aí, não? Diferente do caos habitual, “I’m In Love (Subaru)” parece saída de uma rádio dos anos 80 com solo de sax e tudo. Engraçado e bom. 

Em uma entrevista, Gareth David, o vocalista dos Los Campesinos!, banda indie galesa que andava sumidona, sonhava com o mês de julho perfeito: vitória dos trabalhistas na Inglaterra, o triunfo da seleção inglesa na Euro e o lançamento do novo álbum da sua banda. Só faltou Harry Kane ser um pouco melhor na pontaria – de resto tudo deu certo. E deu tão certo que a turma dos Los Campesinos, que afirma ser a “primeira e única banda emo do Reino Unido”, nem parece que estava sem lançar disco há sete anos. “All Hell” é um senhor trabalho. Por mais que soe nostálgico, como algum indie perdido lá em 2006, o papo é atual. Pense na ironia de uma música que fala sobre juntar moedas para inserir em uma máquina de guilhotina automática. Eles estão falando dos nossos tempos e com a nossa perspectiva. Tanto que o trabalho foi produzido por eles e lançado por eles em selo próprio. É uma banda das antigas trabalhando à moda antiga. Antialgoritmo.  

Não é por acaso que o som do produtor norte-americano Shigeto é geralmente descoberto em uma playlist chamada “Late Night Vibes” no Spotify. O cara sabe produzir deliciosos sons conduzidos por graves maravilhosos – música eletrônica com muita influência de jazz. Em “The Punch!”, a história se repete acompanhada pelos belos vocais de KESSWA, uma garota que ainda tem menos de mil ouvintes mensais no Spotify – em breve, terá milhões com sua voz absurda. 

Se o Phoenix fosse uma banda dos Estados Unidos e tivesse influência de artistas emo, ele soaria exatamente como soa o Oso Oso, banda de um homem só tocada por Jade Lilitri, que vem de Long Beach, Nova Iorque. Precisa dizer mais alguma coisa? Amamos o som dos caras (ou do cara)… banda de um homem só sempre é difícil de definir. 

Voltamos a falar da Clairo depois de ver ela tocando esta “Juna” em um late night dos EUA. Um dos sons mais jazz do excelente “Charm”, seu novo disco, ficou uma belezinha ao vivo, em especial com a postura tímida e charmosa (pois é) da cantora e o realce em sua espécie de solo de sax ou trombone com a boca – que já acontece na versão do álbum. Em noites assim, se conquista a América e depois o mundo.  

Um ano sem disco novo dos australianos do King Gizzard & The Lizard Wizard seria assustador. Pelo menos um. Por isso que está previsto para agosto “Flight b741” – surpreendente o primeiro disco deles em 2024! E olha que já estamos em julho. Lógico que o álbum é mais uma virada na sonoridade torta do grupo – sai o metal espadinha e o eletrônico dos dois discos anteriores e entra um country meio pirado e superacelerado. Eles são capazes de tudo, você já sabe.  

E segue a divulgação do que será o último álbum da SOPHIE. O projeto é tocado pelo seu parceiro de trabalho e irmão Benny Long. Por que deve ser o último lançamento da artista? A promessa é que eles devem soltar somente o que SOPHIE desejaria ver em público. Já teve fã chiando com a esquista “Berlin Nightmare…”

Ki&T é uma dupla formada pelo norte-americano Kierra
“Kiki” Ezell e pela turca Togayhan “tnt” Tarim. Do encontro sai um R&B refinadíssimo. “PYH”, que significa Protect Your Head, tem uma bateria quase jazz e uma composição muito hip-hop. Simples, bem-feito, de coração aberto. Daquelas músicas que ajudam a despertar.  

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* Na vinheta do Top 10, o guitarrista Jack White.
** Este ranking é pensado e editado por Lúcio Ribeiro e Vinícius Felix.

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