Top 10 Gringo – Em qual planeta St. Vincent está? O Justice inimigo do fim. E o Iron & Wine em boa companhia. Esse é o resumo da semana

Resolvido o feriado bem no meio da semana, hora de encarar a música e dançar. Dias ideiais até o fim de semana para gritar, dançar, ver filme esquisito. Tudo enquanto aguardamos a Madonna.

Nascemos gritando. E desse momento milagroso muita coisa pode acontecer – do começo até o fim. “All Born Screaming” é justamente sobre o que encontramos pelo caminho. St. Vincent é uma pessoa que se permite – Taylor Swift, Dave Grohl, David Byrne já trabalharam com ela. São nomes que combinam? E nesse seu novo álbum ela apresenta um pouco de todos os seus lados – temos momentos experimentais, momentos roqueiros, momentos funkys e momentos reggae – como na ótima “So Many Planets”. Com tantos planetas por aí, diante do infinito, por que ser uma só a vida toda? Fica aí o grito de Annie Clark contra qualquer corrente que aprisiona nossas possibilidades.

A dupla francesa formada por Gaspard Augé e Xavier de Rosnay soltou seu primeiro álbum de inéditas em sete anos. E não dá para dizer que “Hyperdrama” não valeu a espera. Temos por aqui o que de melhor o Justice sabe entregar – um synthwave que dosa bem seu apelo pop e seus momentos bem esquisitinhos com quebras inesperadas da batida ou silêncios quase incômodos. Ao lado do senhor Tame Impala, a coisa fica fina demais. E, por mais que essa parceria soe do jeitinho que a gente imaginava – o que pode ser visto por um lado negativo, afinal quer dizer que soa óbvio -, ela é inegavelmente deliciosa e viciante. 

Sabemos que Fiona Apple não sai de casa por qualquer razão. Então, para Samuel Ervin Beam, mais conhecido como senhor Iron & Wine, ele precisava de uma boa desculpa. E a desculpa foi “All in Good Time”, suave canção sobre paciência e espera. Tudo vem na hora que há de vir. Pelo menos é assim que aprendemos a esperar pelas novidades da Fiona, né? Ou seja, essa música fala ao nosso coração: calma.

James Ford é conhecido pelo Simian Mobile Disco e talvez mais conhecido ainda por ser o produtor que sempre cuidou muito bem do Arctic Monkeys – James é integrante do projeto paralelo de Alex Turner, o The Last Shadow Puppets. Não surpreende que tenha rendido tão bem sua colaboração com a dupla Neil Tennant e Chris Lowe na feitura do novo disco, lançado sexta-feira passada. O Pet Shop Boys nunca soou tão fresco e tão clássico. “Loneliness” entra fácil em qualquer uma das mil coletâneas da dupla. Arriscar tocar ela sem avisar que é uma inédita. Passa fácil como clássico.

O irlandês Hozier já apareceu mais na Popload. Por algum motivo andou sumido – a gente não sabe ainda quem abandonou quem. Mas fato é que reatamos com ele ao ouvir a bela “Wildflower and Barley” , uma inédita sua com a cantora e compositora canadense Allison Russell, de longa trajetória no folk com diversos grupos e agora em carreira solo. Uma música bonita dessas, com um elegante piano elétrico que lembra até coisas do Doors, e que ficou de lado B do último disco do cara. Vai entender.

“Confidenza”, do diretor italiano Daniele Luchetti, tem um plot aparentemente simples: um casal recém-formado decide trocar um segredo entre si para terem uma união até o fim de seus dias. Cada um confessa ao outro algo inconfessável. Segredos compartilhados, o drama começa quando o relacionamento entre eles acaba. E é aí que a coisa já fica esquisita, basta ver o trailer. Para multiplicar a estranheza, o drama é amarrado por uma trilha original de Thom Yorke, que escreveu temas para serem interpretados em boa parte pela London Contemporary Orchestra. Sinta o esquisito deslocamento que “Bunch of Flowers” provoca – esses músicos estão afinados? 

Talvez você reconheça o sobrenome. Fabiana é filha de Pino Palladino, superbaixista que já gravou com Beyoncé, The Who, Eric Clapton, Ed Sheeran, entre outras dezenas de grandes artistas. Fabiana ficou dez anos na produção do seu primeiro álbum, uma promessa para quem sabia de seu talento – igual o pai, ela também acompanhou diversos artistas em turnê. Seu perfeccionismo saiu do papel no brilhante álbum de estreia que simplesmente leva seu próprio nome. Não é um som que dá para colocar em uma caixinha… É um pop classudo, que lembra suas principais influências: Janet Jackson, Chaka Khan, Kate Bush… Confia.  

Velha queridinha nossa, o quinteto de Syracuse, New York, traz novamente à tona o que chamamos de indie-violino. Sem lançar nada há cinco anos, ou seja, desde antes a pandemia de 2020, o grupo tem na produção deste novo single o ex-Vampire Weekend Rostam Batmangli. Coincidência ou não, eles abrem alguns shows do Vampire nos próximos meses. Por enquanto, a música nova não é indício de disco novo, na estrada eles celebram os 15 anos do lançamento de “The Rhumb Line”.

No feriado, fomos escutar decentemente o “Daniel”, disco mais recente da turma americana do Real Estate, que foi lançado em fevereiro deste ano. Faz pouquíssimo tempo, mas a avalanche de lançamentos sempre tirar nossa atenção de tudo, né? Escutando com mais paciência impressiona o cuidado com que correm pelo álbum as melodias no jogo de guitarras – fora o constante pensamento que vem a cada música: esta geração tem seu R.E.M, mas talvez ainda não saiba disso.

Eles conseguiram de novo. Depois de um bem-sucedido cover de “Murder on the Dancefloor”, a dupla australiana Royel Otis viralizou de novo com mais uma versão. Desta vez, deram seu toque único para a marcante “Linger”, dos Cranberries. Meu, tem algo na voz preguiçosa desse Otis Pavlovic que deixa tudo muito cool – repare que ele mal abre a boca. E fica lindo.

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* Na vinheta do Top 10, a cantora e guitarrista americana St. Vincent.
** Este ranking é pensado e editado por Lúcio Ribeiro e Vinícius Felix.

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