Top 10 Gringo – Da nova da Lady Gaga a “Wonderwall” metal, semana traz ode(s) aos pets e a SP do Weekend, entre outras muitas músicas de destaque

Um pouco de pop radiofônico, um pouco de pós-punk bizarro, um negócio fino de dance inglesa e umas doses de country e folk para segurar a onda. Está assim o nosso ranking da semana, que viu o Grammy com parcimônia. Lady Gaga, animou, já o nosso amigo The Weeknd, será? Na dúvida, tem “Wonderwall” em versão metal, que pelo menos o Liam Gallagher parece ter gostado bem.

Não tem termômetro melhor para qualquer música do que os comentários no YouTube. E o primeiro papo da galera sobre “Abracadabra”, nova da Lady Gaga, diz tudo: “Lady Gaga do velho testamento é tudo que precisamos”. E é exatamente aí. Gaga volta à sonoridade de “The Fame”, em 2009. Recuperou até os “ooh-ga-ga” de “Bad Romance”. É desinteressante? Longe disso. Mas fica parecendo mais um desejo dos fãs do que da artista, notoriamente interessada em se arriscar mais, mesmo que para quebrar a cara – vide “Coringa 2”. Muito chato da nossa parte? Nós também vamos dançar, tá tudo certo. 

O duo inglês Benefits exibe orgulhoso um elogio de Steve Albini no topo de seu material de divulgação: “Eu amo pra car*lho o Benefits”, cravou Albini. Precisa de mais? A duplinha que faz seu punk eletrônico em moldes que lembram o doidaço Sleaford Mods, prepara o seu segundo álbum, “Constant Noise”, e o single “Divide” adianta o clima da obra, pesando mais ainda a mão na música eletrônica e na falação – eles curtem tanto hablar que o vídeo da música é metade eles tocando a música e outra metade dando uma entrevista (!!!). A letra é uma pancada no clima de guerra da sociedade britânica, uma divisão que está deflagrada no mundo todo, com porções de gente lucrando com o ódio alheio. 

Sexta-feira chega o esperado “Cowards”, terceiro álbum dos britânicos do Squid. “Cro-Magnon Man” surge como última prévia, uma mostra do experimento que vem por aí, com o quinteto soando mais solto, mais experimental, menos preso aos limites da banda de rock. Tanto que essa faixa nova poderia ser descrita como sons se desfazendo ao redor de uma linha de baixo que acompanha uma letra quase incompreensível. Que tal?  

Amiguinha das garotas da Boygenius, inclusive atração de abertura da próxima turnê da Lucy Dacus, Jasmine é a líder do quarteto feminino britânico Jasmine.4.T, de Manchester, que recém-lançou seu primeiro disco pelo selo da Phoebe Bridgers, o Saddest Factory. Entendeu tudo já? Agora, no hiato das meninas genius juntas, porém em sequência solo, a banda inglesa tem tudo para conquistar o coração inclusive das fãs americanas. E um single como esta “Guy Fawkes Tesco Dissociation”, mais agitadinha que triste, é um bom começo.

“Hallucinating Love”, terceiro álbum do duo britânico, lançado com destaque na semana passada, traz um refinamento naquela estirpe de som “inteligente” inglês, classudo, dançante na medida, som cheio e com camadas que ao vivo faz a dupla virar um sexteto, da escola da qual o Jungle é um aluno recente, por exemplo. Cool até a medula, esta “Bloom” é uma boa porta de entrada se o Maribou State ainda não te chamou a atenção. Dos ingleses já obviamente chama bastante, uma vez que eles lotam lugares “de respeito” na cena britânica, tipo a tradicional casa Brixton Academy.

Para trazer um sol para a lista, vale sacar a dupla Sacred Paws formada por Ray Aggs e Eilidh Rodgers. Elas não lançavam nada havia seis anos. O duo composto por guitarra e baterista parece buscar só a alegria. Riffs agudos e acelerados por uma bateria que te sacode. Quem tem saudade do Vampire Weekend do comecinho vai se amarrar nas patas sagradas. 

Falando em pets, sol e músicas mais leves, que tal uma música que é só uma cartinha de amor para o seu cãozinho? Foi o que Torres fez em “Sylvia”, que fala da saudade de deixar seu bichinho em casa enquanto precisa pegar a estrada, sabendo que “um dia para mim, é uma semana para você”. Muito fofo esse encontro country da Julien Baker com a Torres. “Send a Prayer My Way”, o disco completo, sai em abril.  

O Bring Me the Horizon, banda algo metal da terra do Arctic Monkeys e do quase brasileiro Oliver Sykes, encarou a missão de transformar a lenta e doce “Wonderwall” em uma música com a cara da banda. Da banda deles, não do Oasis, sublinhando. Ou seja, dar um banho com guitarras ridiculamente altas e muito berro. Funcionou. A versão estourada do clássico dos Gallagher agradou o difícil Liam. Imaginamos que talvez seja só para irritar o Noel.  

Waxahatchee, a persona musical de Kathryn Crutchfield, não levou seu Grammy na categoria “americana”, mas mesmo assim soltou Mud”, lado B do seu excelente “Tigers Blood”, lançado ano passado. Lembra que a gente falou que 2025 é o ano do Bob Dylan? Ela está no time que fará parte junto com Bob do Outlaw Music Festival deste ano. Itinerante, o festival percorre várias locações dos EUA a partir de maio. Chique.  

Pensando na economia da atenção, os artistas cada vez mais parecem apelar para tudo o que possa capturar um pouco tanta gente superocupada com outras coisas. Daí, toma turnê de despedida, turnê da volta e tudo mais. Mas como dar uma pirueta retórica dessas com 30 e poucos anos? Eis que o conhecidíssimo The Weeknd resolve matar sua persona artística, voltar a ser Abel – um jeito de sair de cena sem ter que sair de cena. E aí que a coisa fica confusa de verdade. Para ser outra pessoa, ele fez um disco com 22 músicas soando como seu “velho eu”. Faz sentido? Em todo caso, temos Anitta falando em bom português para a turma: “O novinho me olhou e quis comer minha pepequinha”. Joga no translator aí, amigos internacionais. Essa é nossa revanche.

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* Na vinheta do Top 10, a megastar americana Lady Gaga.
** Este ranking é pensado e editado por Lúcio Ribeiro e Vinícius Felix.

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