Top 10 Gringo – Caroline Polachek domina o ranking. Rihanna traz um brasileirinho para o top. E Lana Del Rey, claro

Se na semana passada foi um sofrimento decidir o que colocar e o que tirar do Top 10, nesta semana foi ainda pior. De fato, a galera decidiu lançar tudo ao mesmo tempo e boa sorte aos jornalistas que ousarem entender um pouquinho de tudo. Mais sorte ainda aos fãs, que arrumem tempo para curtir tudo o que gostam na intensidade merecida. Você, caro leitora ou leitor, fica com o mel aqui neste Top 10, que vai te poupar horas de pesquisa por música boa, já que está tudo de bandeja aqui. Nem que a gente deixe algumas coisas para servir semana que vem. E no fim do ranking tem duas grandes homenagens, necessárias

Um dos nomes mais queridos da edição brasileira do Primavera Sound do ano passado, Caroline Polachek prometia um discaço e no fim entrega tudo e um pouco mais em “Desire, I Want to Turn into You”, seu álbum, lançado nesta semana. Foram cinco (!!!) bons singles mostrados até aqui, uma divulgação forte – quem segue ela no Tik Tok deve ter sido “impactado” – e até um movimento que indicava que os fãs das mais tristinhas da Caroline teria que lidar com um pouco de alegria e desejo. Ou, fogo e paixão, como já cantaram por aí. Apaixonada a ponto de ligar para outra pessoa sem ter o que dizer – quem já fez isso? E isso é só um aspecto do álbum, em música que já contemplamos aqui mesmo no Top 10, mas volta ao ranking de um modo mais robusto. Falaremos mais de Caroline Polachek em breve. 

Esta poderia ser uma música da CENA, talvez, mas é a Rihanna, vamos contar aqui. Durante sua apresentação no Super Bowl desfilando um número absurdo de clássicos, “Rude Boy” apareceu em um remix de funk brasileiríssimo. Foi preciso alguns minutos só para descobrirem que se tratava mesmo de uma produção brasileira do baiano DJ Klean. Com apenas 20 anos nas costas ele emplacou no maior evento do mundo sua mistura feita, acredite, despretensiosamente. Combinou com o estilo da Rihanna, a diva pop mais relax do mundo, e rendeu a vibração mais intensa do estádio. Partiu conquistar o mundo. A música não é “achável” nos streamings, então fica aqui a passagem a ela para o Youtube.   

A reclamação clássica há um tempo a cada lançamento da Lana Del Rey é uma certa mesmice em suas produções. Só que essa reclamação não cola com “A&W”, novo single do aguardado novo álbum, “Did You Know That There’s a Tunnel Under Ocean Blvd”, que sai no final de março. A faixa tem mais de sete minutos e ousa ao passear do sussurro folk até uma estridência eletrônica, quase um trap. Dividida praticamente em duas, a música parece também tratar de dois assuntos diferentes que convergem: 1 – uma  retrospectiva de sua carreira e suas diferentes fases; 2 – a perda de uma certa inocência sua ao longo destes anos todos. A faixa pode ser lida como uma crítica à indústria cultural, que cobra caro o envelhecimento das mulheres.  

Após um hiato de seis anos, o retorno do Paramore com o álbum “This Is Why” pode pegar de surpresa muita gente desatenta com a evolução da banda nos últimos anos. Tem tempo que eles não são só uma mera banda emo adolescente e “This Is Why” evidencia o estudo – só lembrar que Hayley Williams, líder do grupo, tocou na BBC um programa que investigava as raízes do emo. Chamado “Everything Is Emo”, a conclusão do programa é que tudo o que interessa na música passa pelo emocional. E em geral essa carga emocional demanda uma difícil sinceridade nas letras, um ponto forte do álbum. “You First”, com seu curto e insistente riff, fala sobre lidar com dificuldade com o bem e o mal dentro de nós. Como lidar com esse difícil diálogo interno? 

A inglesa Jessie Ware está com tudo. Quem a viu ao vivo no Brasil no ano passado sabe do que estamos falando. Mais mergulhada na disco do que nunca, “Pearls” vem para manter a energia lá em cima. Single do seu próximo álbum “That! Feels Good!”, a ser lançado em 28 de abril, a faixa parece uma mistura finíssima de ABBA com Chaka Khan, dando a devida proporção.  

E, por falar em músicas que batem os sete minutos, a Lana ganha a companhia do Yo La Tengo, que apostou em músicas bem longas em seu novo álbum, nada mais nada menos que o de número 17 na carreira de Ira Kaplan, Georgia Hubley e James McNew, recém-lançado. Feito à moda antiga, bem esquema de garagem, todo mundo numa sala ao mesmo tempo, o disquinho vibra diferente. Do jeito que nós, velhos indies, curtimos. 

E quando a gente corria para fechar o top gringo da semana a canadense Feist chegou com três musicões do nada – ela, que também tava relativamente sumidinha desde 2017, vem de disco novo já em abril. O álbum se chamará “Multitudes” (seria referência ao poeta Walt Whitman?). Tudo indica que, em sua primeira jornada solo pós-pandemia, Feist quer rever seu lugar no mundo. “Nesse processo de rever tudo, a chance de se amparar em um lugar mais saudável, mais honesto, se tornou possível”, declarou a compositora.  

Parece nome de bot do Twitter, mas talvez você conheça jonatan pelo nome de Yung Lean. Em seu projeto paralelo, o suíço se arrisca numas loucuras mais ambiciosas – leia-se, usar sample sem avisar o dono da música. Só reparar nessa que pega um riff superóbvio de Kiss, mas utiliza de maneira esperta – fica engraçado. Que não chegue no jurídico. 

Não tem muitos dias que falamos por aqui da nossa empolgação com a notícia de que a discografia do De La Soul, das maiores bandas de rap de todos os tempos, finalmente ia chegar ao streaming. Algo comparável para muita gente a, sabemos lá, quando a discografia dos Beatles apareceu no streaming. A empolgação virou tristeza com a notícia da morte de Trugoy the Dove, fundador da banda, 1/3 do trio mágico. Partiu jovem de tudo, ainda com 54 anos. Era sabido que ele tinha uma questão séria no coração, mas a causa da morte ainda não foi divulgada.

Perdemos também neste período o grande Burt Bacharach, esse aos 94 anos. Pianista e compositor, Bacharach se notabilizou pelo número gigante de hits escritos ao longo da carreira, em uma amarração muito particular de sofisticação quase clássica com um tempero pop. Tanto que foi gravado por todos os gigantes – Beatles, Aretha. Mas fiquemos com a versão de uma banda próxima a nós.

* Na vinheta do Top 10, a cantora americana Caroline Polachek.
** Este ranking é pensado e editado por Lúcio Ribeiro e Vinícius Felix.

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