Top 10 Gringo – Carly Rae Jepsen na ponta. Hot Chip emplacando o segundão. Kokoroko metendo afrobeat no top

Semana curiosa. Não foi lá muito rica em álbuns, mas preenchida de singles. Muitos singles! Por um momento a gente ficou em dúvida do que ia entrar, separando artistas pouco conhecidos na falta de lançamentos gigantes. Até que começamos a tropeçar em canções soltas lançadas por nomes enormes, do pop de Carly Rae Jepsen ao rock de arena do Killers… Mas ficou um espaço reservado para os novatos – muita atenção ao indie bem-humorado de Los Angeles representado pelo Cheekface e ao afrobeat do século XXI dos ingleses do Kokoroko. Vamo que vamo. 

Tem DEZ (!!!) anos do hit “Call Me Maybe”, lembra? Foi com esse som que a canadense Carly Rae Jepsen conquistou o mundo. Quem via nela só esse grude irritante, se rendeu nos anos seguintes a dois álbuns excelentes e mais adultos, “Emotion” e “Dedicated” – mais Haim, menos Bieber. E essa deve ser a toada do seu próximo disco, “The Loneliest Time”. Como o nome indica, um álbum feito durante a pandemia e que deve explorar muitos universos sonoros. Pelo singles até aqui, dá para sacar um pouco. Da ensolarada “Beach House”, seu mais recente single, ao entardecer de “Western Wind”, acertada parceria com Rostam Batmanglij, ex-Vampire Weekend – aliás, está aí uma música que ficaria bonita no repertório de sua antiga banda.    

E a semana ficou muito melhor com o anúncio de que o Hot Chip desembarca no Brasil, encostadinho com a Copa do Mundo em novembro e com novo álbum, “Freakout/Release” já nas pistas até lá. Por enquanto, resta aproveitar mais um single, no caso, a faixa-título do disco. “Freakout/Release” contrasta bem com a doce “Eleanor”, nosso single favorito até aqui. Na ideia do vocalista Alexis Taylor, este som é “sobre energia reprimida e a necessidade de fuga”. Escute tendo em mente que eles elaboraram o riff da música com “Seven Nation Army” em mente. Virou outra coisa, mas é um estudo interessante. 

A gente não conseguiu encontrar nos arquivos, mas é quase certeza que já falamos por aqui desta excelente banda inglesa de afrobeat e highlife que solta seu primeiro álbum após um longo período de expectativa. Desde 2019, quando começaram a bombar a partir de uma coletânea do radialista Gilles Peterson, muitos esperam pela estreia do Kokoroko. “Could We Be More” cumpre a promessa, especialmente do desejo da banda de não ser um grupo que homenageia os clássicos do gênero. Não é uma volta ao passado, é a criação do futuro. A busca do grupo é trazer ensinamentos de mestres como Fela Kuti, Tony Allen e Ebo Taylor para o século XXI. E conseguem, viu. 

Ainda que Beyoncé tenha jogado um pouco a música pop para um retorno a música eletrônica dos 1980, após uma febre de revival do disco setentista no gênero, a inglesa Jessie Ware, dona de um dos melhores álbuns de 2020, “What’s Your Pleasure?”, mostra que ainda há um pouquinho de disco que faz sentido nos anos 2020. “Free Yourself” é um delicioso hino a liberdade: “Você tem um nome, não é um número (…) não se esconda, liberte-se”, canta Jessie. Atenção que vem discão por aí, se ela tiver mais dez ou nove nesse naipe. 

Se quiser continuar no balanço, caí como uma luva a nova dos ingleses do The 1975. Em geral mais ligados ao rock, em músicas mais quadradinhas, aqui eles investiram em tentar algo ligeiramente diferente – suingue, de inglês, é verdade, mas ainda assim um suingue. Se o Harry Styles escutar, vai ficar com uma invejinha. No fim é massa e deve ter o solo de sax mais legal do ano. 

Seria um pecado não incluir mais uma da Beyoncé no nosso Top 10, só porque o álbum é da semana passada. Se ela liderou nossa lista anterior, a gente segue amando “RENAISSANCE” e uma de sua mais pegajosas faixas, onde Queen B passa pelos altos e baixos da carreira para declarar que nunca esteve tão bem:  “Confortável na minha pele/ Aconchegante com quem eu sou/ Eu me amo”.

Tipo Wilson Simonal, a turma dos ingleses do Sports Team “vai deixar cair”. “The Drop” é uma daquelas bombas bem-humoradas da banda que mira na nossa incapacidade atual de simplesmente viver o momento. “Gulp!”, novo álbum deles, já deveria estar por aí, mas atrasou por questões de produção. A expectativa é que role ainda neste mês. Vamos ver. 

Olha, fazia tempo que a gente não lia uma resenha tão cruel com um disco. O “Guardian” detonou “Funk Wav Bounce Vol. 2”, novo álbum do Calvin Harris. Para uma das músicas, a publicação comenta: “A produção é tão sonolenta que tudo soa fora do ritmo”. O texto é engraçado e tem lá sua razão de ser, mas o álbum não é tão péssimo assim. Esta com a Dua Lipa e o Young Thoung vale à pena, por exemplo. Mas é aquela ideia: se o Vol.1 desta série revigorou a carreira do DJ, este segundo volume não acrescenta tanto. 

Outra banda que vai tocar no Brasil em breve, aliás encabeçando o mesmo festival que o Hot Chip, o Killers soltou um single de uma música que parece ter ficado pelo caminho na construção do conceitual “Pressure Machine”, lançado no ano passado. Brandon Flowers, vocalista da banda, conta que “boy” foi a primeira música escrita por ele quando a pandemia estourou e forçou que a banda cancelasse uma longuíssima turnê. Perto dos filhos, escreveu sobre sua mocidade. “Dê a você algum tempo”, ele canta, enquanto relembra uma adolescência um tanto quanto tediosa no interior.  Para fãs do Erasure.

Das coisas de descobrir bandas, a gente ficou meio de cara com esse Cheekface e foi ver quem mais já estava sacando eles. Topamos com o trio de Los Angeles em uma entrevista no site do nosso parça Mac, o “Scream & Yell”. Conhecidos pelo humor sempre em dia, isso fica provado no papo com Bruno Capelas quando o vocalista Greg Katz solta a maravilhosa frase: “Minha terapeuta acha muito legal que o Cheekface tem fãs”. Realmente, Greg, e possivelmente esse número deve aumentar com o excelente álbum novo da banda, “Too Much Too Ask”, o terceiro disco deles em quatro anos.  


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* Na vinheta do Top 10, a cantora canadense Carly Rae Jepsen, em foto de Meredith Jenks.
** Este ranking é pensado e editado por Lúcio Ribeiro e Vinícius Felix.

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