Top 10 Gringo – Aquela banda em primeiro. K-pop style em segundo. Aquela daquele filme em terceiro

Já viram “Barbie”? Já ouviram o novo do Blur? Semana agitada na cultura pop. E triste também com a partida prematura de Sinéad O’Connor. Se o disco de Damon Albarn e cia já tinham colado uma dose de melancolia e retrogosto noventista no ar, perder Sinéad deixou quem viveu essa época zonzo de vez. Mas seguimos. 

Ok, o Blur estressou a gente com sua conversa mole sobre o show no Brasil – os senhores foram convidados, sim. Mas nossa irritação ficou menor com o lançamento de “The Ballad of Darren”, um álbum de retorno que como quase todos de sua espécie não muda o mundo, mas oferece uma coleção de boas músicas – até porque os principais compositores da banda estavam em forte atividade nesse longo intervalo entre álbuns. Ao refletir sobre envelhecimento e o mundo atual, é até fácil para um mestre em melancolia como é Damon Albarn fazer coisas inspiradas. A introspecção de “The Narcissist” talvez seja péssima para os shows, mas é uma boa música para tocar em qualquer caminho de volta para a casa após um dia de trabalho – aos fazedores de home-office, uma trilha para tomar um ar. Nem interessa tanto o texto, que parece ser um lamento de um egocêntrico levemente arrependido – o próprio Albarn. Em geral, Blur já cantou sobre um futuro vendido em “The Universal”. Se fazia sentido no distante 95, imagina agora. Como que o mundo acaba e ainda estamos por aqui? É uma questão de tirar o sono mesmo. 

Rolou um meme comparando a nota alta que a queridinha Pitchfork deu para o álbum do grupo de k-pop NewJeans com a nota baixa de “Yellow Submarine” dos Beatles. Seja lá qual for a intenção do meme, a gente acha que faz sentido a nota elogiosa. “Get Up”, com sua bem sacada capa que coloca o quintento como Garotas Superpoderosas, é cheio de músicas interessantes. “ASAP” poderia muito bem ser algo do Kevin O Chris com seu beat cheio de espaços vazios vazio e a sugestão de um drop que nunca vem. Espertíssimo. 

Se o filme do ano é “Barbie”, da diretora Greta Gerwig, é justo que uma das músicas da semana seja a composição de Billie Eilish para o longa cor-de-rosa. A letra dolorida que pergunta “Para Que Eu Fui Feita?”, em tradução livre, já dá a deixa de que o filme da boneca talvez seja mais complexo do que muitos ousam imaginar – pela reação que anda rolando, é por aí mesmo. O que fazer quando seu “mundinho”, sua realidade, desaba e outro mundo se apresenta? Billie fala da personagem e parece também falar de si, do seu processo de amadurecimento. Em um papo sobre a música, ela antecipou que daqui em diante pensa bastante em só fazer na carreira aquilo que faça sentido para ela. E a composição para o filme tem forte relação com a decisão. Interessante. 

Por falar em filme, o gigantesco Hayao Miyazaki, autor de obras como “A Viagem de Chihiro” e “Ponyo”, está com um novo longa, o primeiro em dez anos! “The Boy and the Heron” já saiu no Japão com uma estratégia de marketing bacana: não tem qualquer divulgação! Mas tem essa bela música do compositor japonês Kenshi Yonezu para dar uma ideia do que pode ser o último filme de Miyazaki, que com 82 anos talvez se aposente após esse lançamento.

Será que temos a música do verão do Hemisfério Norte? “Rush” tem clima de ser esse hino. E a velocidade de sua popularidade talvez confirme o prognóstico. Quem só lembra do Troye que pintou no Lollapalooza em 2019 vai ser surpreender com o amadurecimento do rapaz. E as novas cores do seu visual, menos dark agora. A faixa é uma ode à pegação muito despreocupada e chega cheia de segundas intenções na letra, com menções sutis a drogas e tudo o mais. Quentíssimo. E o vídeo é um show por si só, com coreografia e tudo.  

Fica na nossa mente a recepção calorosa que o Brasil deu para Mitski em sua apresentação por aqui na primeira edição do Primavera Sound, no ano passado. Deu a dimensão do quanto sua música é importante no mundo hoje. Saber que ela em setembro lança “Watch the Land Is Inhospitable and So Are We”, sucessor do incrível  “Laurel Hell”, de 2022, é de deixar qualquer um muito empolgado, especialmente porque mostra de vez a disposição da compositora em seguir gravando – algo que tinha ficado em dúvida em 2019. Ao violão, com direito a harmonias vocais, Mitski esbanja sinceridade em versos reveladores: “Às vezes um drink parece um familiar”. 

Que música viciante! A estreia solo da vocalista do The xx promete demais. “Mid Air” sai no começo de setembro, mas já acumula quatro singles – que inclui um potencial hit com Fred Again.., “Strong”, e essa apaixonante e apaixonada “The Sea”, que parece dedicada a sua esposa, a diretora e fotógrafa Vic Lentaigne.

Se tem uma coisa que o fã de Big Thief não pode reclamar é o número de músicas que a banda lança – dois discos por ano, discos duplos. Eles capricham. Ainda assim, “Vampire Empire” virou uma favorita dos fãs, sem ter qualquer registro oficial. No máximo, vídeos de YouTube. Mas a banda acabou com isso e fez uma versão definitiva de estúdio. Esperamos pelo disco triplo. 

“Kill Bill”, da SZA, vai estar na sua lista de melhores sons do ano? Imagino que sim, já que é uma das músicas mais tocadas neste 2023, com merecimento. Dito isso, curioso notar que “Snooze”, que é uma faixa quase-irmã de “Kill Bill” na batida, além de assumir o posto de segundo som mais popular do álbum “SOS”, foi capaz de derrubar “Kill Bill” do número um da “Billboard” na lista de R&B da publicação. Em outras palavras, só a SZA para ser melhor que a SZA em 2023. 

Sinead O’Connor tinha coração. Mas diferente de muitos de nós, era fiel a ele. Isso transparece nas suas interpretações, na alma que colocava em cada nota. Uma capacidade técnica absurda em função de dizer sua verdade. Nada além disso. Coração que falou alto também nas atitudes que tomou ao longo da vida. Abriu mão de todo o sucesso possível para fazer o que acreditava. Era cantora de protesto. Não teve vida fácil depois da fama, mas já não era fácil antes dela – e não foi simples também após seu “cancelamento”, para usar uma palavra que não “existia” em 1992 – quando rasgou a foto do Papa em um “Saturday Night Live”. Sua dor mais recente foi a perda de um filho superjovem. Entre tudo o que escreveu, ficou mais conhecida por sua versão para uma música do Prince. Poderíamos pinçar essa aqui. Mas em 1994, ela homenageia Kurt Cobain regravando “All Apologies”. Fiquemos por aqui. All in all is all we are.

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* Na vinheta do Top 50, Damon Albarn, vocalista do Blur.
** Este ranking é pensado e editado por Lúcio Ribeiro e Vinícius Felix.

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