Semana clássica por aqui. Quer dizer, por coincidência, duas faixas que se chamam “Classical” entraram na lista. Mas para destoar dos nossos, hum, clássicos elogios semanais para as dez melhores músicas internacionais da semana, resolvemos criticar uma música bem maleta de um carinha aí. Não vamos falar quem é. Tem que ler tudo!
Autora prolífica, Adrianne Lenker escreve muito para sua banda, o Big Thief, e para si mesmo. Dá para dizer que ela tem uma longa carreira solo – apesar de só ter 32 anos, lançou seu primeiro disco com 14 (!!!). E com centenas de canções para chamar de sua, descreve a recente “Free Treasure” como uma das prediletas de todos os tempos. A música descreve um relacionamento apaixonadíssimo em que tudo está no lugar. “Você me mostra/ Compreensão/ Paciência e prazer/ Tempo e atenção/ Amor sem moderação”. Em leituras mais abertas, pode ser entendida como uma boa relação com a natureza ou com uma rotina que escapa da ansiedade. Uma leitura que súper faz sentido quando descobrimos que o novo álbum solo de Adrianne, “Bright Future”, que sai nesta sexta-feira, foi todo produzido de maneira analógica, nadinha de computador ou celular por perto para distrair. Não vemos a hora de pegar essa maravilha nos ouvidos!
O Vampire Weekend soa clássico em seu novo single, mais uma prévia de “Only God Above Us”, a ser lançado no comecinho de abril. Mas o tema da música não é a reverência ao passado, pelo contrário. O refrão levanta o questionamento: “Como a crueldade, com o tempo, se torna um clássico?”. A alfinetada parece ser em direção a falsificação histórica que transforma assassinos em heróis ou as histórias de opressão e genecídio que se tornam cruzadas civilizatórias. Um papo-treta tratado com uma leveza arrepiante.
Com esse título inusitado e em português para uma música em francês, chamou nossa atenção a turma do L’Impératrice. O sexteto de Paris é novinho, embora já esteja para completar dez anos ano que vem. É que eles estão crescendo aos poucos, indo das linhas quase invisíveis no pôster do Coachella em 2022 para um lugar de destaque no mesmo festival este ano! Delícia de som que deve bombar. Dá uma atenção aqui, Dua Lipa!
Colin Meloy e sua turma do Decemberists preparam um novo álbum! “As It Ever Was, So It Will Be Again” é o sucessor de “I’ll Be Your Girl”, de 2018. E o anúncio veio acompanhado de um superpresente: o single “Joan in the Garden” tem nada mais nada menos que 19 minutos!!! E são 19 minutos mágicos que passam voando nas mãos dos quinteto de Oregon. Inspirada na figura de Joana d’Arc, Meloy afirma que a música acabou virando uma reflexão sobre criação. Sendo um épico, é quase um spoiler a faixa, já que ela encerrá o novo disco.
As duas faixas não são inéditas, mas as cortantes versões do Pavement para “Killing Moon”, do Echo & The Bunnymen, e “The Classical”, do The Fall, presente na coleção de singles “Cautionary Tales: Jukebox Classiques”, são bons esquentas para o show da banda por aqui logo mais, no C6 Fest. As duas faixas, originalmente, meio que encerram a discografia da banda no EP “Major Leagues”. É um peso simbólico e tanto.
O que fazer depois de lotar um Madison Square Garden ao lado de nomes gigantes em popularidade como Fred Again.. e Skrillex? Voltar ao estúdio após quatros anos sem trabalho solo e soltar um disco superintrospectivo parece ser a resposta do inglês Kieran Hebden, conhecido como Four Tet. “Three”, seu novo disquinho, provavelmente comunicará com multidões, mas é um álbum para se escutar sozinho, quase meditando, dançando ao seu modo. Uma das delícias do disco é o seu modo de soar orgânico sendo uma trip eletrônica à beça.
Em 2018, Kacey Musgraves estourou a bolha do country com o ótimo “Golden Hour”. No álbum seguinte, feito após seu divórcio e sendo um fenômeno de popularidade, arriscou ir mais perto do pop e mexeu com toques eletrônicos. “Deeper Well”, seu quinto trabalho de estúdio, lançado há alguns dias, é de certa forma um disco de volta para casa, ainda que soe muito pop, parece mais de volta ao country – abraçando um momento de maturidade e de mais tranquilidade na vida, pessoal e profissional. “Giver/Taker” é dos momentos mais bonitos do disco, com sua sinceridade cortante de desejar do companheiro a mesma entrega que ela tem – como nem tudo é possível, o primeiro verso descreve uma solidão de doer. Ela sabe das coisas.
A gente imagina como foi a conversa entre os irmãos Robinson, os únicos integrantes presentes em todas as formações do Black Crowes:
– Quer dizer que tem uns moleques com 20 e poucos anos copiando as bandas dos anos 70?
– Cara, até os Stones lançaram um álbum de inéditas!
– Se é assim, melhor voltamos.
– “Shake your money maker”.
E, assim, os Black Crowes soltaram um disco de inéditas após um intervalo de 15 anos! Nada mal para um grupo que se separou duas vezes. Se é para ter um revival do anos 70, que fique na mão deles. Tem tudo o que os fãs vão procurar: rockões e baladas. Jimmy Page aprovaria. Eles têm o charme. E a voz do Chris segue intacta.
A função deste Top 10 é destacar as coisas legais. Mas, quando o grande artista pisa na bola, é bom falar também, né? Na capa de “Everthing I Tought I Was”, Justin aparece de costas para gente e isso parece dizer muito sobre uma distância que ele criou com o próprio público e talvez consigo mesmo. Vai ver é o nosso mau humor, mas o gente-boa que apareceu cantando só velharias deliciosas no Tiny Desk soa fake demais e certamente não dá as caras neste disco aborrecido – e que ainda tem um “feat” com o *NYSNC, algo beeeeeem forçado.
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* Na vinheta do Top 50, a incrível Adrianne Lenker, em foto de Germaine Dunes.
** Este ranking é pensado e editado por Lúcio Ribeiro e Vinícius Felix.