O Carnaval passou e estamos em fase de recuperação. “Mas e essa fantasia?”, você pode se perguntar. Calma. Não estranhe o chapéu de cowboy e o cigarro de palha no canto da boca. Não é fantasia de Carnaval nossa, estamos falando de Beyoncé. 2024 acabou de começar.
O chapéu da Beyoncé no Grammy adiantou o gostinho dos dois singles que inauguram “Act II”, o oitavo álbum da cantora e a esperada continuação de “Renaissance”. “TEXAS HOLD ‘EM” é um country divertido dos bons, ligado nas convenções do gênero sem soar genérico, enquanto “16 CARRIAGES” soa mais pop. De se imaginar as intenções de Beyoncé em ir atrás do country, mais um gênero musical que tem os artistas negros apagados de sua história. Tanto que Queen B traz para o seu projeto a instrumentista Rhiannon Giddens, reconhecida por sua refinada pesquisa atrás das raízes negras do country, um trabalho que resgatou canções do século XIX. E as marcas do racismo estão por aí: rádios de country estão evitando tocar as músicas, mesmo com a pressão dos fãs. Se o Grammy de álbum do ano que ela nunca leva viesse de um disco country, seria de um simbolismo gigante.
Nada country é o novo single do Pearl Jam. A energética “Dark Matter” é a carta de apresentação do álbum que leva o nome da faixa e que está previsto para o mês de abril. Com um gosto dos anos 1970 em seus riffs, o que peca um pouco é a produção sempre muito “limpinha” de Andrew Watt, o produtor da vez de vários roqueiros mais velhos – Stones, Iggy Pop e Ozzy já trabalharam com o cara. Pelo menos desta vez, Andrew não exagerou na compressão da música em sacrifício da dinâmica, seu questionável método para fazer as gravações de rock soarem tão altas quanto as novidades do pop. Pelo visto o Pearl Jam impôs alguns limites, inclusive para respeitar o conceito do álbum, que foi gravado sem muita firula. Foram três semanas de gravações e boa. A banda diz que é seu melhor álbum de todos. Soa exagerado, mas vamos ouvir.
“Fever” não é apenas a colaboração da nossa querida rapper inglesa Little Simz com o brasileiríssimo Iuri Rio Branco – que talvez você conheça pelo trabalho com Marina Sena. O beat funkeado de Iuri faz cama para versos em PORTUGUÊS de Little Simz. E mesmo em outra língua ela não perde seu flow característico. É coisa de outro mundo. A vez que a Popload trouxe ela para o Brasil continua rendendo história. Qual a próxima?
Conforme a gente já esperava, “What Now”, segundo álbum solo de Brittany Howard, é maravilhoso. Multifacetado, aponta para diversos caminhos que tiram Britt de qualquer zona de conforto. Tem canções mais puxadas para quase um blues experimental, toques de jazz e momentos que dão inveja ao New Order na pira eletrônica. Estranhamos a recepção relativamente morna que o disco recebeu até aqui. Mas acontece.
Lana Del Rey tem sempre aquele ar de deslocada em seu próprio tempo. Esse anacronismo que faz tão bem a sua obra acaba de ganhar um exemplar e tanto. É a interpretação dela para “Blue Skies”, uma música dos anos 20 de Irving Berlin. Uma canção sobre “tempos melhores” escrita no intervalo entre as duas grandes guerras mundiais. Não por acaso, a faixa é trilha de “The New Look”, drama da Apple TV+ que envolve Christian Dior, Coco Chanel e nazismo.
O escritor Matheus Borges mandou essa no Twitter e caímos na risada: “Curioso momento da história em que o título ‘Melhor Álbum de Rap do ano’ tem mais chances de ir para a Kim Gordon do que para o Kanye West”. Tem toda razão. Um lançamento lamentável (o do Ye), que talvez seja eliminado das plataformas de streaming, e outro interessantíssimo (o da Kim).
Não deixe a oportunidade passar: o quarteto argentino Fin Del Mundo fará uma pequena turnê pelo Brasil superacessível. Uma data no Sesc da Avenida Paulista (1° de março) e outra no Sesc de São José dos Campos (8 de março). A banda é formada por Lucía Masnatta, Julieta Heredia, Julieta “Tita” Limia, Yanina Silva e faz um som que elas classificam como post-rock emocional com indie rock. Em outras palavras, paisagens sonoras delicadas e melodiosas, um som menos sombrio do que o nome indica. O fim do mundo delas tem mais a ver com a origem da banda: Terra do Fogo. Delícia de música. Dúvido que você resista à vontade de cantar “Dancing In the Dark”, do Bruce Springsteen, dentro da melodia de “La Noche”.
Quem ainda não viu “A Noite Que Mudou o Pop” precisa colar na Netflix para sacar o doc que conta a história da gravação de “We Are the World”. Mesmo que você odeie a música, é obrigatório. Ainda que seja acrítico à canção ou mesmo às ações beneficentes que foram e deixaram de ser moda ali na virada dos anos 1980, os bastidores contam muito sobre ego e trabalho na vida artística. Nada disso te convenceu? Vale pelo momento histórico quando Dylan sorri ao escutar Stevie Wonder imitando seus trejeitos vocais. Um raro momento real do ilusionista Bob Dylan.
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* Na vinheta do Top 50, a musa americana Beyoncé.
** Este ranking é pensado e editado por Lúcio Ribeiro e Vinícius Felix.