Top 10 Gringo – Alex G corre para o primeiro lugar. Santigold conta seus horrores em segundo. Bjork emplaca mais uma nova no pódio

Björk corria para mais um topo do pódio, sem dúvida. Mas o senhor Alex G nos acréscimos soltou o belíssimo, “God Save the Animals”, discaço, e levou essa. Ao mesmo tempo, um álbum que a gente vinha ensaiando comentar há algumas semanas ganhou outro aspecto, quando sua artista decide não fazer turnês pela falta de suporte adequado. Vem com a gente que comentamos tudo com mais detalhes ao som da melhor trilha da semana. 

“God Save the Animals” é sem dúvida um dos álbuns mais espetaculares deste ano. Daqueles disco que você sai meio sem entender o que rolou, mas logo vira fã de carteirinha. Pegue como amostra as primeiras canções: cada uma vai para um lado – tem vocal feminino em uma música pop meio reflexiva, tem um rock superbasicão, tem uma quase instrumental amalucada. É muita ousadia. Esquisito, mas sem abrir mão de truques básicos – repare, por exemplo, no violão da abertura de “Runner”, que deixa o ouvido formigando quando “explode” apenas do lado direito do fone. É um som que poderia ser do Wilco (e algo nos diz que essa melodia foi emprestada de algum lugar), mas Alex G parece mais ligado que os demais no mundo.    

A rapper Santigold escreveu seu novo álbum na escuridão incerta da pandemia. O título “Spirituals” remete justamente ao spiritual, as chamadas “canções de cura”. Em uma entrevista à revista “Paper”, ele detalhou: “O propósito das spirituals era permitir que os escravos experimentassem sentimentos de liberdade e alegria quando não eram realmente livres e não estavam em circunstâncias alegres. Eram canções que os permitiam transcender seu ambiente. Foi isso que essas músicas fizeram por mim”. O sentido do trabalho de Santigold pega outro rumo, eletrônico, mas a essência de fazer canções capazes de criar outro lugar está presente e com força, ainda que as letras sejam de vez em quando doloridas. Tão doloridas quanto sua carta para anunciar que não vai sair em turnê com o álbum por não encontrar condições adequadas de trabalho – a inflação do mercado de shows, a continuidade da pandemia, os gastos após muito tempo acumulando dívidas. Santigold reflete que, apesar de tudo o que tentou, seria um desrespeito consigo mesma se curvar a essa lógica terrível. “Eu quero que vocês entendam que estou orgulhosa de cancelar essa turnê, quando isso significa que estou proclamando que eu, a pessoa que escreve as músicas, sou tão importante para mim quanto as músicas. Não continuarei a me sacrificar por uma indústria que se tornou insustentável e desinteressada no bem-estar dos artistas em que se baseia.”

Um primeiro single bem experimental e filosófico, um segundo bem pop sobre relacionamentos e agora um terceiro single que beira ao épico: são sete minutos onde Björk lê uma carta a sua mãe. Ou como ela explica: “A história dela do meu ponto de vista”. Ampliando os sentidos dessa homenagem, o filho da Björk arranjou e canta no refrão. E ela não para, viu? Enquanto a gente rascunhava este texto aqui, ela soltou mais um single, agora a faixa que vai dar nome ao álbum: “Fossora”. 

Com um aceno explícito a “God Save the Queen” dos Sex Pistols, o sexteto inglês dos Sports Team se atira com tudo logo no começo do seu segundo álbum. Na mira, quem abaixa a cabeça para levar uma vida pacata e acaba desperdiçando ela sem se dar conta. O sacode vem em um refrão que parece moldado a levantar o coro em festivais – ou ser entoado em pubs pelo mundo. “Gulp!”, o disco, é quase todo conhecido nosso, metade já tinha saído em singles, mas a gente se delicia mesmo assim. Uma banda jovem que segue em ascensão. Podemos indicar mais um som? “Unstuck”, que deve levar ao delírio fãs do Libertines, é um som com a pegada da banda de Pete e companhia. 

Nossos queridos Khruangbin, banda texana que deu a honra de já colar em uma edição do Popload Festival, estão de disco novo e muito especial. A turma de se reuniu com Vieux Farka Touré para homenagear a obra do pai de Vieux, Ali Farka Touré, músico histórico do Mali – guitarrista presente na lista dos 100 maiores da história, de acordo com a revista “Rolling Stone”. Esta revisita moderna à música de Ali pode ser sua porta de entrada para o universo de um dos maiores de todos os tempo que talvez você não conhecia ainda.  

  Da tradição electropop da galera de Los Angeles dos últimos anos, o duo Strange Hotels tem a curiosa mania de se meter TODA SEMANA em qualquer biboca da região para se apresentar ao vivo. Acabaram de lançar a “Mixtape III”, oito músicas que poderiam ser um álbum, se turmas como o Strange Hotels lançassem álbums. Manja um encontro eletrônico chique de Pollside com o indie-pop de Foster the People? É nessa sonoridade que caminha o Strange Hotels, que no final do ano passado cometeu o que tem sido um dos hits americanos de 2022: a deliciosa “Teen Dream Fantasy”.

Que tal uma musiquinha para treinar seu alemão? A austríaca Sofie Royer faz um pop espertinho muito do bem-humorado. Basta pegar a letra desta “Klein-Marx” para atestar isso. É uma música sobre se atirar de uma ponte, mas para quem nunca visitou Viena a piada precisa ser explicada. A ponte que dá o título da canção é baixa e por ela passa um rio rasinho. Esse é o humor austríaco.

Música tem spoiler. Pare de ler agora esta nota, se não quiser estragar sua experiência com o Courting. Aviso dado, podemos comentar mais sobre este quarteto de Liverpool – ah, os quartetos de Liverpool… “Guitar Music”, álbum de estreia da banda, começa com um piano tão delicado, que você imagina todo um universo que virá de canções melodiosas. Até que a banda nos arremessa num submundo de vozes distorcidas e muita (mais muita) esquisitice. É um plot twist e tanto para quem chega desprevenido no álbum, o que foi o nosso caso. Se você leu até aqui, perdeu a surpresa, mas não deixa de escutar, viu? 

Por falar em acenos, o Red Hot Chili Peppers faz aqui um aceno breve a si mesmo. Repara como a intro desta música é puro “By the Way” por alguns segundos. Viajamos? A singela homenagem ao grande guitarrista Eddie Van Halen é bem ao estilo deles, supersolta na letra, difícil de entender. Mas o solo do Frusciante conversa de maneira universal. 

Como anda o Weezer, hein? A média da turma continua desaprovando os lançamentos recentes da banda de Rivers Cuomo, mas da nova leva de canções do “EP SZNS: Autumn” (sim, mais um de uma série de quatro lançamentos) até que dá para encarar a divertida “What Happens After You?”, um rock aditivado com clichês da música eletrônica. Fica superestranha lá para o final, mas a bateria é irresistível de boa. 


* Na vinheta do Top 10, o músico americano Alex G.
** Este ranking é pensado e editado por Lúcio Ribeiro e Vinícius Felix.

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