Sua próxima banda indie predileta, a Ottopapi se apresenta no Circuito a partir de amanhã. Domingo é em SP

É tarefa das mais difíceis você estar numa festa boa de rock independente hoje em dia em São Paulo em que o Ottopapi, esse da foto abaixo, não esteja nela. Ou na pista dançando, ou ele mesmo sendo o DJ certeiro. Ou, em caso de show, sendo ele o front-leader da banda que está tocando. Ele cantando, ou fazendo suas hoje já conhecidas performances desengonçadas legais.

É fácil reconhecê-lo, pela sua avantajada altura ou pelo cabelo vermelho. Ou ainda por suas camisetas de bandas, quase sempre rasgadas, vintage do vintage para um cara que curte o novo do novo.

Se nada disso estiver acontecendo mas a festa for boa mesmo, pode ser que ele tenha feito a produção do disco dela, ou escolhido a banda em uma curadoria de clubes e baladas que faz em SP. E até ter chamado os DJs para tocar. Designer autodidata e hoje disputado, também é possível que Ottopapi tenha feito o pôster de divulgação do rolê.

Se a banda que estiver no palco tocando tiver algum destaque (e não for a Ottopapi, do Ottopapi), pode ser que o rapaz tenha produzido o disco dela em seu estúdio. Ou em sua casa, o que dá na mesma. Porque Ottopapi mora num estúdio ou tem um estúdio dentro de casa, essa fronteira não é muito clara.

Nem precisa ser. Ottopapi, a persona de Otto Dardenne, cara de banda, DJ, produtor, curador, agitador, empreendedor indie, designer, e sabe se lá o que mais, é o “It Boy” da cena paulistana de música. E, se você não o conhece, uma boa hora de se deparar com a figura dele é neste final de semana, quando ele toca no Circuito – Nova Música, Novos Caminhos, nesta sexta-feira em Campinas, no sábado em Americana e no domingo em São Paulo mesmo, no Cineclube Cortina (leia mais sobre o Circuito lá embaixo).

A Ottopapi, de Otto, o Ottopapi (ok, paramos!), acabou de lançar seu segundo single, “Ruim da Cuca”, que chega para suceder outra de suas músicas de vigor absurdo que ao vivo vêm com um grau a mais na energia no palco e provoca bagunca já em seus movimentados shows por São Paulo. Esse single de estreia se chama “Perdi o Controle” e foi revelada em setembro.

Os dois singles são faixas de “Bala de Banana”, seu primeiro álbum, previsto para sair em março de 2026. Ambas as músicas nos streamings são apenas duas outras faixas já bastante conhecidas para os que frequentam a quente noite da cena independente de SP, dos shows em pequenos clubes como Porta, Bar Alto, Porta Maldita, Fffront, Picles.


O passado bem próximo de Ottopapi nos leva à casa dos pais, uma mansão alugada no Pacaembu desde os anos 80. Aliás, dos primos ao pai e ao irmão, os Dardenne se constituem como uma família com fortes ligações musicais.

No casarão onde nasceram, Otto e o irmão Yann (32 anos, Otto tem 30), uns dez anos atrás, ambos já arranhando em instrumentos como violão, baixo e guitarra incentivados pelo pai, resolveram montar um estúdio para gravarem suas canções e de amigos próximos. 

Em cada um dos dois quartos que ocupavam na casa, em um deles montaram os equipamentos de gravação e o espaço para as bandas e no outro botaram dois sofás, que de dia recebiam os amigos musicais como uma sala de espera e convívio e à noite serviam com cama para Otto e Yann dormirem.

Para fazer a nova cena paulistana rodar ainda mais na casa do Pacaembu, os irmãos aproveitavam as viagens de trabalho da mãe, uma ou duas semanas longe, desmontavam a bela sala dela, cheia de móveis e quadros, guardavam tudo num quarto e faziam shows e aproveitavam para vender cerveja e levantar uma grana. Para o pai, tudo beleza.

“O Oruã [banda do suburbio do Rio] tocou lá na nossa sala, o Terraplana [banda de Curitiba com passagem pelo festival americano South by Southwest e outras apresentações nos EUA] tocou lá, a banda Raça também”, lembra Otto com orgulho. 

Foi no estúdio do casarão do Pacaembu que nasceu a Goldenloki, a primeira banda para a valer de Otto, que o levou a tocar em outras cidades do Brasil.

Depois Otto e o irmão Yann se “emanciparam”. Foram morar com amigos em uma casa na Lapa que… tinha um estúdio mais moderno e pronto. “A coisa ficou mais séria. No nosso estúdio ali na Lapa gravamos o Eiras e Beiras [a banda anterior da Nina Maia], Os Fonsecas, o Thalin [rapper e produtor, um dos criadores do projeto Maria Esmeralda]. Foi um período bem divertido”, conta Otto.

No estúdio da Lapa, o Fiaca, nome herdado, a banda Goldenloki acabou, Otto e o irmão montaram a Seloki Records, começaram a ter mais “clientes” da cena indie, Otto virou a persona Ottopapi, essa “entidade” indie criada, ainda sem nem pensar muito na banda que viria a ter agora, com esse mesmíssimo nome.

Era mais para criar uma label dele para acomodar seus agora múltiplos trabalhos, que inclui ser curador de alguns clubes da cidade, DJ de outros tantos e designer oficial de cartazes tanto das festas que produz e as que produz para outros quanto capas de discos de artistas do porte de Tim Bernardes e Sessa.

Nesse período os irmãos se mudaram de novo, para uma outra… casa-estúdio. Também na Lapa. Que virou o estúdio Mameloki, onde eles organizam os afazeres da Seloki Records.
 
Mameloki, Seloki, tudo vem do doguinho golden retriever Loki que eles tinham, “o cachorro da adolescência”, que frequentava os estúdios deles tanto quanto os microfones e as mesas de som.

Onde passaram a pandemia maturando o que tinham apreendido e armando os planos futuros. Não é exagero dizer que Otto mora desde a adolescência num estúdio. 

Sempre para a música e pela música. A dele e a dos outros. Que é o que, agora, aos 30 anos, diz que é tudo o que sabe fazer. Sem volta.
“Eu acho que não sei fazer outra coisa além de música. Mais que isso, não quero fazer outra coisa. Por isso para mim faz todo sentido no mundo eu acordar e dar de cara com um estúdio, com meus instrumentos (ele toca baixo e guitarra), com meus desenhos inacabados na mesa.

É o que eu sou e para onde eu quero ir.” 
Tudo em seu lugar, Otto, ou melhor, a entidade Ottopapi, carrega como ninguém esse jeito… “loki” de ser. E que dá um gás em seus projetos, nos projetos dos amigos.

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* Este texto saiu originalmente, assinada por mim, na revista “Numéro Brasil” de novembro.
** Ottopapi é atração da quinta edição do Circuito – Nova Música, Novos Caminhos, que acontece em Campinas (sexta agora), Americana (sábado) e em São Paulo (domingo). Mais informações e sobre ingressos no perfil @circuitonovamusica no Instagram.
*** As fotos usadas neste texto são de Gabriel Freitas @insallubre.
**** Abaixo, o single “Ruim da Cuca”.

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