Sónar SP reinventa o xarope Anhembi. Mais: os "win", os "fail", os vídeos

Sónar SP reinventa o xarope Anhembi. Mais: os "win", os "fail", os vídeos Foto: divulgação

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* Você pode nem ser “da eletrônica”, amar hip hop ou necessariamente gostar das bandas que o Sónar SP botou no festival. Mas o bem que o evento trouxe para a cidade de São Paulo foi digno de palmas.
Primeiro que o malfadado Anhembi, graças ao mostrado pelo Sónar SP, tem solução sim como espaço (um dos únicos) para grandes eventos musicais na capital, com algumas correções de logística em sua organização. Isso é um avanço para a música na cidade.
Concentrado em um lugar só (a primeira edição, de 2004, aconteceu dividido entre Instituto Tomie Ohtake e Credicard Hall) e com cerca de 15 mil pessoas circulando por noite, o Sónar reinventou com êxito o Anhembi para shows. Esqueceu o problemático (e feio) (e insolúvel acusticamente) (e chato de chegar e sair) Sambódromo, vendido como “Arena Anhembi”, fez do galpão de eventos seu palco principal (palco SonarClub), redescobriu o auditório Elis Regina (que nos anos 80 foi o local de épicos shows de Echo & The Bunnymen e Siouxsie and the Banshees, entre outros) para atrações mais intimista (palco SonarHall).
Virou interno, “indoor”. Virou bom.

***** WINS E FAILS DO SÓNAR SP

– Valeu, Sónar
1. Escalação caprichada, moderna, que olha para a frente. Line-up mistureba só com coisa fina, com o melhor de todos os estilos.
2. Para outros festivais, fica a lição: uma escalação com pequenos grandes nomes às vezes vale mais que um festival com grandes headliners, mas sem nada de muito interessante tocando antes deles.
3. Organizado: filas ágeis, vários pontos de venda, homens-bar pela pista, praça de alimentação tranquila, Doritos sendo distribuídos… Banheiros com pouca fila também.
4. Kraftwerk: ir ao show do Kraftwerk é passar pelo menos uma hora ouvindo piadinhas do tipo “os caras estão no ________*” (*inserir: MSN, Facebook, Twitter, Angry Birds, Skype, etc). Piadinhas desse tipo com o Kraftwerk são tipo as do tio do pavê-pra-comê no Natal: não falham. Ralf Hütter está velho? Só tem um integrante original? Ultrapassados? São Windows 95? 3D anos 80? Não se mexem, está tudo programado? Mas,… quem liga? A parte mais incrível de um show do Kraftwerk é que nada disso é escondido. Você pagou pra ver robôs dos anos 70 tocarem com projeções de 3D. É exatamente isso que você recebe. Com a grande vantagem de que esses robôs ainda fazem música que soa atual nos 2000. E, além de ser nostálgico, é sempre emocionante. OBRIGADO, BJORK.
5. A ressurreição do Justice. Depois de uma certa estagnada, um show fraco no Brasil e um disco novo mais fraco ainda, ninguém (eu) esperava muito da dupla de jaqueta de couro. Heavy metal da eletrônica. Cafonices à parte, foi um espetáculo de hits e de dança. Acho que foi o show mais animado do festival (principalmente pra quem saiu dele e foi pro James Blake. Choque de estilos, o que é bom, também)
6. Ver o povo tentando dançar dubstep. Parecia o casting do Walking Dead, sem o Dead. Dubstep inaugurou a dança do zumbi. Requebra ali, entorta o joelho, quebra o pescoço pro outro lado, ensaia uma convulsão de leve e se arrasta.
7. Mogwai: comparada ao resto da programação, o Mogwai era praticamente um Motorhead no meio de um festival de MPB. Dez anos depois do primeiro show no Brasil, a banda não precisou nem arrancar o público gigante da tenda do Flying Lotus. Quem foi para ver Mogwai, pouco se preocupou com o que rolava fora do auditório. Nem conseguiria mesmo: a parede de três guitarras ensurdecedoras com projeções em uma tela widescreen era hipnotizante. Se não me engano, foram dez músicas ao todo. Lembrando que, para o rock instrumental do Mogwai isso é muito. As músicas foram “encurtadas” para caberem no horário previsto. Mesmo assim, a banda passou, propositadamente, alguns minutos do horário de encerramento e causou um certo mal estar nos bastidores. Pelo twitter, o baterista chegou a dizer que foi “ameaçado” pelo organizador de palco. o_O
8. Flying Lotus/Totally Enormous Extinct Dinosaurs/Hudson Mohawke – Tirando tudo o que teve de bom, tirando tudo o que foi digno de nota, sem falar no Doom, o Hudson Mohawke, o James Blake, tiveram essas duas apresentações em particular. O Lotus trouxe o underground de Los Angeles para cá. De novo. Uma hora de batidas quebradas, experimentalismos e baixos gordos bons de dançar. Tudo costurado por samples de Radiohead, bateria de escola de samba e Beastie Boys, que bela homenagem. Coraçãozinho com as mãos pra finalizar o set. Fofo. O Totally Enormous Extinct Dinosaurs, o nome mais legal da música hoje (até porque você olha o menino com a voz do Tiga, a sonoridade única dentro de tudo conhecido que ele carrega), foi incrível, mesmo tocando/cantando em cima de base pré-gravada. É dono do melhor disco da dance music em 2012. Isso porque o disco nem saiu. As roupas. A galera que foi com penacho de índio na cabeça para vê-lo no Sónar. Coube ao Totally Enormous Extinct Dinosaurs fechar a conta do festival, lá pelas quatro da manhã. Pista ainda cheia de gente, meninas com a cara pintada de tinta neon, malucos com cocar na cabeça. O “Enormes Dinossauros Extintos” é na verdade um menino inglês franzino que faz house e electro com indie e pop e até dubstep (inglês) na medida certa. O live foi um mix das faixas que estarão em seu primeiro álbum, que chega em junho. Delícia de dançar.

– Não rolou, Sónar
1. a fila gigantesca no primeiro dia, para a retirada de ingressos. Faltando alguns minutos para o Kraftwerk, povo desesperado, informações desencontradas, resolveram liberar tudo. E bastava mostrar o papel impresso da internet para entrar…
2. Os atrasos. Em festival, um pequeno atraso gera um efeito cascata no festival todo. E aquela programação com horários na mão da galera fica sem serventia.
3. Não havia indicação clara de palco, nem do artista tocando em cada um deles. Com os atrasos, vi gente se requebrando no Zumbi-Dance do Rustie, achando que estava na apresentação do Flying Lotus (!!!)
4. O som do auditório estava perfeito no show do Mogwai, mesmo com todas as guitarras na potência máxima, mas no do James Blake, justamente no mais delicado deles, reverberava demais!
5. O cheiro de Doritos em todo o festival. A gente sabe, a gente sabe…

* COBERTURA POPLOAD – Lúcio Ribeiro, Ana Carolina Bean Monteiro, Fiervo. Fotos: Fabrício Vianna

***** ALGUNS VÍDEOS DO SÓNAR SP

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