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* Segundo as discussões de internet um dia após a nova passagem da cultuada banda pelo Brasil, a impressão que se tem é que foram dois shows distintos do grupo de Thom Yorke ontem em São Paulo, no Allianz Arena: um para quem viu na pista premium, outro para quem estava “lá atrás”, na Pista 2.
A questão aí nem é a performance da banda, porque o senso comum quando se trata de uma apresentação do Radiohead é sempre assim: não existe show ruim deles. É a tal “experiência”.
Ou o setlist é incrível, como foi o de ontem para metade da galera presente, ou ele foi apenas “muito bom”, como pareceu para uma outra metade, em que pese tudo: a falta de “Creep”, a inclusão de “My Iron Lung” e o final anticlímax com “Fake Plastic Trees”, numa levada maravilhosa mas ainda assim uma música “pouco indicada” para se terminar um show. Como o Radiohead nesta turnê sul-americana tocou quase sempre 27 músicas e ontem em SP foram 26, pareceu que faltou algo. Aaah faltou “Karma Police”! Poxa, faltou “Creep”. Não faltou nada… Com uma discografia tão rica, não dá para esperar que a banda continue com aquele “setlist de 2009” (mais sobre isso abaixo), certo? Mas também é compreensível o fã que espera pela “sua música”. Até aí, estamos resolvidos e o setlist não estragou o show de ninguém. Mas…:
Sim, o som estava baixo. Sim, para ver Radiohead as falas paralelas não podem acontecer (tipo show do XX, show do Portishead). Sim, num concerto desses, os ambulantes não podem passar com isopor gigante na cabeça das pessoas gritando como se estivessem num campo de futebol, apesar de estarem num campo de futebol.
O episódio Pista Premium x Pista 2: os espaços criaram duas atmosferas diferentes para um único show, no que envolvia o som, o telão artsy e o palco baixo (parece que a banda pediu para a altura ser mais próxima do público), o que em show de estádio complica a vida de quem está lá atrás, e que geralmente é o fã mais ardoroso da banda. Aqueles com estatura inferior a 1,75 provavelmente tiveram que ver a apresentação inteira olhando apenas no telão. E aí temos um outro “problema” ou choque de setores, como preferirem: aos da Pista 1, o telão conceitual era parte integrante da banda. Interagia com a música e com as luzes, tinha vida própria e além do propósito de apenas “exibir o show”. Mas, para quem estava lá atrás dependendo deste recurso visual, a experiência se assemelhou a de uma instalação artística com trilha sonora ao vivo ao fundo. De lá, ora se via o tênis do Thom Yorke ou um de seus olhos ou então, as mãos dos integrantes e às vezes os instrumentos. O ideal, neste caso, teria sido a banda deixar os telões laterais para a exibição do show mesmo. Sem contar que, em um determinado momento, o telão pifou e ficou verde por alguns minutos. Na dúvida se fazia parte do show, se era alguma “intervenção artística com as cores do time dono do estádio”, ou não (acontece, né), quase ninguém se manifestou.
Dito isso e sem considerar as diferentes experiências entre classe executiva x econômica, porque o mercado de shows está virando uma espécie de companhia aérea, a apresentação do Radiohead em São Paulo foi mais ou menos assim, a gente achou:
Nove anos depois, Radiohead volta a São Paulo. Para os fãs que estavam lá no lendário 2009, havia a (quase impossível) missão de superar aquela ocasião. Tocando num Allianz Parque que demorou muito a encher, e seguindo boas performances de Aldo The Band, Junun e Flying Lotus, o Radiohead conseguiu, sim, trazer outro show mágico para o Brasil. Melhor que o primeiro? Difícil dizer.
Ouvir um estádio inteiro cantando “Daydreaming”, logo de cara, já foi maravilhoso e cativante, e um perfeito início para um longo show. Mesmo com a demorada Ful Stop em seguida, logo engataram as ótima 15 Step e Myxomatosis. Daí as coisas foram para outro nível. Versões absolutamente perfeitas de You And Whose Army?, All I Need e Pyramid Song, em sequência, foram o ponto alto do show, e facilmente pagaram o ingresso de quem aprecia as músicas mais melódicas e perfeccionistas da banda.
Depois, começaram a pipocar alguns problemas técnicos e de execução, que perduraram pelo show. Uma pequena pausa em Everything in Its Right Place para arrumar algo, umas batidas fora do lugar em The Gloaming, um começo enrolado em 2+2=5. Para piorar, a cada errinho, Thom Yorke parecia fazer cara de bravo para a banda. Enfim, diversos momentos de confusão que fizeram o show parecer menos perfeito do que o de 2009 – ou será que só ficamos mais críticos no tempo que passou?
Não há como não falar do setlist, especialmente em comparação ao resto das performances pela América do Sul. Não teve Creep. Isso não seria de tanta significância se não fosse por dois outros fatos: vários shows da turnê tiveram 27 músicas, enquanto que SP teve 26; e Karma Police foi uma música que comumente fechou shows do Radiohead nesta turnê. Em SP, terminaram com Fake Plastic Trees (que não tem cara de fim de show), o público ficou esperando mais, e não voltaram. Simplesmente não tinha cara de fim de show.
Apesar de tudo isso, é difícil reclamar. Tendo visto There There, Paranoid Android, My Iron Lung e tantas outras, num estádio, já valeu demais. Pode não ter sido tão bom quanto em 2009, mas mesmo assim foi, desde já, um dos melhores do ano.
Ana Carolina Monteiro, Fernando Scoczynski Filho, Lúcio Ribeiro.
Fotos de Fabrício Vianna.
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