* A POPLOAD abre espaço aos fins de semana para algumas colaborações pontuais e selecionadas! Temos o Felipe Evangelista escrevendo sobre o rico mundo do hip hop na seção especial Popload Beats e os textos sobre cinema do jornalista e blogueiro Tom Leão, um dos caras mais importantes na informação da cultura indie do Rio desde os tempos do saudoso Rio Fanzine, do jornal O Globo. Tom responde pela Popload Cinema Club. Desligue o page e o celular e leia!
Popload Cinema Club — por Tom Leão
Passou no Festival do Rio, e, provavelmente, estará na Mostra de Cinema de SP, o curioso “Frank”, filme que, aparentemente, tem como maior atrativo Michael Fassbender (o jovem Magneto, de X-Men) atuando por baixo de um cabeção de papier maché, e cantando! Corri para conferir. Porque, a chance de ver isso passando num cinema convencional no Brasil, num futuro próximo, é quase nula. E valeu a pena curtir a bizarra experiência.
Numa segunda olhada no cartaz, percebi que já conhecia aquela cabeça de algum lugar. Nos anos 80, ela costumava aparecer em clipes e revistas de música alternativa inglesas. Pertencia a Frank Sidebottom, personagem criado por um humorista e músico britânico, Chris Sievey, que vim a saber agora, faleceu de câncer, em 2010. Então, de certa forma, o filme é uma espécie de homenagem/tributo ao pouco conhecido Sievey.
Contudo, “Frank” não é uma biografia do camarada. Seu roteiro foi construído a partir de um artigo publicado por Jon Ronson, ex-integrante da banda que acompanhava o artista/personagem Frank Sidebottom, também co-roteirista do filme. Ronson deu a sua visão por trás da cortina do que ocorria. No filme, claramente, este papel é do tecladista de última hora, feito pelo talentoso Domhnall Gleeson — egresso dos filmes de Harry Potter –, que vimos recentemente naquele romance com viagem no tempo, “About time”; e veremos, futuramente, no novo capítulo da saga Star Wars, em produção.
Mas, muito além de ser um simples tributo em memória do artista defunto, “Frank” é, também, uma visão insider sobre como é estar numa banda alternativa — até demais –, liderada por um cantor excêntrico (pra não dizer maluco) e com integrantes ainda mais loucos (entre os quais, uma tocadora de theremin, feita por Maggie Gyllenhaal). A sanidade pertence apenas ao narrador/testemunha, que, com seus conhecimentos de internet, populariza a banda — de nome impronunciável, Soronprfbs — através de clipes no Youtube, que acabam viralizando, e levando-os a ser convidados para o prestigioso SXSW, no Texas, festival que reúne a nata dos maluquetes indies/hipsters, também de cinema.
Ao fim dessa incrível jornada, que começa na Inglaterra, cruza o canal para a Irlanda, depois atravessa o Atlântico, para chegar ao meio dos Estados Unidos, acompanhamos não apenas o processo de criação de uma banda, que queria soar como nenhuma outra existente neste planeta. Vemos também que, não é fácil parir uma boa canção. E que, muitas vezes, uma boa letra depende de elementos externos, como perrengues e experiências pessoais, para que, um dia, ela aconteça. Como se dá na última (e emocionante) cena do filme, a única em que vemos Fassbender sem o cabeção. E cantando de verdade!
* Tom Leão assina o blog Na Cova do Leão e é colunista de cultura da Globo News