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* Popload em Brasília. Acabou o picnik.
* Se já não bastassem os muitos fatores que tornam o pequeno grande evento indie Picnik, de Brasília, um festival bem peculiar, pelo tanto de jeitos que dá para analisá-lo conforme listamos por aqui no post de ontem, esta edição que aconteceu no último final de semana foi também marcada pela interferência radiofônica. Explico.
O Picnik Festival 2017 aconteceu, desta vez, ao redor da Fonte da Torre de TV, no parque projetado pelo Burle Marx, no Eixão Monumental, a principal avenida de Brasília. Acontece que as ondas sonoras fortes do local faziam uma rádio sair dos PAs dos dois palcos do Picnik, o principal e o menor, da “kombi da Lombra Records”, e ser ouvida no momento em que o som baixasse, uma música acabasse. O Picnik, tinha horas, parecia um longo programa de rádio, com bandas tocando ao vivo. Ou um canal de rádio tradicional sendo invadido por uma transmissão pirata. Sensacional.
Sobre os shows, algumas coisas a considerar. O Terno realmente está nosso Beatles indie, deu para constatar nesse show fora dos que eu vi em São Paulo. O público berra pela banda, invade o palco para selfies e abraços no momento em que eles estão ligando os instrumentos para tocar e não deixa mais o vocalista e guitarrista Tim Bernardes em paz. Um ou dois seguranças precisam ser destacados para acompanhar os caras do palco para o camarim. Vai vendo.
Que apresentação noise-psicodélica, ora psicodélica-noise (entende?) do grupo recifense Tagore, cheio de raiva e ao mesmo tempo cheio de alegria de tocar. Tem algo de eletrônico ainda por cima, nessa mistura Alceu Valença-Tame Impala que a banda leva a seu show cheio de sotaque. O grupo, acho que hoje morando mesmo em São Paulo, se autodenomina dono de um som “pop épico”. Não vejo por que discordar.
Nunca tinha visto ao vivo, só escutado aqui e ali, a banda de um certo indie-reggae-bossa cheio de influências vindas de cima para baixo Glue Trip, da Paraíba. Em cima do palco, como se viu no Picnik, o quarteto acelera algumas músicas, bota peso em tudo, te tira do lugar. Estão para lançar o segundo disco. Olho neles.
Banda de psicodelia californiana sabe bem do que se trata a, bem, psicodelia californiana. Então foi prazeroso do primeiro ao último acorde o show do Blank Tapes, a atração internacional do Picnik. Viagem, barulho, solos de guitarra e virtuose vocal em músicas comuns. Altamente conectada com a psicodelia indie brasileira atual, de Recife a Caxias do Sul.
Grupo bastante recomendado para altas conexões com o público de qualquer festival indie que se preze, principalmente os realizados sob uma tenda de circo, o multifacetado Mustache e os Apaches, de São Paulo, da parte que pude ver, fez o que dele se espera: um show movimentado, em cima e fora do palco, meio rock, meio MPB, meio cigano, que é difícil seguir com um olhar fixo. Porque não é um show comum de uma banda comum.
Do atual bom celeiro do Gama, nova geração indie brotando na periferia, o primeiro brasiliense a abrir o dia foi o trio Supervibe, que tem uma baterista mulher, algo fortemente a destacar na CENA nacional atual. Da escola Tame Imp… Boogarins de psicodelia aplicada a referências diversas, no caso indie rock e um pouco de shoegaze envolvidos, o grupo mostrou-se firme nos caminhos sonoros que quer percorrer, pela aparente pouca idade que tem. A noite de domingo, e consequentemente o festival, foi fechada com uma apresentação algo rara hoje em dia da banda local Cassino Supernova. Foi um show-homenagem. O grupo recentemente perdeu seu baixista, o Pedro Souto, que foi nessa incrivelmente cedo e de modo repentino. Mas não perdeu a mão na porrada sessentista, setentista e demais “istas” em seu show movimentado. O Picnik acabou emotivo e em casa.
Para citar a última das muitas marcas “diferentes” do Picnik Festival, vale ressaltar a ótima discotecagem do palco principal do evento, no entre bandas, que foi responsabilidade do casal produtor do festival, o Miguel Galvão (The Miguelitos) e a Julia Hormann, que entre uma soltada de música e outra acionavam os fones-escuta de rádio para resolver algum problema administrativo do evento.
Alguns vídeos e fotos do domingo do festival brasiliense.
Duas imagens da representação brasiliense no Picnik: acima, os meninos do Supervibe, do Gama, que abriram o domingo do festival; abaixo, a banda conhecida Cassino Supernova, que encerrou o evento com um show para seu saudoso baixista
Dois momentos brasilienses, mas diferentes, do Picnik: acima, uma garotinha local, portanto uma guitarra de brinquedo, invade o palco para “tocar” com a ótima banda paraibana Glue Trip; abaixo, o jornalista Alexandre Matias, de Brasília mas agitando várias em SP há anos, em sua tradicional filmada de canto de show, no caso o da banda americana Blank Tapes
Acima, o Mustache e Seus Apaches, de SP, momentos antes de aprontar no palco do Picnik; abaixo, o grupo brasiliense Cassino Supernova em ação
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