CENA – “E se a gente juntasse a Baleia com a Lupe de Lupe?”

Já respondendo à pergunta, daria “pelo menos” uma turnê nacional com 26 shows pelo país inteiro, que começou no Rio de Janeiro há duas semanas e atinge São Paulo nesta noite, em apresentação no Red Star Studios, em Pinheiros.

Mas começando do começo: o rolê do Rio de uma semana atrás.

Numa noite nublada da última quinta-feira de março, no Rio de Janeiro, pouco mais de 70 pessoas foram até a Motim para ver nascer mais um projeto da mente hiperativa de Vitor Brauer, o artista mineiro por trás da banda Lupe de Lupe e de projetos mais abrangentes, como o da Geração Perdida, de MG. 

Fomos lá conferir o primeiro show da (doravante e por tempo limitado) Baleia de Lupe, junção de Gabriel Vaz e Felipe Pacheco Ventura, da finada banda carioca Baleia, com Brauer e Jonathan Tadeu, da Lupe de Lupe, que se juntaram para costurar essa turnezona pelo Brasil. 

Para entender que história é essa, conversamos com a banda antes do show no Rio.

Como já mencionamos, a ideia de unir seus amigos e sair nessa turnê, que tem um nome, atenção, “Sem Sair na Rolling Stone”, foi de Vitor Brauer.

“O Vitor já faz esse tipo de turnê há dez anos, né? E, desta vez, como ele está num projeto onde está morando seis meses em cada capital brasileira, ele estava aqui no último semestre do ano passado. E nós pudemos conviver por mais tempo e ele inventou essa que a gente tinha que entrar nessa. E a gente falou “sim”, o que foi muito estranho, porque normalmente diríamos “não”. Mas, porque é o Vitor, a gente falou ‘Cara, isso é tão doido, mas é o Vitor”, explicou o baterista Gabriel Vaz. 

É um projeto ambicioso e são duas bandas que não necessariamente se pensaria em unir se formos seguir uma lógica mais comum, principalmente após o anúncio de final do Baleia em 2021. 

“A verdade é que a gente terminou a Baleia, mas continua como músicos, assim, dentro da própria Baleia, completamente fazendo coisas juntos. A gente [Gabriel e Felipe no caso] está armando um disco junto até, de um outro projeto. Não terminamos a Baleia porque não nos aguentávamos mais como amigos, sabe? Terminamos porque tinha esgarçado um pouco a conjuntura ali específica da banda”, explicou Gabriel.

Mesmo depois de topar o projeto com Vitor Brauer, a Baleia de Lupe, a dupla carioca ainda tinha seus receios. “A gente falou, ‘Caramba, juntar Baleia e Lupe de Lupe mesmo?’ É que, apesar de termos as mesmas referências e gostarmos dos mesmos tipos de música, as duas bandas são de mundos bem diferentes”, completou. 

Mas, para Brauer, a união era clara e simples desde o início.

“Eu acho que as bandas, na verdade, são muito parecidas quando você vê assim a composição mesmo, letras, essas coisas assim. As duas são as bandas mais ambiciosas do Brasil, tipo vamos fazer um som grande e foda-se. Aí eu acho que tem muito disso nessa ideia, até nos gostos. A gente gosta da mesma coisa, então a Baleia só veio de outro meio que é o meio carioca, que é um pouquinho mais preocupado.” 

E para quem está curioso para saber mais sobre a direção sonora que o projeto tomou, Jonathan Tadeu conta: “É como se juntasse a parte mais punk da Lupe de Lupe e a parte mais elaborada do Baleia e virasse uma coisa só.”

De fato, quando se coloca Felipe Pacheco Ventura, um cara que toca violino como guitarra e guitarra como violino, e Gabriel Vaz, um baterista à altura das faixas mais desafiadoras da Lupe de Lupe, contra Vitor Brauer, com sua guitarra ágil, e Jonathan Tadeu no baixo dando a base perfeita, o resultado é um novo espaço de descobertas de sonoridades e elevação técnica para ambas as bandas.

Em meio a tantos revivals e turnês de encerramento, a Baleia de Lupe corria o risco de passar batido como só mais um projeto. E talvez, em algum grau, seja mesmo simplesmente isso. Mas, para os apreciadores de ambos os grupos, essa turnê é um prato cheio de quase duas horas de música ao vivo em sua forma mais concentrada, alinhando as fortalezas de duas ótimas bandas e quatro artistas acima do padrão.

O repertório do show não é só o que o público quer ouvir, apesar de ter quase todas as canções mais ouvidas de ambas as bandas. É, segundo o Baleia de Lupe, sobre o que mais o público PRECISA ouvir. Ao final do show do Rio, Vitor Brauer fez uma reflexão importante sobre o repertório e os pedidos do público, 

“Vocês merecem muitas músicas, mas vocês confundem isso com merecer todas as músicas. […] A gente tem que pensar no futuro de vocês, a última música nunca é suficiente. Com o tempo, nós vamos aprendendo a tocar a música que a gente quer, porque com o tempo esquecemos do porquê começamos a tocar. Espero que vocês tenham maturidade para ouvir com ouvidos abertos. Às vezes é bom pensar e essa é para vocês pensarem.” E assim, por exemplo, tocaram “Jiraya”, música do álbum “Quebra Azul” (2012), da Baleia. 

Fica a dica para o concerto desta noite em São Paulo. Entre neste show de ouvidos atentos e abertos. Nada é como você já ouviu antes. E você vai sair querendo que a Baleia de Lupe dure para sempre.

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* Você pode conferir todas as datas da Baleia de Lupe aqui.

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