CENA – A volta do incrível Noporn, com disco novo. Quem estiver de pau duro, vem

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* Luca Lauri e Liana Padilha eram DJs de um dos mais icônicos e atmosféricos clubes paulistanos do começo dos anos 2000, o Xingu. O electroclash bombava desde a meca musical do momento, a cidade de Nova York (Strokes, LCD Soundsystem, Rapture, Radio 4, Yeah Yeah Yeahs, Liars, todos surgindo), e sua reverberação por aqui se dava num clubinho metido a espaço de arte ou em um espaço de arte metido a clubinho ali na região do baixo (bem baixo) Augusta.

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O Xingu continha o exagero fashion e era niilista ao mesmo tempo, sem deixar de ser, no final, transgressor, para os modernos, para a cena, para a cidade. E, numa de suas noites, em cima de um som saído das picapes comandadas por Luca, um excelente “curador de pista”, Liana pegou um microfone e começou a falar sobre as batidas, fazer uma espécie do que veio a ser conhecido como “projeto de poesia eletrônica”. Nascia o NoPorn.

Quando a onda do electroclash deu em outras ondas, o NoPorn, em 2006, lançou um primeiro disco, que bombou na cena clubber e deu aura de cultuado ao projeto. Eletrônico fino com letras que envolvia sexo, a noite paulistana, glamour fashion. E as tacinhas de champanhe como drink oficial dessas pistas. Produzido pelo conhecido Dudu Marote e até com Edgard Scandurra nas guitarras, em algumas faixas, o disco falou alto para as figuras desse circuito. A cena noturna começava a ter um outro referencial: o clube Vegas. E músicas como “Xingu” e principalmente “Baile das Peruas” foi trilha sonora de um momento ímpar.

Mas tudo passou.

Hoje, dez anos depois, a grande surpresa. Com um inqualificável som eletrônico muito melhor e mais elaborado de Luca Lauri e ainda tendo a voz deliciosa de Liana declamando frases e contando histórias de amor, sexo e noite de um jeito ainda mais envolvente, o NoPorn volta a mexer forte com o velho ideário clubber, mas agora também com o dance, o pop e, por que não, o indie, e lança “Boca”, o seu segundo álbum. Segundo Lauri, o disco foi gestado com um trabalho de quase um ano entre Rio (onde Liana mora) e São Paulo.

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“Boca” está cheio de participações especiais. A faixa-título, que abre o disco, tem Arthur Braganti, músico da banda indie Séculos Apaixonados, tocando teclado. A excelente “Fumaça” traz letras do fashionista e DJ Jackson Araujo e base e vocais do internacional duo brasileiro Tetine. A linda-de-morrer “Tanto” tem os teclados do músico Ian Cosky no teclado, de Curitiba. Na new wave “Leite”, quem contribui é Thiago Pethit, com letras do artista plástico e compositor Regis Fadel.

O ritmo do disco é excelente. Vai do passado ao futuro dos sons eletrônicos sem medo de experimentar, rebuscar. É Fischerspooner, mas também é Nicolas Jaar. Você lembra de Miss Kitchen, mas não deixa de sentir Black Madonna. A canção “Leite” cita PJ Harvey.

Não tem uma letra deste disco novo do NoPorn que não envolva, que não se queira saber como a história começa e como vai terminar. Algumas parecem um mantra.

Se você olhar pelo lado de que quem canta (fala) é a Liana, essa narração feminina de histórias da noite está fortemente ligada à CENA de hoje, do chamado (e às vezes banalizado) empoderamento da mulher, dialogando com outras damas fortes da cena nacional, como Ava Rocha ou a Salma Jô (Carne Doce). Se você olhar além, dialoga até com o Liniker!!

O título deste post está longe de querer quebrar essa liga, porque a frase pode ter vários significados. Assim, ó:

“Gang Bang” começa com “Cama cheia de glitter, cabeça oca, coração acelerado”. O que vai ser narrado ali é como um pós-balada levou a um sexo em grupo aparentemente sem ser combinado. Meio sem controle. Meio querendo, meio se perguntando se é isso mesmo. “Outros desejos. Um beijo, dois beijos, três beijos. Seis mãos em torno do meu corpo. Pernas, línguas diferentes. Sonhos levemente desmanchados. Espaços nunca antes ocupados, espaços novos. Gang bang. Quem estiver de pau duro, vem.”

Disco do ano?

Abaixo, ouça “Tanto”, uma das melhores dentre as várias boas do disco. Depois, um teaser do vídeo de “Boca”, que será lançado semana que vem. Na sequênia, o vídeo todo de “Maiô da Mulher Maravilha”. Por fim, altamente recomendável, ouça o álbum todo via Spotify.

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