Top 50 da CENA – Um top diferente, que destaca uma peça de teatro e uma banda chamada Vera Fischer Era Clubber. Nosso jeitinho

Semana especial. Um disco que canta junto com a CENA, o álbum trilha sonora da peça “Avenida Paulista, da Consolação ao Paraíso” fica com o nosso topo. E com uma trinca de músicas. Destacamos três canções para falar das 25 que estão no disquinho. Até porque nossa missão, vale reforçar, é divulgar e amar, não é competição este top. É formação e tá aí um disco que está no mesmo corre. Fora isso, tem APENAS uma aí do álbum novo da banda carioca Vera Fischer Era Clubber.

Não deixe escapar dos seus ouvidos um dos discos do ano por conta de algoritmos. Talvez “Avenida Paulista, da Consolação ao Paraíso” não tenha sido recomendado pelo seu streaming por não ser o nome de um artista conhecido. Mas o nome da peça de teatro de Felipe Hirsch também nomeia o “artista” autor da trilha sonora do projeto, formada por um time brilhante da cena paulistana. Vamos explicar melhor: A releitura da peça de Hirsch é calcada num conjunto de muitas músicas inéditas sobre SP, com direção de Maria Beraldo. Para salvar as canções da efemeridade diária do teatro, Maria Beraldo produziu com a banda da peça, formada por um grande elenco como Negro Leo, Thalin, Lello Bezerra, Heloísa Alvino, Fábio Sá, Julia Toledo e Gui Calzavara, uma trilha sonora para o espetáculo. Unindo compositores e atores, o álbum registra para sempre as faixas compostas por um time de peso absurdo: Alzira E, Arnaldo Antunes, DJ K, Jéssica Caitano, Juçara Marçal, Kiko Dinucci, Maria Beraldo, Thalin, Cravinhos, VCR Slim, Langelo, Pirlo, Jards Macalé, Maurício Pereira, Negro Léo, Nuno Ramos, Rodrigo Campos, Rodrigo Ogi, Romulo Fróes, Tim Bernardes e Tulipa Ruiz. Assim SP ganha mais um retratinho para chamar de seu – dos milhões de pontos de vista possíveis, esses artistas trazem mais que seu olhar atento ao que escapa. É a capacidade de tornar o incompreensível da maior cidade do país em algo para se ouvir, cantar junto e quem sabe compreender um pouquinho do que passa naqueles milhões de corações que atravessam (ou nem chegam) na Avenida Paulista. 

“Não sei se foi amor ou se foi onda de loló” deve ser a frase mais legal cunhada numa música em português hoje. Não sei se a Charli XCX seria capaz. Se o primeiro disco da banda carioca, esse “Veras I”, que saiu nesta semana, fosse lançado tipo no ano passado, duvidamos que a brit Charli não chamaria as Veras para fazer um dos remixes, tipo como fez com o Troyan Sivan, Billie Eilish e Lorde. O Cansei de Ser Sexy tem um sucessor, finalmente. Aprovados por Fausto Fawcett e Noporn. Maravilha!

“Não tem nada para ver aqui” é um título que tenta despistar, mas tem muito o que se ver na destacada estreia do quarteto paulistano Celacanto. Eduardo Barco (guitarra e sanfona), Giovanni Lenti (bateria), Matheus Costa (baixo) e Miguel Lian (voz e guitarra) entregaram uma estreia concisa, um álbum sabedor de si, conceitual, explorando a pressa do mundo. Como ficar de pé na correnteza moderna? Ainda uma banda jovem tateando seu caminho, as marcas das influências ainda mostram suas nuances, algo que eles não tentam esconder, outro mérito. “Dançado Sozinho” é Radiohead purinho e eles estão cientes da homenagem. Mas tem muito mais que Radiohead pelo disco. A faixa de abertura que leva o nome do álbum poderia ser do Squid ou de outros nomes do pós-punk atual. Para o bem ou para o mal, eles estão conectados na máquina, daí que vem o registro fiel do hoje. 

Guarde seu lado mais crítico, até porque isso é fato: as músicas do Charlie Brown Jr. guardam uma doçura. Era o jeito Chorão de ser. A agressividade no som e até na vida pessoal eram a proteção de um sonhador. O que explica até sua tristeza quando o mercado traiu a banda, como acaba traindo todos os artistas. E foi atrás dessa doçura que o trio João Gomes, Jota.pê e Mestrinho sacou uma do repertório do Charlie Brown Jr. para o seu disco “Dominguinho”, um álbum de releituras do material do trio em formato bem rústico – tudo ao vivo, ao ar livre e com poucos instrumentos. Uma resposta ao “Tardezinha” do Thiaguinho agora com sanfona, talvez. 

E, por falar em tardezinha, o clima de solzinho e ar fresco comanda mais um single do novo álbum do gaúcho Felipe Puperi, o Tagua Tagua. “Let It Go” mistura português e inglês para derramar good-vibes através de synths e um violão delícia. É botar essa no som e convidar os amigos para tomar um negocinho antes da janta.

Gilberto Gil diz que aprendeu a gostar de gostar, avançando na ideia de Warhol que a pop art é gostar das coisas. É uma ideia simples, mas viramundo total. Ainda mais quando a negação é a tônica. Josyara retoma esse “gostar de gostar” salvo em verso na deliciosa “Eu Gosto Assim”, composição de Anelis Assumpção. A releitura do som lançado por Anelis em 2014 abre com um sorriso o novo álbum de Josyara, “AVIA”. A letra até lista o que não se gosta, mas o que ressoa são as imagens boas, aqui desenhadas na voz e violão únicos de Josy: pôr do sol na praia, cerveja gelada, as crianças no quintal, mambo na vitrola, tabaco na paia, transar e dormir de conchinha, jogar conversa fora. Gostamos assim. E gostamos muito da Josyara. Aprende a gostar de gostar dela também, se já não. Te fará bem.

É bom ser surpreendido. Isso acontece em “Peito”, música de abertura de “Nenhuma Estrela”, quinto álbum de estúdio do quarteto paulistano. Ela começa climática, lembrando coisas passadas do Terno Rei. Porém, quando ela ameaça virar um rock básico, eles (re)quebram a faixa. A bateria de Luís Fernando Cardoso toma conta e dá o tom – aquele grave que estoura no peito mesmo. Ale Sater se desdobra nas vozes, incluindo falsetes, contribuindo para o novo clima oferecido. É o Terno Rei balançando os quadris (ou quase). Para fechar, tem o nostálgico sax de Gustavo Schirmer, o quinto beatle deles, dando aquele climinha de rádio adulta na madrugada. 

Aliando bem tradição com modernidade, Rachel Reis defende o amor na bela “Jorge Ben”. Uma sacada e tanto unir a defesa do sentimento com uma rica homenagem ao compositor. Jorge Ben é saudado por aqui nas sutilezas. Tem seu toque do violão referenciado e a métrica da letra de Rachel tenta emular aquele jeitão meio falado do Jorge, capaz de fazer muito texto caber em um espaço curto. Em “Divina Casca”, Rachel cumpre com sucesso a dura missão do segundo álbum após viver um fenômeno logo na estreia. “Meu Esquema”, lançado em 2022, rendeu indicação ao Grammy Latino. Além da crítica, o público adotou Rachel para si. O apelido sereiona, que ela ganhou de seu produtor, foi adotado pelos fãs e grudou. Quando um artista ganha um carinhoso assim é sucesso garantido.

“Te Esperei” é daquelas canções de moer o coração. Escrita por Pélico, que prepara álbum novo, a música fala sobre um relacionamento onde só uma parte parece interessada na outra. “Cê não soube enxergar/ Nunca vai enxergar o que eu vi”, lamenta sobre o arranjo classudo e básico, piano e violoncelo. Esse minimalismo abre espaço para as vozes bem diferentes de Pélico e CATTO se unirem. Se a letra é sobre desencontro, o encontro entre os artistas aqui é perfeito. E mesmo dolorida, a canção tem sua luz, já que a pessoa se encontra em si: “Resolvi me amar, decidi ser alguém/ Bem capaz de fazer muita gente feliz”.

2006 e a internet ainda não era o centro do mundo. Foi por ali que o gquarteto carioca Moptop se tornou uma das poucas bandas a trazer um arzinho do indie rock gringo da época para as frequências radiofônicas e televisivas brasileiras, tomadas pelo emo de gravadora. A banda, aliás, era esperta no uso da internet: foi descoberta online por lembrar muito o Strokes, tinha o site mais legal de todos e chegaram a postar um falso documentário sobre a gravação do primeiro disco, nos primórdios da ideia de viral. Em 2010, o rock acabou para eles, mas a banda resolveu retomar as atividades neste ano e vai lançar um disco de inéditas. “Last Time” (sim, teve quem lesse “Last Nite” e não deve ser por acaso a escolha deles) é o primeiro single e retoma a história de onde parou, porém em inglês – eram boas as letras em português… O show anunciado em São Paulo para junho esgotou muito rápido. Ê, saudade!

11 – Metade de Mim – “Metade” (6) 
12 – Bella e o Olmo da Bruxa – “A Melhor Música do Mundo” (7)
13 – Terno Rei – “Nenhuma Estrela” (8) 
14 – Gab Ferreira – “Carrossel” (9)
15 – Enme – “Esperando o Sinal” (com FBC) (10)
16 – Marina Sena – “Anjo” (11)
17 – Mahmundi – “Irreversível” (12)
18 – Superafim – “MOUTH” (com Duda Beat) (13)  
19 – Julia Mestre – “Vampira” (14)
20 – Jadsa – “Big Bang” (16) 
21 – Clara Bicho – “Cores da TV” (17) 
22 – Rael – “Onda (Citaçaõ A Onda) (com Mano Brown e Dom Filó) (18)
23 – Leves Passos – “Ecos do Invisível” (19) 
24 – Cajupitanga e Arthus Fochi – “Flamengo” (20)
25  – Djonga – “Demoro a Dormir” (com Milton Nascimento) (21)
26 – Jovens Ateus – “Mágoas – Dirty Mix + Slowed Reverb” (22)
27 – Danilo Moralles – “Fervo de Amor” (23)
28 – Arnaldo Antunes – “Pra Não Falar Mal” (com Ana Frango Elétrico) (25)
29 – Ogoin & Linguini – “Vícios Que Eu Gosto” (26)
30 – Bufo Borealis – “Urca” (27)
31 – Terraplana – “Todo Dia” (28)
32 – Áurea Semiseria e  Deize Tigrona – “Isqueiro” (29)
33 – Charanga do França – “Charanga Pagodão” (30)
34 – Marina Melo – “Prometeu” (com Maurício Pereira) (31)
35 – Vera Fischer Era Clubber – “Fantasmas” (32)
36 – Apeles – “Mandrião (Vida e Obra)” (33)
37 – ÀIYÉ e Juan De Vitrola – “De Nuevo Saudade” (34)
38 – Nina Becker – “Praia, Cinema e Carnaval” (35)
39 – Dadá Joãozinho – “As Coisas” (com Jadidi) (36)
40 – Getúlio Abelha – “Toda Semana” (37)
41 – Siba – “Máquina de Fazer Festa” (com Ronaldo Souza) (38)
42 – Gabriel Ventura – “Fogos” (39) 
43  – Nyron Higor – “São Só Palavras” (40)
44 – BK – “Só Quero Ver” (com Evinha) (41)
45 – Jamés Ventura – “Noites de SP” (42)
46 – Sophia Chablau e Felipe Vaqueiro – “Nova Era” (43)
47 – Heal Mura – “Wu Wei” (44)
48 – Rei Lacoste – “Sem Paz” (45)
49 – Maré Tardia – “Já Sei Bem” (50)
50 – Panteras Venenosas – “Ai Que Saudade” (47)

***
* Entre parênteses está a colocação da música na semana anterior. Ou aviso de nova entrada no Top 50.
** Na vinheta do Top 50, uma conceitual foto de divulgação da peça “Avenida Paulista, da Consolação ao Paraíso”, dirigida por Felipe Hirsch, com direção musical de Maria Beraldo.
*** Este ranking é pensado e editado por Lúcio Ribeiro Vinícius Felix.

MDE 1 – horizontal miolo página
Terreno Estranho – horizontal fixo Mark Lanegan